Afinal, o que é ser inteligente? Quais são os
diferentes tipos, como aplicar melhor cada uma das inteligências, o que pode
atrapalhar e o que pode tonificar o cérebro humano? Neurocirurgião ensina.
Para
o médico neurocirurgião, neurocientista e professor livre docente da Faculdade
de Medicina da USP, Dr. Fernando Gomes, o conceito de inteligência se refere a
capacidade mental de aprender, raciocinar, resolver problemas, compreender
ideias complexas, adaptar-se a novas situações e interagir de maneira eficaz
com o ambiente em que cada um está inserido. “A inteligência humana é
multifacetada e pode ser analisada de várias maneiras, subdivida por tipos, os
quais são mais aflorados em uma pessoa do que em outra e é bem particular de
cada pessoa”, diz.
Entre
os diversos tipos de inteligência, uma das teorias mais conhecidas é a teoria
das inteligências múltiplas, desenvolvida pelo psicólogo Howard Gardner.
Segundo essa teoria, existem diferentes tipos de inteligência, sendo elas:
Tipo 1. Inteligência Lógica/Matemática
Este
tipo de inteligência confere ao indivíduo a capacidade de confrontar e avaliar
objetos e abstrações, discernindo as suas relações e princípios. Trata-se da
habilidade para raciocínio dedutivo e para solucionar e lidar com números.
Matemáticos, estatísticos, cientistas e filósofos possuem esta característica
de forma exacerbada. Um excelente exemplo de ser humano dotado deste tipo de
inteligência privilegiada foi Albert
Einstein, que desenvolveu a teoria da relatividade, sendo inclusive
agraciado com o prêmio Nobel.
Tipo 2. Inteligência Linguística
Caracteriza-se
por um domínio e gosto especial pelos idiomas, dialetos e palavras e por um
desejo em explorá-los. É predominante em poetas, escritores e linguistas. Em nosso meio, podemos enumerar
nomes como Carlos Drumond de Andrade, Monteiro Lobato entre tantos outros.
Tipo 3. Inteligência Musical
Confere habilidade para compor e executar padrões musicais, em termos de ritmo e timbre, mas também escutar e
discerni-los. Pode estar associada a outras inteligências, como a linguística,
espacial ou corporal-cinestésica. É predominante em compositores, maestros,
músicos, críticos de música como Beethoven, Mozart, Hermeto Pascoal.
Tipo 4. Inteligência Espacial
Trata-se da capacidade de compreender o mundo visual com precisão,
permitindo transformar, modificar percepções, recriar experiências visuais ou
até mesmo sem estímulos físicos. É predominante em arquitetos, artistas, escultores, cartógrafos, navegadores e jogadores de xadrez, como por exemplo, Michelangelo, Antoni Gaudí e Oscar Niemeyer.
Tipo 5. Inteligência Corporal-cinestésica
Expressa-se pela capacidade de controlar e orquestrar movimentos
do corpo. É predominante entre atores e aqueles que praticam a dança e esportes. Alguns nomes se destacam como Neymar e Michael Jackson.
Tipo 6. Inteligência Intrapessoal
Caracteriza-se pela capacidade de se conhecer e ser mais
desenvolvida em escritores, psicoterapeutas e conselheiros, como por exemplo, Sigmund
Freud.
Tipo 7. Inteligência Interpessoal
É a habilidade de entender as intenções, motivações e desejos dos
outros. Encontra-se mais desenvolvida em políticos, religiosos e professores, como Nelson Mandela e Gandhi.
Tipo 8. Inteligência Naturalista
É caracterizada pela sensibilidade para compreender e organizar os
objetos, fenômenos e padrões da natureza, como reconhecer e classificar
plantas, animais, minerais e seus componentes. É característica comum de
biólogos, geólogos e arqueólogos. Charles
Darwin é exemplo desse tipo de inteligência.
Tipo 9. Inteligência Existencial
Abrange a capacidade de refletir e ponderar sobre questões
fundamentais da existência. É característica de líderes espirituais e de
pensadores filosóficos como, por exemplo, Chico Xavier.
Como medir a inteligência?
Para saber então como medir a inteligência, Dr. Fernando explica
que os Testes de QI (Quociente de Inteligência) são um dos métodos mais
conhecidos já que envolvem uma série de perguntas ou tarefas que irão avaliar
algumas habilidades cognitivas como raciocínio lógico, resolução de problemas,
habilidades matemáticas e verbais. O resultado é um número que representa a
pontuação de QI, sendo:
Acima de 130: superdotação
De 120 a 129: inteligência superior
De 110 a 119: inteligência acima da média
De 90 a 109: inteligência média
“Há ainda testes de aptidão específica que servem para medir
habilidades em áreas particulares, como matemática, linguagem, ciências, etc.,
ou entrevistas e observação comportamental das situações do dia a dia. São
avaliações feitas por especialistas em neuropsicologia e neurociência que irão
medir habilidades interpessoais, habilidades sociais, autocontrole emocional e
realizarão exames neuropsicológicos para avaliar o funcionamento cognitivo,
identificando áreas específicas do cérebro associadas a diferentes habilidades.
Assim, fica mais fácil uma pessoa usar as inteligências que estão mais
abundantes a seu favor ao invés de ‘quebrar a cabeça’ tentando melhorar aquelas
que podem não ser a expertise”, ensina.
O que pode comprometer a inteligência?
O médico afirma que existem fatores que podem comprometer a
inteligência, seja ela qual for a mais abundante em cada pessoa. Isso inclui
fatores genéticos que são determinantes das capacidades cognitivas de uma
pessoa, ou o ambiente familiar e a educação o qual uma pessoa está inserida, o
que uma pessoa come, se está exposta a toxinas e substâncias nocivas, como
chumbo, mercúrio, álcool e drogas ilícitas, por exemplo, que podem prejudicar o
desenvolvimento do cérebro, se há exposição a
traumas e situações de estresse, ou ainda, problemas de saúde mental como
transtornos mentais, como depressão, ansiedade, transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade (TDAH) e outros, podem impactar a função cognitiva e,
por consequência, a inteligência.
Como ser mais inteligente?
Se
de um lado há fatores que comprometem a inteligência, há outros que podem ser
trabalhados para melhorar a cognição de um modo geral. “Os exercícios físicos
praticados de maneira regular ajudam a aumentar o fluxo sanguíneo para o
cérebro, promovem o crescimento de novas células cerebrais e melhoram a
plasticidade cerebral. Se estiverem aliados ainda a uma dieta balanceada, rica
em antioxidantes, ácidos graxos ômega-3, vitaminas e minerais ajudam ainda mais
a promover o estímulo mental que ainda pode ser potencializado por pequenos
desafios cerebrais como jogos de quebra-cabeças, de estratégia, aprendizado de
novas habilidades ou a prática de instrumentos musicais”, afirma o médico que
ainda alerta para a qualidade do sono como algo crucial para a consolidação da
memória e para o funcionamento cognitivo.
“No
mais, ainda é importante gerenciar o estresse através de boas práticas como
meditação, ioga e técnicas de relaxamento e ainda cultivar o aprendizado
contínuo com novas experiências, leituras, cursos e desafios intelectuais além
de manter a interação social com outras pessoas que pode ajudar a enriquecer o
pensamento e promover a criatividade”, ensina.
Para Dr. Fernando, fica impossível falar de inteligência no mundo atual sem citar a inteligência artificial, que é a capacidade de sistemas, como computadores, aprenderem e realizarem tarefas cognitivas que normalmente seriam executadas pela inteligência humana. “A inteligência artificial criou as redes neurais artificiais que são inspiradas na estrutura do cérebro humano e – de modo artificial – realizam tarefas complexas como traduções e criação de textos automáticos, reconhecem face, tomam decisões, automatizam carros, recomendam conteúdos e fazem até diagnósticos médicos, tudo apenas com base nas informações disponíveis na internet”, explica o especialista que alerta para o grande desfaio da tecnologia: “Apesar dos avanços notáveis, enquanto a IA ainda é incapaz de interpretar com clareza as emoções, somente o cérebro humano compreende a fundo a melhor maneira de ser mais inteligente de verdade, afinal até por trás da inteligência artificial precisa existir um cérebro real”, finaliza.
Dr. Fernando Gomes - Professor Livre Docente de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas de SP com mais de 2 milhões de seguidores. Há 12 anos atua como comunicador, já tendo passado pela TV Globo por seis anos como consultor fixo do programa Encontro com Fátima Bernardes (2013 a 2019), por um ano (2020) na TV Band no programa Aqui na Band como apresentador do quadro de saúde “E Agora Doutor?” e dois anos (2020 a 2022) como Corresponde Médico da TV CNN Brasil. Atualmente comanda seu programa Olho Clínico com Dr. Fernando Gomes semanalmente no Youtube desde 2020. É também autor de 9 livros de neurocirurgia e comportamento humano. Professor Livre Docente de Neurocirurgia, com residência médica em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é neurocirurgião em hospitais renomados e também coordena um ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.
drfernandoneuro
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