Pouca exposição à luz natural e muito tempo de tela influenciam no desenvolvimento dessa condição visual. Número de pessoas com miopia na América Latina pode ultrapassar 50% em 2050
Um aumento de diagnósticos de miopia, especialmente entre crianças e adolescentes, vem sendo observado por especialistas da área e acende um sinal vermelho. Antes entendida como uma condição exclusivamente genética, cientistas vêm atualmente apontando fatores externos, tais como a redução do tempo de exposição à luz natural e o aumento da exposição a telas, que podem sim contribuir para o desenvolvimento da miopia.
"A miopia ocorre quando o globo ocular é muito comprido ou a córnea é muito curva. Com isso, os raios de luz acabam se focalizando antes da retina, criando imagens embaçadas quando vistas de longe. Por muito tempo a única causa era mesmo a hereditariedade, mas a prevalência de miopia na população infantojuvenil está aumentando no mundo todo, o que aponta para evidências de que há uma estreita relação com o estilo de vida moderno, urbano e muito tecnológico. É um fenômeno social também", comenta a oftalmopediatra, dra. Célia Nakanami, consultora das lentes Essilor Stellest®.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 8% das
crianças com até 10 anos apresentam o diagnóstico. Até os 15 anos de idade,
esse número aumenta para 15%. A crise da Covid-19, que levou ao isolamento
social e confinamento dentro de ambientes fechados, contribuiu de forma
significativa, e tais reflexos já aparecem em números: de 2020 até 2022, só a
cidade de São Paulo registrou aumento de 134% nos casos de miopia entre
crianças e adolescentes.
Como a miopia se desenvolve?
"Em uma visão normal, os raios de luz passam pela córnea e são focalizados no plano da retina para formar uma imagem nítida. Já no caso dos míopes, que apresentam o olho mais alongado e/ou a córnea mais curva, a luz é focalizada à frente da retina, gerando uma visão de longe desfocada, mas uma visão de perto nítida, a depender do grau de miopia", explica dra. Célia.
A miopia tende a avançar por um certo tempo até se estabilizar no
início da idade adulta, na maioria dos casos. Isso significa que uma pessoa
diagnosticada com miopia precisa consultar seu oftalmologista com frequência,
pois ela tende a progredir, principalmente na infância. A principal forma de
corrigir essa condição visual é com o uso de óculos, que hoje apostam em novas
tecnologias para não apenas corrigir, mas também controlar a progressão da
miopia.
Aumento de casos é considerado tendência mundial
Nas últimas décadas, o aumento de casos tem sido observado em todo
o planeta. Só na América Latina, o percentual de míopes aumentou de 15% em 2000
para 32% em 2020, e espera-se que chegue a 53% em 2050. Até 2050, segundo a
OMS, aproximadamente 50% do mundo será afetado. No Brasil, esse número já chega
a quase 60 milhões, cerca de 25% da população.
"É estimado que 80% das crianças nunca realizaram uma
avaliação visual, e isso é um fator bastante sério, visto que se recomenda a
primeira consulta entre 6 meses e 1 ano de vida (pelas diretrizes da SBOP). E,
quando falamos em miopia, quanto antes o diagnóstico acontecer, maiores são as
chances de um tratamento de qualidade, além de proporcionar uma qualidade de
vida melhor às crianças – principalmente em idade escolar", comenta.
Tecnologia reduz progressão em mais de 60%
Uma das tecnologias mais avançadas é a H.A.L.T., que utiliza 1.021
microlentes invisíveis que geram um volume de luz desfocada em frente à retina
periférica, o que desacelera o alongamento dos olhos e controla a progressão da
miopia, enquanto a visão central se mantém nítida. "Essa lente é uma
importante inovação, pois apresenta um duplo efeito desejável para tratamento
da miopia em crianças e adolescentes: corrige a miopia garantindo uma visão
nítida e também controla a sua progressão ao criar um estímulo ótico para que o
olho não se alongue. Resumidamente, esse conjunto de microlentes funciona como
um escudo na frente da retina, desacelerando a progressão da miopia",
comenta dr. Renan Oliveira, oftalmologista consultor da EssilorLuxottica no
Brasil, companhia que detém a marca Essilor Stellest, que desenvolveu a
tecnologia e a aplica em suas lentes.
Segundo um importante estudo publicado na revista JAMA
Ophthalmology, a inovação desacelera a progressão da miopia em 67%, em média,
quando comparada com as lentes convencionais, se usadas 12 horas por dia ou
mais, todos os dias.
"É um avanço importante no combate à miopia, cuja progressão
deve ser controlada, uma vez que altos graus de miopia estão associados a um
risco maior de doenças graves que podem levar a deficiência visual em idade
adulta mais tardia, tais como degeneração macular, descolamento de retina,
glaucoma e catarata. Então, ter uma lente que diminua essa progressão traz mais
qualidade de vida e segurança para as crianças com miopia e mais tranquilidade
para os pais. É importante ressaltar ainda que o check up anual com o
oftalmologista é indispensável para a saúde dos olhos, pois nem sempre as
crianças podem demonstrar que há algo errado com a visão. Na consulta completa,
conseguimos realizar o diagnóstico adequado e iniciar o quanto antes o
tratamento", finaliza a médica.
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