segunda-feira, 6 de fevereiro de 2023

Por que se beija tanto no Carnaval?


Está aberta a temporada de pouca roupa no corpo e muita sensualidade da mente. O Carnaval ganha, além do samba, outra “dança” famosa nos dias de folia: “a dança do acasalamento”. Esta mudança de comportamento tem explicação e está dentro do cérebro do ser humano. Quem explica é o Dr. Fernando Gomes, médico neurocirurgião e neurocientista do Hospital das Clínicas de SP. 

“O cérebro, por ter seu forte instinto ligado ao olhar para buscar informações, fica mais sensibilizado ao interesse pelas curvas do corpo, em especial quando elas estão mais expostas. Isso o torna ainda mais “vulnerável” com a maior entrada dessas informações visuais. Processada nos lobos occipitais, que é a parte visual primária do cérebro, ali se formam as imagens que serão refletidas em áreas de associação e no sistema límbico, que é o circuito emocional. É nesse acúmulo de emoções que os casais podem ser envolvidos no Carnaval”, diz. 

O médico conta que, nesta época, certas áreas do cérebro acabam sendo “desligadas” tanto nos homens como nas mulheres, para que outras áreas possam ser ativadas na fase da conquista. “São elas, em especial, as amígdalas nos lobos temporais -- o centro da “defesa” de fuga ou luta - que são “desligadas” e os centros do prazer são ativados como a área tegmental ventral. Nas mulheres, o cortex órbitofrontal lateral esquerdo, responsável pelo controle de desejos elementares, silenciam-se também. E então elas conseguem se despreocupar dos pudores e simplesmente se deixam levar pela sedução”, explica o neurocientista. 

De modo geral, o ser humano é ligado em marcos, em especial em datas e eventos específicos. ”Em festas como o Natal, por exemplo, em que está ligada a união de família e amigos e desabrocha o cunho social. Em finais de ano, as pessoas costumam ajudar mais, fazer caridades, etc. Já o Carnaval é famoso pelas músicas provocantes que remetam ao sexo e ao corpo que fica em grande exposição. Isso tudo leva uma certa “frouxidão” social e naturalmente as pessoas já se deixam levar pela ideia de que é uma época de beijar sem muitos critérios. Isso porque, quando deixamos o cérebro exposto ao olhar do corpo quase nu a sedução fica ainda mais aflorada”, finaliza Dr. Fernando. 



Dr Fernando Gomes - Professor Livre Docente de Neurocirurgia, com residência médica em Neurologia e Neurocirurgia no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina da USP, é neurocirurgião em hospitais renomados e também coordena um ambulatório relacionado a doenças do envelhecimento no Hospital das Clínicas.
drfernandoneuro



Referências:
Cogan GB et al. A kiss is not a kiss: visually evoked neuromagnetic fields reveal differential sensitivities to brief presentations of kissing couples. Neuroreport. 2015 Sep 30;26(14):850-5.
Pinto FC. Neurociência do Amor. Editora Planeta, São Paulo, 2017.


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