Somente quatro a cada dez crianças brasileiras concluíram o 2º ano do Ensino Fundamental alfabetizadas em 2021. Os dados foram apresentados em uma reunião entre o Ministério da Educação (MEC) e a União Nacional de Dirigentes Municipais de Educação (Undime) e mostram um cenário desolador no país. Quase metade dos estudantes brasileiros não está aprendendo a ler e escrever na idade que deveria.
Historicamente, o Brasil enfrenta uma série de
desafios para conseguir alfabetizar suas crianças até os sete anos de idade, como
recomendado por especialistas do mundo inteiro. Em uma nação tão desigual,
investir em políticas públicas é um dos caminhos mais seguros para garantir que
todas as crianças tenham as mesmas oportunidades de aprender. É a Política
Nacional de Alfabetização, que permite que eventuais problemas no processo de
alfabetização possam ser identificados e corrigidos a qualquer tempo, e não
apenas no 2º ano do Ensino Fundamental.
Para a diretora pedagógica da Aprende Brasil
Educação, Acedriana Vogel, “longe de visão romântica ou mesmo ingênua, a
alfabetização é um processo complexo e sofisticado, do ponto de vista humano, e
exige esforço plural: governo, professores, estudantes e famílias precisam
caminhar juntos para melhorar a Política Nacional de Alfabetização de tal forma
que haja melhoria dos resultados como nação”. A especialista explica que isso
precisa ser feito com foco em alguns pontos estratégicos.
O primeiro - e, talvez, mais relevante - ponto é o
investimento na formação em serviço de professores da Educação Infantil e dos
Anos Iniciais do Ensino Fundamental. Trata-se de mantê-los em constante
aperfeiçoamento e usar práticas exitosas como referência em âmbito nacional.
Depois, é preciso considerar a qualidade dos recursos didáticos
disponibilizados para esses professores no trabalho com a aquisição da leitura
e da escrita. “Precisamos de propostas engajadoras e desafiantes, adequadas às
possibilidades de trabalho com cada faixa etária e que também considerem os
interesses dos estudantes”, ressalta.
Nesse sentido, algumas das respostas mais
contundentes para o problema vêm, atualmente, da própria escola pública. Um dos
programas utilizados em alguns municípios, o Letrix, mapeia onde cada estudante
se encontra no processo de leitura e escrita para, a partir daí, propor jogos,
brincadeiras e atividades variadas que consideram aspectos importantes para a
aprendizagem, como autoconfiança, perseverança e cooperação. É uma forma de
resgatar as crianças que, por uma ou outra razão, não puderam ser alfabetizadas
no período ideal.
A tecnologia precisa ser uma
aliada
Segundo Acedriana, outro ponto importante é o
investimento em tecnologia, que deve conversar com os recursos impressos
acessados pelos estudantes. “O foco desse investimento deve se concentrar na
velocidade dos diagnósticos a serviço da qualidade da intervenção pedagógica,
bem como na possibilidade de personalização, considerando os diferentes tempos
e maneiras de aprender”, afirma. Os diagnósticos, aliás, são indispensáveis
nessa trajetória, porque o ser humano aprende a partir de associações com
aquilo que já sabe. Avaliar o aprendizado de forma contínua e consistente
permite que o professor trace novos percursos mais rápidos e eficientes para
garantir os processos de alfabetização previstos para aquele momento da
escolaridade.
Por fim, há um papel importante que não pode ser
desempenhado pela escola: o da família. “É muito potente para o estudante a
vibração de sua família com cada conquista, criando estratégias em casa que
valorizem a leitura e incentivando os registros escritos, desde as hipóteses
mais rústicas de cada criança”, destaca.
Redução de desigualdades
A alfabetização habilita o desenvolvimento de
competências importantes para o pleno exercício da cidadania. Não à toa, ler e
escrever foi privilégio das classes mais abastadas da sociedade por vários
séculos, antes de serem considerados direitos fundamentais de todos os
cidadãos. Portanto, o acesso ao mundo letrado é uma forma de combater a
desigualdade social, pois amplia o repertório humano e permite um trânsito
digno nas esferas da vida social, no mundo do trabalho, das leis e da cultura,
dando acesso ao que é produzido socialmente. “A ampla atividade social
possibilita a conquista de autonomia, assumindo de maneira crítica e criativa a
responsabilidade pelas escolhas, assim como pelo impacto dessas escolhas na sua
vida e na vida em sociedade”, finaliza a especialista.
http://sistemaaprendebrasil.com.br/
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