Médico reforça que
só remédio não funciona para tratar obesidade e explica perigo da automedicação
Alardeado nas redes sociais como uma fórmula mágica
para o emagrecimento, o Ozempic, remédio que tem como princípio ativo a
semaglutida e é usado no tratamento da diabetes tipo 2, virou moda e levou
centenas de pessoas a buscarem o produto nas farmácias, causando
desabastecimento. No último dia 19, a notícia de que uma mulher de 29 anos foi
internada na UTI por problemas hepáticos supostamente provocados pelo uso da medicação
reforça o alerta da comunidade médica: não existem fórmulas mágicas e nenhum
medicamento deve ser usado sem orientação e acompanhamento médico.
O médico e pesquisador Adivaldo Vitor Barros de
Oliveira Júnior, membro da Associação Brasileira de Médicos com Expertise em
Pós-Graduação (Abramepo) e da Sociedade Brasileira de Endocrinologia e
Metabologia, explica que todo medicamento tem o seu potencial
terapêutico, mas também pode apresentar reações adversas. A obesidade é uma
síndrome metabólica associada a várias alterações corporais. A escolha do
medicamento para combatê-la deve ser ainda mais criteriosa e uma avaliação
clínica e laboratorial é indispensável. “A obesidade está relacionada a maior risco de
infarto; AVC; a 13 tipos diferentes de tumores malignos; maior tendência em
desenvolver pressão alta; aumento nos níveis de colesterol, glicose,
triglicerídeos, ácido úrico e de gorduras no fígado. Nenhum remédio pode ser
prescrito sem um exame laboratorial completo do paciente. É preciso, antes, saber
como está o organismo do paciente para prever possíveis reações”,
reforça.
Medicamento precisa de prescrição e acompanhamento médico Freepik |
Multidisciplinar
O médico conta que, até poucos anos atrás, a liraglutida e semaglutida,
substância dos dois remédios da moda para o emagrecimento, eram recomendadas
apenas para pacientes diabéticos. Recentemente, “alguns desses medicamentos
passaram a integrar arsenal terapêutico que tem boa resposta também para o
obeso ainda não diabético”.
No Brasil, o medicamento não é vendido com retenção
de receita, o que facilita o acesso de qualquer um à droga.A automedicação pode
levar a outro problema que causa complicações: o aumento da dosagem sem
supervisão. “Esses remédios são eficazes porque combatem várias
alterações metabólicas no organismo dos pacientes com sobrepeso e ou obesidade.
Mas o tratamento da obesidade necessita da abordagem médica, nutricional,
psicológica, psiquiátrica, de um preparador físico e da própria família. Não é
um medicamento apenas que vai resolver o problema. Um tratamento eficaz pode
lançar mão de remédios, mas deve incluir a mudança de hábitos alimentares e a
prática regular de atividade física”, enumera.
Vencer a obesidade requer mudança de hábitos Freepik |
Recorrente
A semaglutida simula a ação do hormônio GLP-1, que inibe a fome e regula o
nível de açúcar no sangue. Alguns dos efeitos colaterais relatados na
literatura médica são náuseas, vômitos e até obstrução intestinal, no caso de
uso prolongado.
O estudioso reforça que a obesidade é uma doença
crônica e recorrente. “Ela tem uma tendência a voltar se você parar os
tratamentos, o estilo de vida saudável, a atividade física regular e a
medicação”, comenta.
Quando o paciente para de tomar a medicação, a sensação de saciedade e
diminuição da fome acabam. “Se o paciente não mudou os hábitos alimentares e
não adotou a prática regular de atividade física, provavelmente engordará
novamente”, conta.
Efeitos colaterais
O médico ressalta que usar uma medicação sem acompanhamento médico pode
provocar danos ao organismo. Entre os efeitos colaterais descritos na bula
do remédio estão cálculo biliar; aumento de enzimas pancreáticas; dor e inchaço
do abdome; complicações de doença ocular diabética e baixa glicemia, que pode
provocar sintomas como suor frio, pele fria e pálida, dor de cabeça, batimentos
cardíacos rápidos, alterações na visão, sensação de sono ou fraqueza,
nervosismo, ansiedade ou confusão, dificuldade de concentração ou tremor. Há
ainda relatos de mudanças de humor. “Mesmo que a medicação seja prescrita, tem que
haver um acompanhamento de perto. Todo e qualquer efeito adverso deve ser
relatado para que o profissional decida pela interrupção do uso e pelo
tratamento adequado dos sintomas”, completa.
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