O psicólogo Wagner Rodrigues explica esse conceito paradoxal
O termo Unbossing que quer dizer
literalmente "sem chefe" ganhou notoriedade com o sucesso do livro
dos autores dinamarqueses Lars Kolind e Jacob Botter lançado em 2012. Kolind
implantou um modelo de gestão sem estrutura hierárquica tradicional numa
fábrica de aparelhos auditivos em Copenhague. A empresa vinha mal, mas a partir
das mudanças feitas por Kolind, começou a apresentar bons resultados.
Apesar de Kolind e Botter mencionarem
no livro que Unbossing é um movimento e não apenas um conceito, o psicólogo
Wagner R., especialista em psicodinâmica do trabalho, acredita que a humanidade
ainda precisa de mais engajamento da comunidade corporativa mundial e de mais
exemplos práticos de sucesso.
Para enfrentarem a rapidez das
mudanças no mercado e a concorrência por clientes e pelos melhores talentos, as
empresas precisam de líderes que promovam um ambiente colaborativo e
participativo, inclusivos e saibam desenvolver sua equipe.
Uma pesquisa da empresa Mindsghit
com 1260 pessoas que procuravam emprego mostrou que 60% das pessoas já haviam
tido problemas de relacionamento com algum chefe. Os entrevistados
responderam o que consideram importante para um bom chefe ou líder responsável
e comprometido (84%), saber comunicar (83%), possuir empatia (81%), ter
capacidade de inspirar (72%) e bom em reconhecer méritos (70%).
Entretanto, o psicólogo pontua
que há uma lição que ainda precisa se aprendida pelas organizações: de nada
adianta mudar o organograma e fazer com que seus os líderes passem por um
processo de conscientização para mudarem de comportamento, sem mudar a cultura
e os sistemas de gestão : “eu observo que a ideia do unbossing ganhou mais
vulto após a pandemia porque, mesmo com todos os percalços com o home
office, as pessoas conseguiram manter e até melhorar seu desempenho sem uma
supervisão mais direta. Além disto, boa parte dos colaboradores, em especial os
millennials e a geração Z, querem manter a autonomia experimentada neste período.”
É preciso reforçar que uma
estrutura sem chefes não quer dizer sem liderança. “O objetivo do unbossing é
eliminar aquelas estruturas antiquadas e engessadas, acabando com a figura do
chefe centralizador, que é incapaz de desenvolver, inspirar ou facilitar a vida
da sua equipe", explica.
A figura do líder que ajuda na
criação de um ambiente colaborativo, de laços de confiança e desenvolve as
pessoas para que sejam mais autônomas, continua sendo muito desejada,
garante Wagner : “hoje já se espera que o líder colabore de forma ativa
para um ambiente psicologicamente seguro e estimule uma relação mentalmente
saudável do ser humano com seu o trabalho. Por isto uma parte importante do
programa de saúde mental da People F1rst DPO, o 4HUMAN, é devotada aos líderes.
”
Para Wagner R., a maturidade dos
colaboradores também é relevante para o bom funcionamento de uma organização
unbossed. “A nossa cultura corporativa ainda revela traços de paternalismo e
assistencialismo, logo, muito colaboradores ainda relutam em assumir liberdade
e a autonomia que lhes cabem, porque a contrapartida diretamente proporcional é
a responsabilidade. É fundamental saber que o fato de não precisar prestar
contas para um chefe não significa que o colaborador não precisará prestar contas
para alguém”, reforça e lista os benefícios:
· Estruturas
mais enxutas e processo decisório mais ágil
· aumento
da capacidade criativa
· melhor
nível de engajamento
· competências
de liderança de um grupo maior de pessoas.
O psicólogo conclui: “com uma
equipe empoderada, autônoma e engajada alguns setores podem funcionar até
melhor sem a figura de um chef. Este personagem corporativo deixou de fazer
sentido há muito tempo, mas é claro todas as equipes funcionam bem com a presença
de um líder engajado, empático, que dá o exemplo e comprometido .”
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