Coordenador científico da Oncologia D’Or, Daniel Herchenhorn, explica que a idade avançada e alterações genéticas hereditárias aumentam o risco da enfermidade, que hoje pode ser tratada por um amplo arsenal terapêutico.
O câncer de próstata é o segundo tipo de tumor mais comum nos
homens, ficando atrás apenas do câncer de pele não melanoma. Segundo o
Instituto Nacional do Câncer (INCA)1, 74 mil casos da doença serão
diagnosticados este ano, em especial em pessoas com 50 anos ou mais. Quanto
mais velho for o indivíduo, maior será o risco de apresentar este tipo de
câncer, mesmo de forma assintomática. Mas a doença tem uma importante base genética. Pessoas com
histórico familiar de câncer, principalmente parentes de primeiro grau, têm
maior propensão à enfermidade. Entre 5% a 10% dos casos desses tumores têm origem hereditária, muito em
função de alterações no gene BRCA, o mesmo dos cânceres de mama e de ovário.
Homens negros e indivíduos obesos também constituem os grupos de risco.
A maioria dos tumores na próstata cresce de forma
lenta. Apenas uma minoria se desenvolve de maneira acelerada, às vezes, até em
homens com menos de 50 anos. “Durante
a progressão da doença vão-se acumulando alterações genéticas que lembram as
mutações hereditárias”, afirma o
médico Daniel Herchenhorn, coordenador
científico da Oncologia D’Or, professor de Oncologia na University of
California San Diego e doutor em Oncologia pela Universidade de São Paulo
(USP).
Neste contexto, a testagem genética vem assumindo cada vez mais um papel de destaque tanto para a descoberta de fatores hereditários como para o tratamento do tumor. Como o câncer de próstata é uma doença heterogênea, o exame detecta o biomarcador, possibilitando a realização de tratamentos personalizados e eficazes.
Quando identificado em sua fase inicial, o tumor tem 90% chances de cura.
Prevenção e diagnóstico precoce
A próstata1 é uma
glândula que produz parte do sêmen. Ela se localiza na frente do reto, abaixo
da bexiga, envolvendo a parte superior da uretra. Na fase inicial, o tumor cresce sem sintomas. Os sinais
que aparecem se confundem com aqueles causados pelo aumento da próstata
decorrente da idade, como dificuldade ou urgência para urinar. Em muitos casos,
quando surgem os sintomas, o câncer está em estágio avançado, com pouca ou
nenhuma possibilidade de cura. No mundo2, cerca de 20% dos casos
ainda são diagnosticados na fase avançada.
Se identificado de forma precoce, o câncer de próstata permite até 90% de cura. Por isso, os especialistas recomendam aos homens, a partir dos 50 anos, fazer uma consulta anual ao urologista, com o exame de toque retal e dosagem sanguínea do PSA, sigla em inglês para Antígeno Prostático Específico. Os integrantes dos grupos de risco devem começar o acompanhamento antes dos 50 anos.
De acordo com o coordenador científico da Oncologia D’Or, Daniel Herchenhorn, especialistas de todo mundo discutem qual a idade limite para a prevenção. “Acima dos 75 anos podemos acabar diagnosticando câncer de próstata em boa parte dos homens e nem sempre há necessidade de tratamento, dada a lentidão de crescimento de muitos tumores”, observa.
Manejo do paciente
Uma vez identificadas alterações nos exames, o médico pode
prescrever a ressonância multiparamétrica da próstata, um exame extremamente
sensível capaz de identificar lesões minúsculas. Quando necessário, realiza-se
em seguida uma biópsia de fusão nas lesões suspeitas mostradas na ressonância
magnética.
Idealmente, pacientes devem ser manejados por equipes
multi-disciplinares, que tenham uro-oncologistas, urologistas,
rádio-oncologistas especializados, para a melhor tomada de decisões. Essa
equipe é importante porque o manejo do paciente deve ser definido a partir de
uma série de fatores: se a doença está confinada à próstata e órgãos adjacentes
ou se espalhou pelo organismo e se o tumor apresenta risco alto, moderado ou
baixo.
O coordenador científico da Oncologia D’Or explica que muitos
pacientes, principalmente com tumores de baixo risco, podem ser manejados sem a
necessidade de um tratamento imediato. “É o que chamamos de vigilância ativa. O
paciente é diagnosticado e acompanhado cuidadosamente por uma equipe
multidisciplinar”, esclarece.
A edição de abril da revista científica norte-americana New
England Journal of Medicine trouxe um estudo3 da Universidade de
Oxford, na Inglaterra, resultante do acompanhamento por 15 anos de 1.610 homens
diagnosticados com câncer de próstata. Eles foram divididos em três grupos: 545
foram monitorados, 553 submetidos à prostatectomia e 545 receberam
radioterapia. Ao final do estudo, 4,5% morreram por câncer de próstata e 21,7%
por outras causas. No grupo de monitoramento ativo, 24,4% estavam vivos sem
qualquer tratamento para câncer de próstata no final do acompanhamento.
Tratamento
Nos últimos anos, o arsenal terapêutico para o
câncer de próstata cresceu muito, tornando-se menos tóxico e mais individualizado. Os tratamentos
localizados são recomendados para o estágio inicial da doença, quando ela ainda
se encontra na próstata e, no máximo, nos linfonodos adjacentes. Já os
tratamentos sistêmicos são indicados para os estágios avançados, quando há
metástase, ou associados a radioterapia.
No âmbito dos tratamentos localizados estão a radioterapia e a
cirurgia. Ambas passaram por grande evolução, graças a tecnologia que permite
realizar radioterapia em menor tempo e com mais precisão, além de cirurgias
robóticas, em que o paciente permanece menos de 48 horas internado e com
pós-operatório muito mais tranquilo.
Para
pacientes com câncer de próstata metastático, o tratamento mais recente é o
PSMA-Lutécio 177. O lutécio é uma substância radioativa que, assim como um
míssil teleguiado, é levado às células com PSMA, uma molécula que apresenta a
expressão aumentada na superfície das células cancerígenas. A substância
radioativa danifica o DNA da célula e provoca sua morte. O tratamento demanda
quatro a seis aplicações, sendo que a quimioterapia são no mínimo seis
aplicações. Por ser direcionado às células cancerígenas, é melhor tolerado que
a quimioterapia.
Oncologia D'Or
Referências
Estimativa 2023 : incidência de câncer no Brasil / Instituto Nacional de Câncer. Rio de Janeiro. INCA, 2022.
Armstrong AJ et al. M. Prediction of survival following first-line chemotherapy in men with castration-resistant metastatic prostate cancer. Clin Cancer Res. 2010;16(1):203-11
Fifteen-Year Outcomes after Monitoring, Surgery, or Radiotherapy for Prostate. Freddie C. Hamdy. Cancer N Engl J Med 2023; 388:1547-1558.
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