terça-feira, 3 de outubro de 2023

Etecs e Fatecs comemoram Dia da Abelha com projetos de preservação

Foto: Racool_studio/Freepik
Além de produzir o mel, as abelhas polinizam as plantações, garantindo boa parte do alimento que consumimos

 

No dia 3 de outubro, quando se comemora o Dia da Abelha, algumas Escolas Técnicas (Etecs) e Faculdades de Tecnologia (Fatecs) do Estado, mesmo sem promover eventos para comemorar a data, estão debruçadas sobre uma série de pesquisas, construindo Meliponários (conjunto de colmeias de abelhas sem ferrão, também conhecidas como indígenas ou nativas) e se empenhando em conscientizar a população sobre a importância desses insetos, responsáveis pela maior parte dos alimentos que temos à mesa.

Na Etec Sebastiana Augusta de Moraes, de Andradina, o Meliponário foi implantado em 2018 pelo professor Leandro Komuro com uma equipe de docentes. Para conscientização da data, os alunos do curso de Agronegócio terão a tarefa de transferir uma colmeia para uma caixa de madeira Inpa, um modelo criado para acomodar o enxame de modo a otimizar a produção de mel. A caixa foi feita pelos próprios estudantes, sob a orientação de Komuro. Alunos das escolas públicas da região são frequentemente convidados a conhecer o Meliponário e as abelhas Jataí – o tipo presente em maior número na escola, entre os cerca de 300 presentes em território brasileiro.


Atividade lucrativa

Engana-se quem acredita que essa atividade tem cunho exclusivamente ambiental – o que já não seria pouco. “A demanda por polinizadores naturais está em alta e a criação de abelhas indígenas sem ferrão se apresenta como uma excelente opção para essa tarefa”, sintetiza Márcio Torrente, diretor da Etec de Andradina. Ele lembra que, para além do objetivo pedagógico e tecnológico, cultivar melíponas vem se tornando uma tarefa rentável, muito valorizada nas atividades agrícolas que requerem uma polinização efetiva para o aumento da produtividade.

O estudo das abelhas tem também uma finalidade pedagógica – é um indicador das mudanças do clima. “Mesmo que não notemos as alterações climáticas, as abelhas percebem. O comportamento delas muda em relação à produção e ao enxame”, explica Komuro.


Capacitação para a comunidade

Atento às notícias sobre ataques de abelhas à comunidade, o grupo do professor incentiva bombeiros a fazer um curso para lidar com esses eventuais acidentes. “As abelhas são defensivas, não agressivas. Os acidentes acontecem devido ao manejo incorreto da colmeia”, lembra.

Por causa dessa iniciativa, Andradina já conta com pelo menos um bombeiro tão bem treinado que se tornou apicultor. E é sempre chamado a socorrer as pessoas e resgatar as colmeias na cidade que tem em torno de 59 mil habitantes, de acordo com o Censo de 2022.


Abelhas nativas, mas desconhecidas

As melíponas são nativas das Américas, enquanto as apis são originárias de regiões como a Europa. As nativas não possuem ferrão, o que facilita o seu cultivo até mesmo em ambientes urbanos. No entanto, o brasileiro não distingue os dois tipos de abelhas. Essa suposição levou o professor de biologia e coordenador do curso de Administração da Etec Antônio Furlan, de Barueri, Mikel Eduardo de Mello a realizar uma série de pesquisas, com um grupo de professores.

Em uma delas, feita este ano em todo o Brasil, via internet, o grupo pretendia descobrir o grau de conhecimento da população a respeito das melíponas. “O estudo revelou que a percepção sobre a importância das abelhas sem ferrão e sua contribuição para o ecossistema é escassa”, anotou Mello.

Embora 74,5% dos pesquisados tenham afirmado que reconhecem a importância da polinização, 72,9% não distinguem uma melípona de uma apis. O grupo avaliou ainda a diversidade das abelhas sem ferrão em um ambiente urbano, o Parque Ecológico do Tietê, em Barueri, por meio de um trabalho que se estendeu entre agosto de 2022 a agosto de 2023. Foram identificados sete tipos. “Essas espécies são de extrema importância para a ecologia do Parque e do ambiente urbano como um todo”, acredita o professor. “Muitas vezes negligenciados em estudos de ecologia urbana, esses insetos desempenham um papel crucial nos ecossistemas e devem ser alvo de medidas de proteção e conservação”, conclui.


Mel por mais tempo nas prateleiras e à mesa

Enquanto isso, nos Laboratórios de Pesquisa do curso de Tecnologia de Alimentos da Fatec Marília, a nutricionista Flavia Farinazzi Machado é a professora à frente da equipe que se dedica à segurança do consumo do mel produzido pelas melíponas, formando uma base de referência para a inspeção. “O objetivo é manter o produto estável, mantendo suas características físicas, químicas e sensoriais originais durante o máximo de tempo possível na casa do consumidor”, conta a professora.

Em maio, a unidade de ensino estabeleceu uma parceria com os ecologistas Fernando Garcia, que estuda as abelhas há 17 anos, e Johnny Thiago, criadores do projeto Doce Futuro e Agrofloresta, que se propõe a reflorestar uma área pública degradada de 120 mil metros quadrados e abrigar o meliponário.

Para 2024, a agenda da equipe da professora para 2024 já está definida, envolvendo docentes e estudantes de Tecnologia em Alimentos e os ecologistas do Projeto Doce Futuro. O grupo segue coletando e produzindo análises com as amostras diferentes de méis, produção e estudo da própolis e a confecção e distribuição de iscas para a captura das melíponas.

As iscas são pequenas estruturas, que podem ser feitas até com garrafas pet, que criam um ambiente propício para atrair as chamadas abelhas princesas (rainhas ainda não fecundadas), dando início a uma nova colmeia.


Hora de provar

A Etec Prof. Urias Ferreira, escola agrícola de Jaú, mantém ativo o seu meliponário, que serve às aulas práticas dos alunos e é aberto a estudantes de fora. De acordo com o diretor da unidade, Thiago Valencise, na terça-feira, dia 3, haverá visitação dos estudantes aos meliponários, coleta de mel e exposição de banners sobre meliponicultura. Está programada também uma degustação de mel – o delicioso produto final de todo o trabalho.

 

Centro Paula Souza


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