Afinidades políticas, Meio Ambiente e Algoritmos redefinem o comportamento, o Comércio Internacional, o futuro. Agendas pontuais não respondem a desafios sistêmicos. A Natureza e o clima são sistemas. Exigem visão de Desenvolvimento Civilizatório e Sustentável que envolva todo o processo produtivo – pequenos, médios e grandes atores; empresas, pessoas. Planeta... Seremos “Senhores do Nosso Destino?” Teatro da guerra: a Educação e a Cultura. Arma: visão estratégica. Esperança de Paz: a conexão entre conhecimento e valores apontando uma saída para essa encruzilhada da História.
Contudo, ainda triunfa a visão institucional de curto prazo, apoiando ações
políticas fragmentadas e excludentes. Ao mesmo tempo, mais de 50% das
tecnologias sustentáveis já produzidas pela Ciência Tropical brasileira jamais
conseguiram chegar aos usuários finais. Democratizar conhecimentos já
disponíveis é o principal agente de transformação e de organização de cadeias
produtivas sustentáveis, geradoras de Renda, Emprego e qualidade de vida.
Nada Será Como Antes...
Países maduros
dialogam com as novas realidades compondo estratégias fundadas em Ciência,
mediadas pela Política, pela integração orquestrada entre o Público e o
Privado. O Brasil pode dobrar a produção de alimentos sem derrubar uma única
árvore, pode liderar o uso responsável da Água e das Energias Renováveis, mas
disputa protagonismo setorial, ou individual, história com final conhecido: se
for só Ciência, não aterrissa, não transforma; só social, não acontece, é
irreal; só o negócio de alguns, a sociedade não aceita; só informação, não é
Comunicação, não é diálogo, é Marketing.
Numa leitura livre da frase famosa do antropólogo Levi Strauss, o Brasil corre
sério risco de chegar à sociedade híperconectada sem ter passado pela
civilização. E talvez sem que os atores dos poderes político e econômico
percebam que não têm mais o controle total do timão.
O Mundo do
Comércio Convencional Não Existe Mais
No final de setembro, em Dijon, na França, o Vice-Diretor Geral da Organização Mundial do Comércio (OMC), Jean-Marie Paugam, exibiu as tendências-chave do comércio internacional: geopolítica, clima e sustentabilidade, regulamentação da qualidade. As trocas globais serão impactadas por duas variáveis: o meio ambiente e a afinidade -ou hostilidade - política.
Mais incertezas no
radar do Brasil, cujo desenvolvimento econômico é indissociável do desempenho
do setor agroalimentar: o País mora no Ocidente, precisa da confiança dos
vizinhos de CEP (o acordo Mercosul é apenas um exemplo);e, ao mesmo tempo, é
chino-dependente – Beijing comprou 41,4% das exportações do Agro, em março.
Incertezas impactam empresas, investimentos, geração de empregos. Podemos transformar crise em oportunidade? Seremos espectadores do colapso ou líderes globais do mercado agroindustrial alimentar global, que gira algo como US$13,5 trilhões por ano -ou, perto de três vezes o valor do setor fóssil?
São muitas as
complexidades e interesses, mas espaço para a convergência de propósitos
existe. Situa-se no universo da Cultura, local onde o jogo é realmente jogado.
Novos Paradigmas: Cultura, o Ambiente do Diálogo Global
A necessidade de
construirmos sociedades mais justas, equânimes e colaborativas nos tempos
presente e futuros é consensual. Parece indiscutível também que a constituição
de futuros implica na formação de gerações que considerem a preservação da vida
em seus diversos projetos, o que remete à reflexão sobre o desenvolvimento
sustentável.
Investir em Ciência e Tecnologia é importante, mas também é crucial mudar atitudes; unir informação a modos de concepção de um mundo no qual as pessoas se sintam respeitadas em seus direitos e responsáveis pelos deveres em relação a si e ao outro.
Hoje, tomar decisões obriga compreender contextos, os hábitos pessoais e coletivos que constituem o caldo cultural. A informação é apenas um dos elementos que levam as pessoas a agir e a se posicionar.
Nesse sentido, a educação para o desenvolvimento sustentável (EDS) deve contribuir para o fomento dessa consciência, para estabelecer estreita relação entre conhecimento e valores. Uma sociedade inclusiva exige investir em cenários futuros; em processos formativos, informativos e tecnológicos.
No Brasil, a
promoção do conhecimento na educação básica ainda não responde às demandas da
sociedade e aos anseios dos jovens. Se a Constituição prescreve que o objetivo
da educação é formar plenamente a pessoa, prepará-la para o exercício da
cidadania e para o trabalho, o currículo de todas as áreas do conhecimento
deve, de fato, mirar o conteúdo técnico, estético e ético. Todos os campos do
conhecimento precisam ser abordados por meio de valores que visem o coletivo,
para que as novas gerações compreendam a função do desenvolvimento científico,
a sua aplicação social.
Os Novos Donos do Poder
Cresce de maneira assustadora a transferência de poder para sistemas baseados em algoritmos. Os governantes de direito não percebem, mas na prática perdem o poder efetivo de controle sobre os fatos, de converter políticas públicas e privadas nas realidades que anseiam. O sistema de tomada de decisão é cada vez mais baseado em grandes massas de dados. Com isto, muitas vontades são e serão contrariadas.
Predomina a
tendência de preferirmos abrir mão da liberdade individual em favor de
segurança, conforto, conveniência e simplificação. Já está acontecendo na
África, onde nas grandes negociações de Telecom a China compra o direito de uso
dos dados, desde o reconhecimento facial ao comportamento de consumidores. Em
troca, promete melhorar a segurança, a identificação de criminosos, baixar os
índices de criminalidade. Conforto e segurança em troca da liberdade é um
“trade-off” muito perigoso: mitiga problemas graves e imediatos do cotidiano,
mas no longo prazo inclui a concessão de poderes que nem mesmo estão situados
sob o controle de Nações.
Fragmentar a informação e ação inibe que a sociedade se perceba como coletivo. E gera o ambiente que empodera entidades sem compromisso com o bem comum e a democracia.
Fernando Barros - jornalista e Gerente Executivo do Instituto Fórum do Futuro
Mário Salimon - consultor internacional especializado em gestão da estratégia e mudança organizacional.Márcia Azevedo - pesquisadora e colaboradora na Universidade Estadual de Campinas – Unicamp. Membro da Cátedra de Educação Básica Alfredo Bosi do Instituto de Estudos Avançados da Universidade de São Paulo (USP) e Coordenadora Pedagógica no Colégio Espírito Santo (SP).
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