Os corretores de seguros trabalham para levar proteção à sociedade, mas como fazer o setor crescer se não há aceitação de riscos por parte de seguradoras e resseguradoras?
Desde o início do
ano venho apresentando o cenário desesperador enfrentado pelos corretores de
seguros, que fecham novos negócios, mas não se consolidam porque não os
contratos não são aceitos pelas seguradoras ou resseguradoras, ou, ainda, mesmo
aqueles clientes que sempre tiveram a contratação têm seus riscos agora
recusados. Estamos empunhando a bandeira da necessidade da aceitação dos
riscos, mesmo que haja qualquer ajuste, aumento de taxação, mas que venha
acompanhado de uma conversa, negociação, e não simplesmente uma porta fechada na
nossa cara. Precisamos elevar o tom nesse debate, porque até agora não fomos de
fato ouvidos: segurem os riscos dos segurados, que não são clientes apenas
nossos, mas de toda a indústria.
Com esse movimento
temos tido muitas conversas, é verdade, mas que ficam entre as lideranças das
entidades representativas do setor: os executivos demonstram boa vontade em
buscar solução, mas na prática do dia a dia não estamos conseguindo ultrapassar
esta barreira. Temos mantido frequentes e sérias conversas com a FenSeg
(Federação de Seguros Gerais), e estamos iniciando diálogos com as seguradoras
individualmente, tanto nos riscos declináveis, aqueles pequenos riscos, mas
também naqueles riscos de maior proporção que não estamos conseguindo atender,
para tentar buscar soluções. Mas, na prática, nada mudou ainda. Não há dia em
que um corretor não ligue para o Sincor-SP desesperado na colocação de alguns
de seus riscos.
Não dá mais para
adiar, é preciso achar solução para os riscos declináveis e também para as
questões de aceitação das companhias e seus respectivos resseguros ou
cosseguros. O mercado exige crescimento, as companhias querem crescer, os
corretores querem mais negócios e temos entrave muito grande nessas soluções.
Os corretores de seguros seguem perdendo negócios e o mercado, em vez de
crescer, reduzindo cada vez mais.
Entendemos
perfeitamente tratar-se de uma questão mundial, de reflexos de uma crise
global, conhecemos todo o processo que levou as companhias a esse caminho, mas
certamente devemos ter o caminho reverso, aquele que nos levará de volta aonde
estávamos, quando tínhamos – talvez não com a mesma facilidade da época do
monopólio do IRB – mas com uma pacificação nas questões de aceitação e
resseguro. Por redução de tempo e dinheiro, muitas seguradoras têm trabalhado
num sistema automático de produtos prontos e lista de ramos recusáveis.
Compreendemos que as seguradoras tenham sua política de aceitação, precificação
e desenvolvimento de novos produtos. Praticamente todas as companhias têm
também uma lista de atividades e/ ou produtos proibidos e não aceitos em
hipótese alguma. Mas acredito que há sempre um caminho para a colocação/
aceitação de um risco por uma seguradora. Com conhecimento técnico e
relacionamento, subscrição clássica, fronting, cosseguro e criatividade,
praticamente todos os riscos podem ser resolvidos. Uma seguradora
garantir riscos tem que continuar sendo a regra e não a exceção.
É necessário que
todos os players do mercado envolvidos nesta questão deem as mãos. Não é pelos
corretores de seguros, é pela indústria como um todo, afinal, somos voz dos
consumidores que anseiam pela proteção. Não somos clientes da seguradora na
intermediação, somos clientes finais – quando fazemos qualquer reclamação
referente a um sinistro, estamos representando o cliente. É em nome do
consumidor de seguros que conclamamos uma maior atenção aos
nossos riscos. Essa é uma batalha de todos, é um desafio do setor
pela manutenção e geração de empregos, trabalho tanto das entidades
representativas dos corretores, mas também, sem dúvidas, das empresas
seguradoras e resseguradoras, que em um eventual sinistro não terão o respaldo
do sinistro para reativar as suas possibilidades.
Vamos descer um pouco as expectativas e
começar a construir um novo cenário, de retomada e estabilidade. É difícil e
muito triste para o corretor de seguros que está há muitos anos se dedicando a
uma mesma conta, que na maioria das vezes não tem sinistro ou pouquíssimos
sinistros de coberturas até acessórias, falar para esse cliente que ele não tem
opção. Hoje, renovar uma apólice de um risco razoável, mas protegido,
dependendo do ramo de atividade, está se tornando um pesadelo e desespero para
o corretor de seguros.
É hora de
realmente botarmos as mãos na consciência e, em seguida, à obra, para tentar
construir esse novo cenário. Em nome do maior sindicato de corretores de
seguros do Brasil, conclamo todos os envolvidos a nos sentarmos juntos,
fazermos um amplo debate e acharmos essa solução tão esperada. Se a situação
está desesperadora no estado que produz 50% da receita da indústria de seguros,
imagine nos locais de menor acesso às tomadas de decisão. Estamos largados à
própria sorte – e os clientes mais ainda.
Boris
Ber - presidente do Sincor-SP – Sindicato dos Corretores de Seguros no estado
de São Paulo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário