Diagnóstico precoce evita a cirurgia.
O relatório da ABTO
(Associação Brasileira de Transplante de Órgãos) mostra que nos primeiros 90
dias do ano ingressaram na lista de espera por transplante de córnea mais de
uma criança/dia. Foram 106 inscrições.
De acordo com o oftalmologista Leôncio Queiroz Neto, presidente do Instituto
Penido Burnier, o ceratocone responde no Brasil por 70% dos transplantes de
córnea. Isso porque, a doença é um distúrbio progressivo, geralmente bilateral.
que afina e aumenta a curvatura da córnea, causando alterações biomecânicas nas
fibras de colágeno. Estudos mostram que quando a doença surge na infância este
processo tende a ser mais rápido do que em adultos. Provoca miopia,
astigmatismo irregular e grave comprometimento visual. “A detecção e o tratamento precoces, interrompem
a progressão e podem evitar o transplante de córnea, está sujeito à rejeição e
nem sempre proporciona boa acuidade visual”, pontua.
Como barrar a progressão
Para se ter ideia, o
oftalmologista afirma que normalmente nossa córnea, lente externa do olho que
responde por 2/3 da refração, tem uma espessura que varia de 470 a 550 micras
(milésimos de milímetros). O mais frequente, pontua, é o ceratocone surgir
entre 12 e 18 anos, mas pode estar latente desde a infância, embora esta não
seja a regra. Alguns pacientes só
desenvolvem a doença aos 30 ou 40 anos.
“Uma criança com ceratocone pode perder 180 micras da córnea em meses.
Por isso, o tratamento tem de ser diferenciado para impedir o transplante de
córnea”, salienta.
Queiroz Neto afirma que
geralmente a indicação do crosslink, único tratamento que interrompe a
progressão do ceratocone, só é indicado após alguns meses de acompanhamento da
doença, visando confirmar a progressão.
Na infância, observa, requer aplicação imediata de croslinking caso a córnea
ainda tenha a espessura mínima de 400 micras. Isso porque, explica, abaixo
desta espessura o procedimento é contraindicado. “A cirurgia é ambulatorial e
consiste na reticulação das fibras de colágeno da córnea através da aplicação
de luz ultravioleta associada à riboflavina (vitamina B2) que aumenta em até 3
vezes a resistência da córnea, explica. A criança ressalta, responde melhor ao
crosslinking e frequentemente ganha algumas linhas de visão, embora não seja
este o objetivo do tratamento. Em jovens adultos, nem sempre o procedimento impede
a progressão. Em um levantamento realizado por Queiroz Neto com 315 pacientes
de 16 a mais de 26 anos 88% afirmaram que o crosslink interrompeu a progressão
e 45% também tiveram melhora da acuidade visual.
Sintomas e sinal de alerta
Queiroz Neto afirma que os
sintomas do ceratocone são: perda progressiva da visão, grande sensibilidade à
luz, olhos irritados, troca frequente dos óculos, visão embaçada e desfocada. O
oftalmologista ressalta que nem todos apresentam sintomas logo no início. Por
isso, alerta os pais que o astigmatismo em crianças pode progredir para
ceratocone. Por isso, devem passar por uma bateria completa de exames mesmo que
não apresente qualquer sintoma. Isso porque, detectar o ceratocone ainda
insipiente pode permitir enxergar bem sem óculos ou lente de contato.
O diagnóstico, ressalta
inclui exame de refração, análise do globo ocular com lâmpada de fenda,
tomografia, topografia, tomografia de coerência óptica (OCT), estudo
biomecânico da córnea e aberrometria ocular que faz a varredura de aberrações
ou pequenas imperfeições na córnea.
Tratamento e prevenção
O oftalmologista afirma que
na fase inicial o tratamento é feito com óculos. Conforme a doença progride é
indicado o uso de lente de contato rígida para aplanar o formato da córnea e
melhorar a refração.
Evitar coçar os olhos é a
principal recomendação do oftalmologista para prevenir o ceratocone. “A fricção
dos olhos fragiliza as fibras de colágeno. Isso porque, estimula a liberação de
proteinases que afinam a córnea”, explica. Por isso, a Síndrome de Down e a
atopia são fatores de risco para desenvolver a doença. A hereditariedade,
citada em alguns ensaios, só é encontrada em 20% dos casos.
Outras terapias
Queiroz Neto ressalta que o
implante de anel intraestromal que aplana o formato da córnea também pode
evitar o transplante. “Outra terapia nada invasiva é a lente escleral que fica
apoiada na esclera, parte branca do olho, invés de se apoiar na borda da
córnea. Por isso, em alguns casos pode
evitar o transplante, mas só o crosslinking interrompe a progressão da doença,
conclui.
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