Psiquiatra do CEJAM destaca alguns dos motivos que costumam causar angústia entre os brasileiros durante as festividades de Natal e Ano Novo
A época de Natal e Ano Novo, na maioria das vezes,
está associada a sentimentos de alegria, entusiasmo e confraternização no
imaginário coletivo. A chegada dessas datas carrega diferentes simbolismos e
tradições tanto para crianças como para adultos. Há até quem acredite que
literalmente exista o "espírito natalino", que torna as pessoas mais
generosas, solidárias e gratas no final do ano.
Em contrapartida, também existem pessoas que passam
por experiências bem diferentes nesse período, como tristeza, ansiedade, medo e
frustração. Tudo isso pode ser resultado de diversas razões, sendo uma delas a
perda.
"Normalmente, essas datas estão atreladas a
memórias em que, para muitos, remetiam a uma época em que tudo parecia
perfeito, mágico, especial ou interminável. Assim, ao longo do tempo, especialmente
na vida adulta, essas recordações provocam uma sensação antagônica: alegria
pelas experiências vividas, mas também tristeza por não existirem mais",
afirma o Dr. Rodrigo Lancelote Alberto, especialista em psiquiatria e diretor
técnico do Centro de Atenção Integrada à Saúde Mental (CAISM) de Franco da
Rocha e do Hospital Estadual de Franco da Rocha, gerenciados pelo CEJAM -
Centro de Estudos e Pesquisas "Dr. João Amorim" em parceria com a
Secretaria Estadual da Saúde de São Paulo.
Isso ocorre porque, ao longo dos anos, muitos
precisam lidar com a ausência de entes queridos, seja por distanciamento
decorrente de algum assunto mal resolvido ou pelo óbito. E, justamente nessas
celebrações, tudo passa a ficar mais evidente a partir da falta. Esses mesmos
sentimentos podem ocorrer em outras datas consideradas especiais, como
aniversários, por exemplo.
“Não é incomum que as pessoas tenham um sentimento
de solidão forte nessas datas e, por vezes, se isolem em uma época marcada
tradicionalmente pelo entusiasmo e euforia”, explica o médico.
Há também quem vivencie frustrações decorrentes de
altas expectativas para o momento, que é um dos mais esperados do ano. Seja
pelos ambientes, pelos presentes ou pelas pessoas, muitas vezes as festas podem
tomar um rumo totalmente diferente do esperado. Brigas, desentendimentos e
atitudes egoístas podem ser algumas das razões para que o período siga um
caminho distinto do idealizado.
Eventuais problemas financeiros ainda podem aguçar
toda essa sensação de melancolia e ansiedade, já que é um período propício para
o consumo de diferentes áreas. E o fato de o dinheiro ser um recurso limitado
para muitas pessoas, infelizmente, pode gerar preocupações adicionais.
Então é Natal, e o que você
fez?
O encerramento do ano marca o fim de um ciclo,
propiciando reflexões sobre os objetivos alcançados e aqueles que não foram.
Essa oportunidade, embora potencialmente poderosa para impulsionar o progresso
no futuro, pode também se tornar algo angustiante para muitos, desencadeando
crises de ansiedade decorrentes das comparações com familiares e amigos.
Os famosos votos estabelecidos no início do ano,
como ir à academia com frequência, praticar exercícios físicos, fazer um novo
curso, economizar dinheiro, arrumar um novo emprego, começar um relacionamento
amoroso, aprender uma nova habilidade e viajar mais, são apenas alguns dos
itens da tradicional lista de desejos.
"Essas aspirações refletem o desejo comum de
crescimento pessoal, bem-estar e realização, e todos nós temos isso. No
entanto, a realidade, muitas vezes, se revela desafiadora e, ao longo do ano,
as demandas cotidianas podem interferir nessas resoluções. Logo, as metas, que
deveriam ajudar na evolução, passam a pressionar muitas pessoas", ressalta
Dr. Rodrigo.
O psiquiatra destaca que tudo isso pode gerar um
ciclo de expectativas elevadas e, por vezes, desilusões e autocrítica, que
podem ficar ainda mais fortes com a chegada do final do ano.
De fato, há uma infinidade de razões que podem
entristecer o coração das pessoas. Por isso, é essencial reconhecer a
existência de uma diversidade de experiências entre cada indivíduo, para,
assim, promover uma abordagem mais compassiva.
Segundo o especialista, o
conselho para tornar as festividades mais leves é um só: "Essa época demanda
tolerância e compreensão em relação às pessoas que nos rodeiam, uma vez que
cada indivíduo pode estar presente fisicamente, mas vivenciando uma gama de
emoções complexas. Essa, sem dúvida, é uma oportunidade de sermos gentis
conosco e com o próximo. No geral, são momentos de reflexão e, de certa forma,
podem ajudar no aprofundamento de si. Apesar de tudo, pode ser uma oportunidade
de renovação e autoconhecimento", finaliza.
CEJAM - Centro de Estudos e Pesquisas “Dr. João Amorim”
@cejamoficial
cejam.org.br/noticias
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