Na infância, os pais são as primeiras e mais importantes referências para a formação da personalidade da criança
De acordo com uma pesquisa realizada pelo Pew Research Center, 63% dos pais não passam tempo suficiente com seus filhos devido ao excesso de trabalho, enquanto 36% conseguem ser mais presentes.
Segundo Danielle H. Admoni, psiquiatra geral, da Infância e Adolescência, supervisora na residência da Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP/EPM) e especialista pela ABP (Associação Brasileira de Psiquiatria); para a criança, a participação ativa do pai na vida de um filho é essencial para seu desenvolvimento cognitivo, social e psíquico.
“Na infância, os pais são as primeiras e mais importantes referências para a formação da personalidade da criança. Se o pai é ausente, o filho acabará encontrando outras formas de preencher essa lacuna da figura masculina, e a chance de não serem modelos propriamente exemplares pode ser grande e preocupante”, avalia Danielle Admoni.
No entanto, nunca é tarde para recuperar o tempo perdido,
principalmente se o seu filho ainda for criança. Confira algumas dicas e
perceba que exercer a função de pai requer atitudes simples, mas que farão toda
a diferença para seu filho:
Envolva-se mais na vida escolar: Acompanhe o desempenho do seu filho na escola, ajude-o com a lição de casa e com os estudos para as provas (se houver necessidade). Também frequente os eventos temáticos, pergunte sobre os colegas, se ele gosta da escola, qual sua matéria favorita.
“Além disso, não deixe de ir às reuniões de pais. Muitas vezes, a
criança está enfrentando algum problema, seja social ou nos estudos, e os pais
só descobrem por meio dos professores ou pela diretoria”, alerta Danielle
Admoni.
Habitue-se a dizer “não”: A educação permissiva, em que a
criança impõe sua vontade, prejudica o seu desenvolvimento, tornando-a mimada,
insegura e frágil. “Impor limites, sem ser autoritário, mas usando de firmeza,
dá noção de hierarquia e traz muita segurança para os filhos. Só tome cuidado
para não se deixar levar por birra e choro. Perder a paciência é normal, mas
evite gritar com seu filho. Longe de surtir o efeito desejado, isso só afetará
a autoestima da criança, e o seu comportamento futuro pode se tornar
agressivo”, pontua a psiquiatra.
Resgate seu lado criança: Qual filho não adora brincar com os pais? “Não pense duas vezes antes de começar uma guerra de travesseiros, fazer castelo de areia na praia, brincar de se esconder, de fazer cócegas e até relembrar o frio na barriga de uma montanha-russa”.
Uma pesquisa publicada no American Academy of Pediatrics apontou
que a brincadeira pode melhorar as habilidades das crianças para planejar,
organizar, conviver com os outros e regular as emoções. Além disso, o brincar é
importante para o desenvolvimento da linguagem, matemática e habilidades
sociais, e até ajuda as crianças a lidar com o estresse.
Estimule novas experiências: “Permita que seu filho se expresse
livremente e descubra, por si mesmo, quais são os seus gostos e interesses.
Isso favorece a construção de uma personalidade autônoma, com mais
autoconfiança e autoestima. No entanto, é sempre bom lembrá-lo de que a
liberdade vem acompanhada da responsabilidade”, frisa Danielle Admoni.
Inclua a criança nas tarefas domésticas: Envolva seu filho em tarefas da casa que sejam condizentes com sua idade. Segundo a psiquiatra, o ideal é começar pelo quarto da criança. Ensine-a como guardar os brinquedos nos lugares certos, a levar suas roupas sujas para a lavanderia e guardar as limpas no armário.
“Essas são oportunidades de ensinar responsabilidade, trabalho em
equipe e habilidades práticas. Além disso, permite que vocês passem tempo juntos
enquanto realizam as atividades”.
Ensine com o exemplo: Crianças são extremamente observadoras e imitam tudo o que os pais fazem. “Sendo assim, se você quer que seu filho seja independente, respeitoso e educado, mostre a ele como se faz por meio de ações. Não podemos dizer para uma criança ter paciência quando nós mesmos a perdemos em seguida”, argumenta Admoni.
Demonstre respeito, empatia, paciência e habilidades para resolver
conflitos de maneira saudável. Isso ensinará a ele habilidades sociais importantes
e como lidar com desafios da vida.
Esteja sempre aberto para ouvi-lo: Quando seu filho quiser conversar ou
compartilhar algo, dedique sua atenção total a ele. Olhe nos olhos, escute com
empatia e faça perguntas para entender melhor seus sentimentos e saber qual a
melhor forma de ajuda-lo. “Essa será a maior prova de que seu filho realmente
confia em você, já que a maioria das crianças não se abre tão facilmente, mesmo
com os pais”.
Jamais subestime os sentimentos do seu filho: Nunca desconsidere o que a criança
está sentindo, dizendo que já é um “homem” ou uma “moça”, que não tem que ter
medo de nada ou que isso é uma bobagem. Mostre que você entende seus
sentimentos. “Essa postura fará com que seu filho sinta sempre abertura para
expor suas emoções contigo. Aproveite e fale também de você, conte algumas
histórias pessoais. A troca será importante para criar laços cada vez mais
fortes”, finaliza Danielle Admoni.
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