Mesmo após a realização de exames audiológicos, pacientes costumam demorar, em média, 7 anos para procurar ajuda especializada, segundo a Associação Brasileira de Otorrinolaringologia
Um problema invisível, de difícil percepção aos
pacientes e que atinge um contingente cada vez maior da população global. De
acordo com a ONU, atualmente, há cerca de 470 milhões de pessoas com algum tipo
de deficiência auditiva. E, até 2050, a projeção é que esse número chegue a 900
milhões.
Um dado preocupante, que, segundo a Organização
Mundial de Saúde (OMS), resulta, sobretudo, de "percepções errôneas,
profundamente arraigadas da sociedade, e mentalidades estigmatizantes que
limitam os esforços para prevenir e abordar a perda auditiva". Ou seja, é
preciso mais conscientização para evitar essa “epidemia de casos” que se
projeta para as próximas décadas.
Por essa razão é que, anualmente, todo dia 3 de
março a entidade global se mobiliza em torno do Dia Mundial da Audição. Nesta
edição de 2024, o tema central será a importância da manutenção da audição ao
longo da vida. A partir do lema “Para ouvir por muito tempo, ouça com cuidado”, a
OMS pretende chamar a atenção da sociedade para entendimentos equivocados que
comprometem a adoção de protocolos mais efetivos de combate e prevenção aos
problemas auditivos.
Dentre as principais recomendações, estão o uso de
protetores sonoros em shows e no trabalho e a realização de avaliações anuais
com profissionais da área de Otorrinolaringologia e Fonoaudiologia.
De acordo com a mestre em distúrbio da comunicação
e linguagem, especializada em cuidados integrativos e em reabilitação auditiva,
Christiane Nicodemo, fonoaudióloga do Hospital Paulista, as pessoas, em geral,
desconhecem os fatores que estão associados à perda auditiva e também não têm o
hábito de fazer exames regulares.
Diabetes, hipertensão, obesidade e tabagismo,
segundo ela, são os principais indicativos que servem de alerta, pois aceleram
esse processo. "O paciente, em geral, não percebe essa perda. E as pessoas
próximas, por sua vez, costumam demorar para fazer essa associação e procurar
auxílio profissional", observa.
Mesmo após a realização dos exames audiológicos, a
especialista afirma que as pessoas, em média, ainda demoram 7 anos para
procurar ajuda especializada. "Esse dado é da Associação Brasileira de
Otorrinolaringologia e mostra o quão é tardia a percepção da importância do
tratamento por parte dos pacientes e das famílias. É essencial que a busca do
diagnóstico seja feita tão logo observados os primeiros sintomas. E, no caso
das pessoas que já têm pré-disposição, a recomendação é que façam exames
periódicos”, enfatiza.
Audiometria
A especialista destaca que o exame mais recomendado
para fazer o diagnóstico e acompanhamento desse tipo de paciente é a
audiometria - um procedimento de custo baixo, totalmente indolor e não
invasivo, que dura cerca de 20 minutos. O exame é feito em uma cabine acústica
à qual o paciente, a partir de um fone de ouvido com microfone acoplado,
responde a perguntas por meio de sinais e gestos. As informações são dispostas
em um audiograma, que é um gráfico que contém as respostas do paciente aos sons
emitidos. A partir da avaliação de um otorrinolaringologista, é feito o
encaminhamento ao tipo de tratamento mais adequado a cada paciente.
"Se houver perda auditiva, pode ser necessário
o uso de aparelho auditivo para auxiliar na escuta. Esse tipo de aparelho
amplia o reconhecimento sonoro e ajuda na comunicação", explica a fono do
Hospital Paulista.
A maior preocupação, segundo ela, é com a
predisposição ao desenvolvimento de demência precoce, provocada justamente por
essa falta de estímulos auditivos. "Há vários estudos que relacionam essa
combinação por conta do isolamento que a surdez provoca. Isso reforça a
necessidade de a audiometria fazer parte dos exames de rotina de pessoas
idosas", pontua.
Na mesma linha, o otorrinolaringologista Dr. José
Roberto Gurgel Testa, também do Hospital Paulista, lembra que a falta de
prevenção causa prejuízos à sociedade e também à economia mundial.
“A OMS estima que a perda auditiva não tratada
representa um custo anual de US$ 980 mil milhões por ano. Este é o custo
estimado do impacto da perda auditiva sem acesso à reabilitação, incluindo
perdas de produtividade e exclusão social”, enfatiza.
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