Para a Sociedade
Brasileira de Mastologia (SBM), dados de publicações científicas devem ser
cuidadosamente avaliados, assim como o histórico pessoal, os hábitos e os
fatores de risco de cada mulher que faz uso de contraceptivos hormonaisnd3000
Um estudo recente, publicado na revista PLOS
Medicine, reacende as discussões sobre câncer de mama e uso de
anticoncepcionais hormonais. No artigo, pesquisadores da Universidade de Oxford
chegaram à conclusão que os riscos de desenvolver a doença, associados às pílulas
com estrógeno e progesterona, ou somente com progesterona, são muito pequenos.
“Uma pesquisa mais ampla, realizada anteriormente com um número muito superior
de mulheres, compartilha a mesma conclusão”, observa o mastologista Guilherme
Novita, diretor da Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM). Mesmo não trazendo
novidades, o médico alerta que o estudo de Oxford chama a atenção para os
índices apresentados pelos pesquisadores. “São números que vêm sendo amplamente
divulgados, mas requerem uma análise aprofundada, justamente para não gerar
desinformação e preocupações desnecessárias entre as mulheres que utilizam
contraceptivos hormonais, que trazem mais benefícios do que prejuízos”, afirma.
O artigo publicado neste mês pela PLOS
Medicine , do qual participaram cerca de 10 mil mulheres com idades
inferiores a 50 anos, indica que as chances de desenvolvimento de câncer de
mama pelo uso de anticoncepcionais hormonais aumentam em até 30%. Para o
mastologista Guilherme Novita, da SBM, a grande discussão não diz respeito
apenas aos números apresentados pelos pesquisadores de Oxford, mas à maneira
como o estudo foi conduzido.
“Este estudo foi realizado a partir de um modelo
que chamamos caso-controle”, diz. O médico explica que neste modelo os
pesquisadores selecionam um número de pacientes com câncer e outro grupo que
não tem a doença e perguntam a cada uma das mulheres se tomaram pílula no
passado. “Se de dez pessoas com câncer de mama, nove tomaram anticoncepcional,
e de dez mulheres sem câncer, só uma usou a pílula, o entendimento é de que o
anticoncepcional está muito relacionado ao câncer de mama.”
O estudo caso-controle, segundo Novita, é bastante
frágil e, em geral, não considera condições importantes, como hábitos,
realidades socioeconômicas e o ambiente em que vivem os grupos pesquisados. “O
nível de controle neste estudo é nível D de evidência, com muitos fatores que
podem interferir no resultado”, ressalta.
A título de comparação, o mastologista lembra o
estudo sobre a Covid-19 em Serrana, no interior paulista, realizado com 50% da
população, recebendo vacina, e a outra metade, placebo. “Este estudo teve nível
A de evidência, e a partir da porcentagem de cada grupo infectado pelo
coronavírus, concluiu-se que a vacina funcionava”, sintetiza.
Outras constatações
O mastologista Guilherme Novita ressalta que o
estudo recente de Oxford, indicando que os riscos de desenvolver câncer de mama
pelo uso de anticoncepcionais hormonais são muito pequenos, entra para o rol
das pesquisas que convergem para a mesma conclusão.
Em 2017, lembra o médico, um estudo publicado na New England
Journal of Medicine, uma das mais prestigiadas publicações
científicas do mundo, resultou do acompanhamento de 1,8 milhão de mulheres na
Dinarmarca, na faixa etária entre 15 e 49 anos, por um período médio de dez
anos. “As mulheres foram avaliadas prospectivamente, com uma população
homogênea, confrontando quem usou anticoncepcionais e quem não usou”, destaca.
Nos resultados, quando comparadas com as que nunca
usaram contraceptivos hormonais, as mulheres que faziam uso de
anticoncepcionais tiveram um risco relativo de ter câncer de mama 9% superior a
partir de um ano e 38% maior a partir de uma década de uso. Em síntese, o
estudo demonstrou que para todas as participantes, a chance de ter câncer de
mama até os 50 anos era de 2%. Para quem usou o medicamento por um ano, 2,2%, e
para quem fez uso por mais de uma década, 2,76%.
“Tanto na pesquisa recente de Oxford quanto no
estudo realizado em 2017, a constatação é de que os anticoncepcionais aumentam
um pouquinho o risco de câncer de mama”, observa Novita. “Mas há outros
fatores, além da pílula, que contribuem significativamente para ampliar as
estatísticas da doença.” O médico destaca, por exemplo, maus hábitos
alimentares, excesso de peso, sedentarismo, consumo diário de álcool em
quantidades moderadas, uso de anabolizantes androgênios por mulheres, falta de
gestação ou gravidez tardia.
“Em uma análise realista, o contraceptivo hormonal
é muito benéfico, pois diminui a gravidez indesejada e as complicações de
gestação em mulheres com menos de 25 anos no Brasil. A diminuição do risco de
câncer de ovário também está relacionada ao uso de anticoncepcional”, enumera.
O mastologista avalia, no entanto, que não se deve utilizar a pílula de forma indiscriminada.
“A recomendação médica é sempre necessária”, diz.
Para pacientes com menos de 40 anos, salvo as que
tenham risco muito elevado por histórico familiar ou por mutação genética, não
há contraindicação para o uso de contraceptivos hormonais. “Evidentemente, como
controle, a mamografia deve ser realizada todos os anos”, indica. Para mulheres
com mais de 45 anos, quando o risco de câncer passa a ser mais significativo, a
recomendação, segundo Novita, é para que se evite o uso sempre que possível, substituindo-os
por anticoncepcionais não hormonais, como preservativos e DIU de cobre.
“Quando se analisam as estatísticas sobre o câncer
de mama, os benefícios do uso dos anticoncepcionais hormonais entre a população
mais jovem são infinitamente maiores que os prejuízos”, conclui Guilherme
Novita.
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