Recentemente as ruas de Nova Iorque foram invadidas por milhares de pessoas que exigiram que os líderes mundiais tratem com maior urgência as mudanças climáticas causadas pelo uso de combustíveis fósseis. As manifestações foram um importante termômetro para a Semana do Clima, realizada na sede da ONU: a população espera mudanças.
Do lado dos consumidores, especialmente as novas gerações, diversas pesquisas
já demonstraram uma tendência de busca por produtos sustentáveis. Um recente
levantamento feito pela Euromonitor junto com a empresa Trivium, o Buying Green
Report de 2023, mostra que 66% da população entrevistada se considera
consciente sobre o meio ambiente, e 82% estaria disposta a pagar mais caro por
embalagens sustentáveis.
Apesar da preferência dos consumidores, o impacto social dos negócios é colocado em segundo plano por muitos empreendedores e investidores, sob a ideia de que impacto e lucro não andam lado a lado. Será mesmo?
De todos os lançamentos recentes da Apple, muito mais entusiasmante do que o
iPhone 15, é a campanha de sustentabilidade que lançaram com o título “Status
2030: Mother Nature”, na qual Tim Cook, CEO da Apple Inc., aparece para prestar
contas à Mãe Natureza, no vídeo personificada na figura da atriz Octavia Spencer.
A Apple é a empresa mais valiosa do planeta, com valor de mercado de U$ 2,7
trilhões (18/09). É também a principal
empresa do portfólio de Warren Buffet, compondo 51% da carteira do
megainvestidor.
Trata-se, portanto, de uma empresa que, sem dúvida, tem o lucro como seu
principal propósito. E seus esforços para neutralizar a pegada de carbono até
2030 são um recado claro: o impacto social impulsionará o futuro crescimento
econômico.
E se nos últimos anos entendemos os negócios
sociais como uma categoria, nos próximos anos será cada vez mais difícil não
termos o social integrado a cada negócio. Em empresas em que o impacto positivo
não é o “porquê”, deve ser o “como”. Mas, para essa mudança ocorrer, precisamos
reeducar o mercado de capitais.
Impact investing no mercado de
capitais
Não basta termos uma população demandando mudanças
sociais ou empreendedoras visionárias criando negócios de impacto. O propulsor
de uma real transformação social é o mercado de capitais: é o apetite de
investidores por impacto que determinará a potencialização dos negócios
sociais.
Em 2020, o mercado global de impact investing movimentou US$ 2.5
trilhões de dólares. Frente ao volume total mobilizado no mercado de capitais,
a destinação de investimento em impacto ainda é tímida, mas a expectativa é que
atinja US$ 5.17 trilhões de dólares até 2029, um crescimento anual (CAGR) de
9.5%.
No Brasil, o crescimento do mercado é ainda mais
expressivo. De acordo com um levantamento da ANDE (Aspen Network of Development
Entrepreneurs), de 2020 para 2021 tivemos um aumento de 60% no volume de ativos
sob gestão por investidores de impacto, saindo de R$ 11,5 bilhões em 2020 para
R$ 18,7 bilhões em 2021.
O país também está ganhando protagonismo na
carteira de investidores globais. Investidores de impacto que historicamente
alocaram capital em mercados desenvolvidos como EUA e Canadá planejam aumentar
a destinação de recursos para países emergentes, sendo África Subsaariana,
Brasil, e os demais países da América Latina os principais focos para os
próximos 5 anos.
Histórias de negócios sociais bem-sucedidos, que
retornaram aos investidores em linha com benchmarks do mercado de capitais
tradicional, ajudam a impulsionar o desenvolvimento do mercado. Exemplo é a empresa
KIND, de cereais saudáveis, que foi adquirida pela Mars por US$ 5 bilhões em
2020.
Nos próximos anos devemos ver importantes avanços de políticas públicas em prol de um desenvolvimento mais sustentável. Somado ao interesse dos consumidores, a evolução dos negócios estará cada vez mais atrelada ao retorno socioambiental positivo. Para os investidores que buscam diversificar a carteira, impact investing é o melhor investimento que podemos fazer. Pelo futuro do planeta e das novas gerações, claro, e como o próprio Tim Cook já percebeu, pelo crescimento a longo prazo de negócios lucrativos.
Camila Nasser é cofundadora e CEO do Kria, que é uma plataforma de investimentos em startups. A executiva iniciou sua carreira profissional no universo financeiro no Kria, como estagiária, ainda na época de faculdade. Ao longo dos anos, assumiu importantes cargos de liderança, como Head de Marketing e Chefe de Operações. No final de 2020, foi convidada para se tornar CEO da fintech. Camila é graduada em comunicação pela ESPM - Escola Superior de Propaganda e Marketing, em São Paulo.
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