Com curadoria de
Lorenzo Mammì, Maria Betânia Amoroso e Taisa Palhares, a exposição reúne
obras de artistas cujas histórias se entrelaçam com a de Murilo Mendes, entre
os quais Cícero Dias, Maria Helena Vieira da Silva, Ismael Nery, Alberto
Magnelli e Maria Martins
Ismael Nery, Sem título, s.d. Coleção Museu de Arte Murilo Mendes – UFJF. Foto: Alexandre Dornelas| Djanira da Motta e Silva, Autorretrato, 1945. Coleção particular. Foto: Jaime Acioli. Imagens em alta no link: https://flic.kr/s/aHBqjAShSZ |
Murilo Mendes (1901-1975) está entre as figuras mais influentes da vida artística brasileira.
Atuou como crítico de arte, colecionador, organizador de exposições e poeta, e
influenciou toda uma geração de críticos e artistas. Essa faceta será
evidenciada, agora, na nova exposição do MAM São Paulo: Murilo
Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo, em cartaz de 5 de
setembro a 28 de janeiro de 2024, na Sala Milú Villela.
Com curadoria de Lorenzo Mammì, Maria
Betânia Amoroso e Taisa Palhares, a mostra rememora a
atividade crítica de Murilo Mendes por meio de obras de mais de 50 artistas cujas
histórias se entrelaçam, de diferentes formas, com a do poeta.
“É com satisfação que o Museu de Arte Moderna de São Paulo, como parte da
celebração de seus 75 anos de atividades culturais e artísticas, realiza a
mostra Murilo Mendes, poeta-crítico: o infinito íntimo. A exposição conta com o
inestimável apoio do Museu de Arte Murilo Mendes, ligado à Universidade Federal
de Juiz de Fora, em Minas Gerais, cidade onde nasceu o escritor, e com sua
realização, o MAM contribui para a pesquisa e difusão da arte moderna, em
especial de um capítulo ainda pouco conhecido, a atuação marcante de Murilo
Mendes como crítico de arte e colecionador, tanto no Rio de Janeiro entre os
anos de 1920-1940, quanto na Europa a partir da década de 1950 até seu
falecimento em 1975”, comentam Elizabeth Machado, presidente do
MAM, e Cauê Alves, curador-chefe do museu, em texto que abre o
catálogo da exposição.
Murilo
Mendes, o poeta crítico: o infinito íntimo traz ao público um
conjunto significativo de obras, formado por trabalhos de Abraham Palatnik,
Achille Perilli, Alberto da Veiga Guignard, Alberto Magnelli, Aldo Caló,
Alexandre Eulalio, Alfredo Volpi, Almir Mavignier, Antonio Corpora, Arpad
Szenes, Axl Leskoschek, Bruno Giorgi, Candido Portinari, Carla Accardi, Carlos
Moskovics, Cícero Dias, Djanira da Motta e Silva, Ettore Colla, Fayga Ostrower,
Flávio de Carvalho, Foto Feruzzi, Frans Krajcberg, Franz Weissmann, Gastone
Biggi, George Rouault, George Braque, Geraldo de Barros, Gino Severini, Giorgio
De Chirico, Giorgio Morandi, Giuseppe Capogrossi, Glauco Rodrigues, Hans
Richter, Ione Saldanha, Ismael Nery, James Ensor, Jean Arp, Jesús Rafael Soto,
Joan Miró, Jorge de Lima, José Medeiros, Lasar Segall, Lívio Abramo, Li
Yuan-Chia, Lucio Fontana, Marcelo Grassmann, Maria Bonomi, Maria Helena Vieira
da Silva, Maria Martins, Max Ernst, Michelangelo Conte, Milton Dacosta, Oswaldo
Goeldi, Pablo Picasso, Piero Dorazio, Sophie Tauber-Arp e Victor Vasarely.
Espalhados em jornais e revistas, em muitos poemas e prosas poéticas, o
pensamento crítico de Murilo Mendes passou a ser organizado somente no fim de
sua vida, quando ele compilou parte de seus textos críticos em um volume
publicado postumamente, A invenção do finito. Em 1994, sua
coleção de arte foi adquirida pela Universidade Federal de Juiz de Fora, que
criou o Museu de Arte Murilo Mendes (MAMM) e desde então organiza mostras e
publicações sobre o acervo.
O curador Lorenzo Mammì explica que a exposição do MAM
foi pensada a partir do acervo do poeta que está disponível em Juiz de Fora,
sua cidade natal, e que foi complementada com outros artistas que
marcaram sua trajetória. “Além dos nomes presentes nesta coleção, nós fizemos
uma pesquisa minuciosa sobre as obras de Murilo Mendes e acrescentamos outros
artistas importantes que não estavam lá, como por exemplo Jorge de Lima e Maria
Martins”, diz o curador. Ele complementa que o trio de curadores percebeu a
importância de incluir artistas como Djanira da Motta e Silva, Lasar Segall,
Milton Dacosta, Jesús Rafael Soto e Lucio Fontana, dada a relação que tiveram
com Murilo Mendes. De acordo com Mammì, esses foram alguns nomes relevantes que
foram descobertos ao longo da pesquisa, tanto do Brasil quanto do exterior.
Além de Soto e Fontana, fora do país Murilo também teve contato com outros
artistas, como o italiano Alberto Magnelli, que o ajudou a pensar em uma
abstração que não era construtiva no sentido da arte concreta, sendo isso uma
de suas divergências com Mário Pedrosa.
Murilo Mendes em três blocos
A exposição é organizada em três blocos, começando por destacar o círculo
de Murilo Mendes e Ismael Nery no Rio de Janeiro nas décadas de 1920 e 1930,
com alguns desdobramentos na década seguinte. Nessa fase, Murilo conviveu com
um conjunto de artistas como o próprio Nery, Cícero Dias, Alberto da Veiga
Guignard e Jorge de Lima, que cultivam uma relação estreita entre artes
plásticas e poesia, próximos das poéticas surrealistas e metafísicas, mas com
divergências. Por outro lado, o crítico opõe-se às tendências dominantes na
época, realistas e defensoras de uma volta ao métier, a serviço
do nacionalismo e do engajamento social. É a fase “rebelde” de Murilo.
“É notável como sua coleção de arte privada, que se inicia nos anos 1920 com
trabalhos de Ismael Nery e de artistas que circundam mais diretamente a
estética surrealista, nas décadas seguintes se abre a outros nomes, em geral de
artistas em plena atuação no momento em que o crítico coleciona as obras”,
comenta Taisa Palhares em texto que integra o catálogo da
exposição.
O segundo bloco da exposição abrange desde meados da década
de 1930 até sua mudança para a Itália em 1957, quando Mendes já
é um poeta famoso e um crítico conhecido. Seu leque de interesses se amplia:
Lasar Segall, Bruno Giorgi, Maria Martins, Alberto Magnelli. Começa a montar
uma coleção de arte que reunia várias obras adquiridas em suas viagens à
Europa. Esse recorte também retrata a relevante convivência com artistas que
chegaram ao Rio de Janeiro vindos da Europa em fuga do nazismo, em particular o
casal Maria Helena Vieira da Silva e Arpad Szenes. O círculo que se forma em
volta desses artistas inclui Milton Dacosta, Djanira, Ione Saldanha, Almir
Mavignier, Oswaldo Goeldi, Fayga Ostrower, entre outros. Murilo passa a se
interessar por poéticas abstracionistas, mas não adere ao concretismo.
O terceiro bloco contempla o período em que Murilo viveu em Roma, a partir de
1957, onde leciona literatura brasileira na universidade. Lá,
ele se aproxima do crítico de arte Giulio Carlo Argan, com quem compartilha o
interesse por artistas italianos que praticavam um abstracionismo não
geométrico, sem aderir de todo ao informalismo. É quando se interessa, também,
pela arte óptica e cinética e colabora com artistas como Alberto Magnelli,
Lucio Fontana e Soto em mostras e publicações. Neste momento, “os convites para
escrever sobre exposições se sucedem e estão registrados nos textos dos
catálogos; o próprio Murilo organiza exposições na Casa do Brasil pertencente à
Embaixada Brasileira”, conta a curadora Maria Betânia Amoroso. Nas
exposições que organiza, inclui artistas brasileiros contemporâneos, como
Volpi, Weissmann, Mavignier, dentre outros.
Dessa última fase destaca-se a curadoria da representação brasileira na Bienal
de Veneza de 1964, a primeira em que o Brasil conta com seu próprio pavilhão:
“Com esta exposição, espera-se que o espaço reservado a Murilo Mendes crítico
de arte e colecionador, tanto na sua biografia como na história da crítica
brasileira, se afirme e se expanda”, afirma o trio de curadores em texto sobre
a mostra.
Na grande parede que liga o espaço expositivo do começo ao fim, é exibido em
painéis um conjunto de arquivos de Murilo, que conta com fotografias,
publicações e outros documentos. O projeto expográfico, concebido pelo
escritório UNA barbara e valentim, estabelece diálogos entre cada
painel com os núcleos que ficam paralelos a eles. A mostra termina com o
documentário Poesia em Pânico (1977), de Alexandre Eulálio, gravado em
Roma entre 1971 e 1974. O filme de 21 minutos contém um dos únicos depoimentos
filmados do poeta.
Publicação
Disponível na Loja física do MAM, o catálogo da exposição Murilo
Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo reúne
textos assinados por Elizabeth Machado, presidente do MAM, Cauê Alves,
curador-chefe do museu, o trio de curadores Lorenzo Mammì, Maria Betânia
Amoroso e Taisa Palhares, Aloisio Arnaldo Nunes de Castro, superintendente do
Museu de Arte Murilo Mendes - UFJF e uma cronologia ilustrada sobre a atividade
de Murilo Mendes como crítico de arte. Um deles, escrito pelo historiador da
arte italiano Giulio Carlo Argan, aborda a crítica de arte de Murilo Mendes
como trabalho poético. Outro é um texto de Mário Pedrosa seguido de cartas de
Murilo Mendes a Pedrosa, que permitem ao leitor acompanhar uma rica
conversa sobre arte e crítica no Brasil.
Sobre o MAM São Paulo
Fundado em 1948, o Museu de Arte Moderna de São Paulo é uma sociedade civil
de interesse público, sem fins lucrativos. Sua coleção conta com mais de 5 mil
obras produzidas pelos mais representativos nomes da arte moderna e
contemporânea, principalmente brasileira. Tanto o acervo quanto as exposições
privilegiam o experimentalismo, abrindo-se para a pluralidade da produção
artística mundial e a diversidade de interesses das sociedades contemporâneas.
O Museu mantém uma ampla grade de atividades que inclui cursos, seminários,
palestras, performances, espetáculos musicais, sessões de vídeo e práticas
artísticas. O conteúdo das exposições e das atividades é acessível a todos os
públicos por meio de visitas mediadas em libras, audiodescrição das obras e
videoguias em Libras. O acervo de livros, periódicos, documentos e material
audiovisual é formado por 65 mil títulos. O intercâmbio com bibliotecas de
museus de vários países mantém o acervo vivo.
Localizado no Parque Ibirapuera, a mais importante área verde de São Paulo, o
edifício do MAM foi adaptado por Lina Bo Bardi e conta, além das salas de
exposição, com ateliê, biblioteca, auditório, restaurante e uma loja onde os
visitantes encontram produtos de design, livros de arte e uma linha de objetos
com a marca MAM. Os espaços do Museu se integram visualmente ao Jardim de
Esculturas, projetado por Roberto Burle Marx e Haruyoshi Ono para abrigar obras
da coleção. Todas as dependências são acessíveis a visitantes com necessidades
especiais.
Serviço:
Murilo
Mendes, poeta crítico: o infinito íntimo
Curadoria: Lorenzo Mammìi, Maria Betânia Amoroso e
Taisa Palhares
Abertura: 5 de setembro, terça-feira, 19h às 21h30
Período expositivo: 6 de setembro de 2023 a 28 de
janeiro de 2024
Local: Museu de Arte Moderna de São Paulo (Sala
Milú Villela)
Endereço: Parque Ibirapuera (Av. Pedro Álvares Cabral,
s/nº - Portões 1 e 3)
Horários: terça a domingo, das 10h às 18h (com a última
entrada às 17h30)
Ingressos: R$25,00 inteira e R$12,50 meia-entrada. Aos
domingos, a entrada é gratuita e o visitante pode contribuir com o valor que
quiser.
*Meia-entrada para estudantes, com identificação; jovens de baixa renda e
idosos (+60). Gratuidade para crianças menores de 10 anos; pessoas com
deficiência e acompanhante; professores e diretores da rede pública estadual e
municipal de São Paulo, com identificação; amigos e alunos do MAM; funcionários
das empresas parceiras e museus; membros do ICOM, AICA e ABCA, com
identificação; funcionários da SPTuris e funcionários da Secretaria Municipal
de Cultura.
Telefone: (11) 5085-1300
Acesso para pessoas com deficiência
Restaurante/café
Ar-condicionado
Mais informações:
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