Está se tornando cada vez mais comum que
varejistas, consumidores, bancos e investidores queiram saber mais sobre a
origem dos produtos que compram ou financiam. Assim, a rastreabilidade passou a
ser tema central nos fóruns mundo a fora que discutem a produção das diversas
commodities agrícolas. Na produção de carne bovina no Brasil não é diferente, e
frigoríficos, produtores rurais e outros atores têm buscado apoio em
iniciativas que trabalham este tema para responder às novas demandas do
mercado.
Segundo Francisco Beduschi, Líder da National
Wildlife Federation (NWF) no Brasil, o frigorífico é o elo entre a produção e o
mercado, por isso recaem sobre ele os questionamentos sobre a origem dos
produtos. Assim, para ajudar a responder essas questões, a NWF desenvolveu o
Visipec, uma ferramenta gratuita que visa ajudar a aprimorar este trabalho.
“Atualmente a capacidade de monitoramento dos
frigoríficos está restrita à fazenda chamada de fornecedor direto, responsável
pela engorda do gado e pela venda para o frigorífico”, explica Beduschi. No
entanto, isso já não é suficiente. Assim, o Visipec vem para preencher essa
lacuna, habilitando os frigoríficos a verificarem se a fazenda fornecedora
direta e as indiretas, aquelas que produzem os bezerros, cumprem com os
requisitos socioambientais necessários.
Ele ressalta que a NWF fornece apoio técnico e
treinamento para os frigoríficos parceiros, e que o trabalho segue etapas já
testadas e estabelecidas. Por exemplo, quando o frigorífico detecta alguma
irregularidade, a primeira atitude é entrar em contato com o fornecedor para
averiguar o que foi apontado pelo sistema. Caso essa irregularidade seja
comprovada, o frigorífico pode orientar como proceder à regularização, trazendo
assim segurança jurídica para toda a cadeia de produção. “Com isso, tanto o
frigorífico como o pecuarista podem garantir aos consumidores o cumprimento de
normas de produção sustentável e ofertar seus produtos a um número maior de
mercados consumidores.”
Outro benefício é a difusão de informações, para
que essas fazendas possam aprimorar sua atividade em um mercado cada vez mais
competitivo e globalizado. “A produção de bezerros é feita, principalmente, em
pequenas e médias propriedades, que são mais carentes de informações”, avalia
Beduschi.
Ele lembra que existem no país diferentes
tecnologias que podem ajudar na melhoria do sistema produtivo, por exemplo, o
consórcio de gramíneas e leguminosas nas pastagens, a rotação de pastagens, a
ILPF – integração Lavoura Pecuária Floresta, entre outras. Com as informações
trazidas pela rastreabilidade é possível, por exemplo, promover seminários e
cursos de acordo com as necessidades de cada região e arranjo produtivo. Esse
conjunto de benefícios ajuda a melhorar a produção e a produtividade nas
fazendas; a atender as demandas dos mercados para os quais o Brasil vende; e a
aumentar a possibilidade de abrir as portas de mercados mais exigentes.
No entanto, o Líder da NWF no Brasil pondera que a
pecuária nacional apresenta grandes desafios para ampliar sua rastreabilidade:
o tamanho do rebanho, formado por mais de 200 milhões de cabeças espalhadas em
cerca de 150 milhões de hectares; e o sistema de produção, onde muitas vezes os
animais passam por várias propriedades antes de chegar ao frigorífico. “É
importante lembrar que o Brasil não conta com um sistema de
rastreabilidade individual para bovinos adotado em larga escala”, afirma.
Ainda assim, ele ressalta que os benefícios
mercadológicos e para o sistema produtivo são muito superiores aos desafios,
então é preciso que a cadeia toda envide esforços neste sentido. “A
rastreabilidade deve ser vista como um elemento central na produção pecuária,
pois ajuda a trazer equilíbrio aos três aspectos da sustentabilidade –
econômico, social e ambiental”, finaliza.
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