quinta-feira, 28 de setembro de 2023

Vida com marca-passo: mitos e verdades

 Cardiologista, especialista em estimulação cardíaca, da BP fala sobre o funcionamento dos aparelhos cardíacos e os cuidados necessários para evitar danos e interferências.

 

No Brasil, mais de 300 mil pessoas utilizam marcapassos, com aproximadamente 50 mil novos dispositivos implantados a cada ano, de acordo com o Censo Mundial de Marca-passos e Desfibriladores. Ao receber um marca-passo cardíaco, é comum surgirem dúvidas sobre a vida cotidiana, como atravessar detectores de metais ou usar o celular. “De fato, é preciso adotar alguns cuidados, mas é possível ter uma vida normal sem grandes implicações”, tranquiliza a cardiologista da BP – A Beneficência Portuguesa de São Paulo, um dos principais hubs de saúde de excelência do país, Cecília Monteiro Boya Barcellos, que é especialista em estimulação cardíaca eletrônica artificial. “Não é o uso do aparelho que define o que a pessoa pode ou não fazer no seu dia a dia e, sim, as condições clínicas de seu implante”, aponta. 

As versões mais utilizadas do marca-passo são compostas por eletrodos instalados no coração, interligados por fios a um gerador de pulsos afixado no peito, debaixo da pele. O dispositivo geralmente é colocado abaixo das clavículas, por isso a médica recomenda não praticar atividades físicas que demandem muita carga nos músculos do peitoral, como musculação, crossfit, escalada e rapel, para evitar danos nos eletrodos. “No entanto, um profissional pode orientar a prática segura da maioria dos esportes”, diz a especialista. Pancadas no peito raramente provocam danos aos geradores de pulsos, que são feitos de titânio, mas a pressão que o incidente exerce pode provocar traumas e hematomas, potencialmente levando a infecções. Por isso, deve-se evitar praticar esportes de contato, ou fazê-los utilizando uma proteção sobre o gerador. 

A cardiologista da BP esclarece que o forno de micro-ondas e outros utensílios domésticos, como o controle remoto e vídeo games, podem ser usados tranquilamente, pois não interferem no funcionamento do dispositivo cardíaco. Os detectores de metal em agências bancárias são seguros, mas a médica ressalta que o metal presente no marca-passo pode acionar os sistemas de travamento, então é importante avisar os responsáveis para não ficar preso nas portas. Com a evolução dos smartphones, os riscos relacionados ao seu uso deixaram de existir; Cecília recomenda apenas usar o celular na contralateral de onde o dispositivo está implantado, para garantir uma distância mínima de 10 centímetros. Os exames de tomografia e mamografia, que utilizam feixes de raios-x, também não oferecem perigo. 

Embora a maioria dos dispositivos seja compatível com ressonância magnética, a avaliação de um especialista é crucial para programar adequadamente o exame. Uma das contraindicações que Cecília faz é com relação aos imãs e grandes campos magnéticos, que podem provocar interferências nos dispositivos. Por isso, ela alerta que o portador não fique próximo de grandes caixas de som, como as utilizadas em shows e eventos públicos, por exemplo. Além disso, a médica aconselha quem trabalha com solda ou faz uso esporádico, redobrar atenção e os cuidados, pois a soldagem pode provocar interferências no funcionamento do marca-passo, embora raramente cause danos permanentes.
 

Para quem é indicado 

Dispositivos como o marca-passo, cardiodesfibriladores e ressincronizadores são recomendados para tratar quadros cardiológicos relacionados às arritmias, alterações no ritmo das batidas do coração. Esses equipamentos controlam a braquicardia, que ocorre quando o intervalo de batidas é mais lento que 50 por minutos, e a taquicardia, quando a frequência é mais rápida que 100 batidas. Atualmente, existem novas tecnologias nas quais o marca-passo é um sistema único implantado dentro do coração, sem fios, indicado especialmente aos pacientes com restrições à eletrodos. As versões mais modernas permitem ainda que as informações contidas no gerador do dispositivo sejam transmitidas para celulares, permitindo monitoramento remoto pelo médico. O menor marca-passo do mundo, inclusive, foi implantado pela primeira vez na BP em 2021. 

O marca-passo é utilizado em pacientes com braquicardia e pode ser implantado em qualquer fase da vida, inclusive em crianças ou bebês que nascem com bloqueio atrioventricular congênito. Já os cardiodesfibriladores são indicados para pacientes com arritmias ventriculares graves que já tiveram parada cardíaca ou têm grandes chances de sofrê-la. O aparelho emite um choque interno para reverter a arritmia. Por fim, os ressincronizadores são destinados a um quadro específico de insuficiência cardíaca, associada a um tipo específico de bloqueio cardíaco. 

Todos esses tipos de dispositivos demandam avaliação periódica por cardiologista especializado para verificar a duração da bateria, a integridade dos eletrodos, e realizar uma programação adequada a cada paciente na dependência de sua doença (ou patologia). Em média, esses aparelhos duram de 7 a 10 anos, na dependência de quanto e como estão sendo utilizados pelo coração. Os equipamentos, que são chamados programadores, informam quando o momento da troca está se aproximando para que esse procedimento ocorra da forma mais segura possível. Na consulta, o especialista também pode efetuar vários tipos de programação nos dispositivos, estabelecendo os ritmos da frequência cardíaca para diferentes circunstâncias, incluindo programação para o dia ou noite, para atividades físicas etc. No caso dos cardiodesfibriladores, é possível programar para cada faixa de frequência um tipo específico de ação terapêutica


BP –Beneficência Portuguesa de São Paulo

 

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