Na educação, muitas técnicas foram propostas com o objetivo de auxiliar na retenção de conteúdo, cada uma utilizando um aspecto diferente do cérebro, que é responsável pela nossa capacidade de pensamento, movimento voluntário, linguagem, julgamento e percepção. No entanto, existem princípios que são comuns a muitas dessas técnicas e servem de pilares para fornecer um ganho significativo na retenção de conteúdo.
Dentre esses princípios, vemos dois que são
eficientes formas de memorização: a repetição e o emocional. Além disso, outro
pilar importante é a exploração do poder associativo do cérebro, pois ao criar
associações intencionais, facilitamos a aprendizagem e a retenção de conteúdo.
Essas associações agilizam o processo de revisão e o encadeamento de assuntos
interdependentes. Dito isso, vamos a algumas técnicas:
Autoexplicação: é uma abordagem eficaz no processo de aprendizado, na qual os
estudantes explicam o conteúdo para si mesmos. Essa prática envolve fazer
perguntas e responder com suas próprias palavras, permitindo a compreensão mais
profunda do material. Além disso, ajuda a identificar lacunas, reforçando a
memória e consolidando as informações.
Active Recall (Recuperação
Ativa): é uma técnica de aprendizagem que consiste em
lembrar ativamente de informações, sem consultar as referências, fortalecendo
conexões neurais e melhorando a retenção de informações. Para implementá-la, o
ideal é utilizar flashcards, fazer perguntas a si mesmo ou realizar
auto-avaliações, praticando regularmente e esperando o esquecimento antes de
testar-se novamente.
Método Feynman: é um método eficiente de aprendizado que permite compreender rapidamente
um conceito, apresentando-o de maneira simples e clara. Ele se baseia na ideia
de explicar algo de forma que facilite a compreensão. Para aplicar essa
técnica, primeiro deve-se escrever o assunto no topo de uma folha de papel. Em
seguida, explicá-lo com suas próprias palavras, como se estivesse ensinando a
uma criança, por exemplo. Depois, revise o material e identifique possíveis
erros a fim de obter a resposta correta. Após isso, volte para suas anotações
ou material de leitura e descubra a resposta correta. Por fim, se houver alguma
área em suas anotações em que você usou termos técnicos ou linguagem complexa,
volte e reescreva essas seções em termos mais simples para alguém que não tenha
a formação educacional que você tem.
Modo Focado e Difuso: alternar entre os modos Focado e Difuso é uma estratégia importante para
melhorar a aprendizagem, conforme apresentado no livro "Aprendendo a
Aprender", de Barbara Oakley. O modo Focado é quando nos concentramos em
uma atividade específica, enquanto o modo Difuso envolve a ativação de várias
áreas do cérebro para explorar memórias relacionadas ao conhecimento,
permitindo que ele encontre soluções mais eficientes. Então, o ideal é ao
sentir-se empacado, pare e vá fazer outra coisa. Tome um banho, durma um pouco,
caminhe, escute uma música, desenhe, toque algum instrumento, são nessas horas
que nosso cérebro abre para o modo difuso e através de uma visão geral, começa
a formar conexões buscando uma solução.
Notas Codificadas: notas confusas podem dificultar a lembrança dos pontos importantes de
uma palestra. Escrever de forma categorizada em cores é uma maneira dinâmica de
organizar as informações que a pessoa está aprendendo, o que também ajuda a
revisar e priorizar as ideias mais importantes.
Aprendizagem Espaçada: é uma estratégia eficaz para melhorar a retenção de informações ao longo
do tempo. Envolve dividir o conteúdo de estudo em seções menores e
distribuí-las em intervalos ao longo de um período prolongado. Isso pode ser
incorporado de diferentes formas de assimilação, ora por leitura, ora por
vídeo-aula, como sugerido por Paul Kelly (Spaced Learning: A Harbinger of a Paradigm Shift
Education).
Após entender como cada técnica funciona e quais
são as melhores ocasiões para aplicar cada uma delas, o estudante pode adaptar
as técnicas para sua realidade, a fim de facilitar a execução. Além disso,
procurar ferramentas que auxiliem a empregá-las. Um exemplo disso é o Anki,
programa de repetição espaçada, gratuito e de código aberto, desenvolvido para
ajudar os usuários a memorizar informações de maneira mais eficiente.
Aplicativos como o Focus Booster ajudam a dividir o fluxo
de trabalho em blocos de concentração intensa, otimizando os estudos.
Outro ponto que costumo destacar é que cada técnica
é mais eficiente em uma determinada situação como, por exemplo, caso a pessoa
queira digerir melhor o tempo, a técnica Feynman pode ser mais difícil
comparado a uma combinação de Autoexplicação e alternar os modos Focado e
Difuso. Já para assuntos mais complexos que requerem muita atenção, o Método
Feynman e a Aprendizagem Espaçada são mais indicados.
Nós aprendemos de maneiras diferentes e precisamos
entender que as técnicas que funcionam para um, podem não ser eficientes para
outros, por isso cabe ao estudante primeiro se conhecer para saber como
desfrutar de cada técnica. Por isso, avalio que os principais desafios de
aplicar as técnicas acima consistem em identificar o momento certo de aplicar
cada uma e encontrar a que mais se encaixa em cada rotina. Afinal, nem sempre
temos tempo e material para trabalhar técnicas mais complexas, e por isso
precisamos adaptá-las à nossa realidade.
Lorenzo
Tessari - Chief Operating Officer (COO) da Gama Ensino, startup de
tecnologia desenvolvedora de um algoritmo proprietário que identifica os gaps
de aprendizado dos alunos para o direcionamento dos seus estudos.
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