Com apoio da FAPESP e do Banco Industrial do Brasil, o Centro Nacional de Pesquisa e Inovação em Saúde Mental foi inaugurado em evento realizado na quarta-feira (foto: Freepik)
O Centro Nacional de Pesquisa e
Inovação em Saúde Mental (CISM) foi lançado
oficialmente em evento realizado na última quarta-feira (15/03), no Instituto
de Psiquiatria do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo (HC-FM-USP).
Iniciativa
conjunta do Departamento de Psiquiatria da FM-USP e da FAPESP, o CISM deverá
combinar atividades de pesquisa, buscando os fatores que originam e precipitam
os transtornos mentais, com o desenvolvimento de intervenções digitais que
possam promover a saúde mental da população de forma mais inovadora e
escalável. Além disso, se propõe a estudar a implementação de intervenções
comprovadamente efetivas no Sistema Único de Saúde (SUS), de modo a garantir
que o conhecimento gerado pela ciência em saúde mental se traduza em benefícios
reais à população.
Reunindo
pesquisadores das faculdades de medicina da USP, da Universidade Federal de São
Paulo (Unifesp) e da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), as mais
produtivas em saúde mental da América Latina, o CISM já conta com um expressivo
leque de parcerias ou assessorias internacionais, entre elas as das
universidades Harvard e Yale, nos Estados Unidos.
Além do
substancial aporte financeiro provido pela FAPESP, sua criação contou com
recursos do Banco Industrial do Brasil (BIB). No âmbito da FAPESP, o CISM
ficará alocado entre os Centros de Pesquisa em Engenharia/Centros de Pesquisa
Aplicada (CPEs/CPAs) mantidos pela Fundação.
Em apresentação feita durante o evento, Eurípedes Constantino Miguel Filho,
vice-chefe do Departamento de Psiquiatria da FM-USP e coordenador do projeto,
informou com mais detalhes como serão os três eixos estruturantes do CISM.
“No Eixo
1, ‘Neurociência Populacional’, teremos um estudo de coorte [acompanhamento de
um grupo de voluntários] que buscará identificar os fatores de risco
importantes na origem dos transtornos mentais. No Eixo 2, ‘Intervenções
Digitais’, queremos criar um ambiente de inovação em que identificamos as
necessidades da população em saúde mental e partimos para a prototipagem e
desenvolvimento de aplicativos que possam dar conta destes problemas, sendo
devidamente testados do ponto de vista de sua eficácia clínica. No Eixo 3,
‘Ciência da Implementação’, pretendemos implementar intervenções baseadas em
evidências no Sistema Único de Saúde de duas cidades do Estado de São Paulo,
Jaguariúna e Indaiatuba. O objetivo final é oferecer soluções testadas para
serem disseminadas pelo país e adotadas como políticas públicas”, disse.
Referência
internacional
A expectativa é que o modelo do CISM não apenas extrapole as fronteiras
paulistas, podendo motivar iniciativas semelhantes em outros Estados
brasileiros, mas também se torne uma referência internacional, principalmente,
mas não apenas, para países de baixa e média rendas per capita.
Miguel Filho lembrou que os transtornos mentais afetam cerca de 30% da
população na megalópole de São Paulo. Esse número foi levantado por uma pesquisa realizada
há mais de dez anos, mas que continua referencial na área (leia mais em: agencia.fapesp.br/15215/).
“Além
disso, entre todas as condições médicas, os transtornos mentais se destacam por
representar uma grande carga de doença para a população, por serem frequentes,
iniciarem cedo na vida e causarem incapacidade e sofrimento”, ressaltou.
Um dado
quase sempre ignorado é que os transtornos mentais têm início precoce, tendo
seu pico de incidência entre os 14 e 15 anos de idade. Por outro lado, o acesso
ao tratamento é limitado. Estudo que utilizou uma base de dados de mais de 60
mil indivíduos no Brasil mostrou que, por ocasião do levantamento, apenas 20%
das pessoas com depressão haviam recebido algum tipo de tratamento. E que uma
porcentagem importante da população mais vulnerável não estava recebendo ajuda.
Esses números sobrelevam a importância do CISM para o sistema de saúde
brasileiro.
Na
sequência da apresentação, Luis Augusto Rohde, professor titular do
Departamento de Psiquiatria e Medicina Legal da UFRGS, desenvolveu o tema das
tecnologias digitais em saúde mental, contemplado pelo Eixo 2. E afirmou que,
embora os aplicativos dedicados à saúde mental tenham explodido no mercado,
apenas 2% deles são respaldados por pesquisas. “Além disso, 90% dos usuários
abandonam os aplicativos em um prazo de dez dias”, disse.
A proposta
de criação do “Hub Saúde Mental Digital” visa superar esse quadro, tornando-se
um centro de referência nacional para incubação e aceleração de soluções
digitais inovadoras em saúde mental. E, em parceria com o INOVA-HC (núcleo de
inovação tecnológica do hospital), estabelecer um centro de acreditação
para soluções digitais inovadoras em saúde mental.
O detalhamento do Eixo 3 foi feito por Paulo Rossi Menezes,
professor titular do Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de
Medicina de Ribeirão Preto (FMRP-USP). Ele informou que aproximadamente 50% das
intervenções médicas que têm eficácia cientificamente comprovada não chegam à
prática clínica. E que o tempo médio necessário para a implementação gira em
torno de 20 anos. Ou seja, não basta produzir conhecimento de qualidade, é
preciso saber como colocá-lo em prática – o que torna a própria implementação
uma ciência.
Além de Miguel Filho, Rohde e Menezes, a coordenação do CISM conta com a
participação de Jair de Jesus Mari,
professor titular do Departamento de Psiquiatria da Unifesp.
No evento de lançamento, entre várias autoridades, estiveram
presentes Vahan Agopyan, secretário de
Ciência, Tecnologia e Inovação do Estado de São Paulo; Carlos Gilberto Carlotti Júnior,
reitor da USP; Eloisa de Oliveira Bonfá,
diretora da FM-USP; Carlos Alberto Mansur, CEO do BIB; Marco Antonio Zago,
presidente do Conselho Superior da FAPESP; e Luiz Eugênio Mello, diretor
científico da Fundação.
Zago
contou que a proposta original do CISM, que vinha com a doação privada do BIB,
não correspondia exatamente ao modelo dos CPEs/CPAs, que é hoje o maior
programa de cooperação entre universidades e empresas do Brasil, com um
investimento de R$ 1,5 bilhão.
“O professor Luiz Eugênio Mello trabalhou intensamente, junto com
o Carlos Américo Pacheco,
diretor-presidente da FAPESP, para formatar esse centro que estamos lançando
aqui agora. E é isso que eu quero comemorar, a capacidade de nossos diferentes
atores de obter os resultados que importam para a sociedade”, sublinhou Zago.
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/novo-centro-da-usp-pretende-combinar-pesquisa-em-saude-mental-com-atendimento-digital-a-populacao/40916/
Nenhum comentário:
Postar um comentário