Até onde você está disposto a correr riscos? Para os tripulantes da OceanGate, empresa criadora do submersível Titan implodido, a resposta parecia estar em uma experiência “inovadora” e acessível para poucos. A promessa da companhia em “tornar o fundo do oceano acessível para a exploração humana como nunca havia sido”, no entanto, se tornou uma terrível tragédia amplamente noticiada, resultando na morte dos cinco tripulantes. Em meio às investigações feitas para descobrir os motivos que levaram a tal cenário, falhas cruciais estão sendo ressaltadas em termos de testagem e inovação.
Fundada em 2009, por Stockton Rush, a companhia
surgiu com o objetivo de realizar explorações oceânicas focadas no fornecimento
de serviços submersíveis tripulados, permitindo, assim, que pesquisadores e
exploradores acessassem os recursos dos oceanos. A princípio, seu sucesso se
mostrava promissor, tendo feito sua primeira expedição aos destroços do
Titanic, em 2021 e, se tornado a primeira empresa a registrar imagens em 8k do
navio, em 2022. Mas, com grandes poderes, vem também grandes responsabilidades.
As apreensões frente à segurança e eficácia do
submersível existiam desde o início. Apesar de ter sido criado com o “mais leve
e econômico material para mobilizar do que qualquer outro submersível de
mergulho profundo”, de acordo com a descrição de seu site, a tecnologia
utilizada no processo ainda é nova e não havia padrões de segurança suficientes
para que fosse colocado em prática.
Em uma carta escrita pelo próprio Comitê de
Veículos Subaquáticos Tripulados da Marine Technology Society ao CEO, em 2018,
foi ressaltado o “receio em relação aos possíveis resultados negativos, que
teriam sérias consequências para toda a indústria”. Não faltaram alertas de
risco sobre a experiência vendida. Até que, em seu terceiro passeio, a falta de
preparo do submersível frente a tensão cíclica à qual estava inserida,
ocasionou no desastre acompanhado nos últimos dias.
Não há como determinar, ainda, 100% as causas do
acidente, mas algo é fato: uma das maiores falhas cometidas pela OceanGate está
diretamente ligada à pressa por inovar e se destacar, sem tomar os devidos
cuidados ao longo do processo. O mercado está sedento por inovações que
alavanquem a marca em seu segmento, conquistando lucros exorbitantes e
atingindo um futuro brilhante. Contudo, muitas companhias se equivocam ao
trilhar essa jornada desenfreadamente, falhando em seus objetivos por,
justamente, não conduzir o processo de inovação com base em uma gestão
constante.
No caso do submersível, não foram feitos testes
suficientes para analisar os possíveis impactos deste serviço a longo prazo,
como por exemplo, o fato de que a pressão da água sobre ele seria equivalente
ao peso da Torre Eiffel, se aproximado em dezenas de milhares de toneladas.
Algo extremamente perigoso, não apenas considerando que estes modelos
apresentam menos reserva de energia do que os submarinos, mas principalmente,
pelo fato do Titan ter sido construído com fibra de carbono em vez do titânio
tradicional – o que deveria, por isso, ter passado por muitas outras
experimentações antes de ser lançado.
Essa é a clássica premissa do funil de inovação, no
qual, através de três etapas muito bem estruturadas, visa uma análise minuciosa
sobre as ideias propostas, possíveis riscos aos quais estarão sujeitas, e
retornos que poderão trazer para que as melhores sejam testadas rigorosamente.
Essas experimentações são cruciais ao inovar, uma
vez que permitirão não apenas ter uma maior noção sobre os resultados que essas
propostas trarão, como, principalmente, descobrir pontos de falhas a serem
corrigidas antecipadamente – evitando, justamente, consequências drásticas que,
como neste caso, coloquem vidas em risco.
O mesmo erro foi visto, por exemplo, no acidente do
Boeing 737 MAX 8, da companhia aérea Lion Air. Apesar de ter sido desenvolvida
através de uma extrema automatização e recursos modernos, o software utilizado
ainda não havia sido devidamente testado pelo piloto – o que fez com que, em
uma simples manobra de ajuste da aeronave, a falta de conhecimento e
experiência de utilização do sistema o impedisse de endireitá-lo a tempo, antes
da queda.
É claro que não há como negar o fascínio existente
sobre a história do Titanic e a possibilidade de ver de perto os destroços
desta embarcação tão famosa. Mas, qualquer lançamento inovador e disruptivo
precisa ser muito bem testado antes de qualquer coisa, contando sempre com uma
gestão robusta por trás e que dê a segurança necessária para a sua
implementação.
Inovar por inovar não faz o menor sentido, e
certamente não trará o resultado desejado. É preciso sempre ter uma governança
de inovação por trás, sendo extremamente criterioso nos testes instaurados até
ter certeza de que o serviço ou produto está pronto para ser lançado. Apenas
assim, será possível se tornar uma empresa verdadeiramente inovadora, segura e
com credibilidade no mercado.
Alexandre Pierro - mestrando em gestão e engenharia da inovação, bacharel em engenharia mecânica, física nuclear e sócio-fundador da PALAS, consultoria pioneira na ISO de inovação na América Latina.
ISO de inovação
www.isodeinovacao.com.br
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