sexta-feira, 23 de dezembro de 2022

HIV: preconceito e tabu ainda são desafios para diagnóstico precoce

No Brasil, são 50 mil novos casos por ano e 950 mil pessoas vivendo com o HIV, 27% delas sem tratamento 

 

Testes de quarta geração detectam a presença do vírus em menos de 20 dias após a exposição já estão disponíveis, mas o medo, a desinformação e o preconceito ainda impedem a detecção precoce e o início do tratamento  

 

Dezembro vermelho. O mês dedicado à mobilização contra a AIDS e outras infecções sexualmente transmissíveis chama atenção para o número de casos e os desafios que ainda travam o diagnóstico precoce do HIV.   

Segundo informações da World Health Organization, existem hoje 38,4 milhões de pessoas no mundo que vivem com HIV, e este dado vem crescendo de forma preocupante, com uma média de 1,5 milhão de novos casos por ano. No Brasil, são 50 mil novos casos por ano e 950 mil pessoas vivendo com o HIV, 27% delas sem tratamento e o Ministério da Saúde estima ainda que mais de 100 mil brasileiros desconhecem que possuem o HIV.  

A doença ainda não tem cura mas as pesquisas avançam para um cenário cada vez mais positivo para os portadores do vírus, como explica Dr Alexandre Cunha, Médico Infectologista do Grupo Sabin e Vice Presidente da Sociedade de Infectologia do Distrito Federal, “é importante deixar claro que o prognóstico está diretamente relacionado ao diagnóstico, quanto antes o diagnóstico for realizado e o tratamento iniciado melhores os resultados obtidos”. 

Para garantir o menor impacto do HIV no organismo, evitando a evolução do quadro para a Aids, a detecção precoce é fundamental mas este ainda é um grande ponto de resistência, como explica o psicólogo líder da Amparo Saúde, especialista em saúde pública, Hugo Cantagalo Couto “embora os avanços tecnológicos tenham sido imensos no tratamento da Aids, os estigmas sociais relacionados a doença ainda se perpetuam na sociedade”.   

Além do medo de ter que conviver com uma doença que não tem cura, há o medo da exclusão social, medo de ser colocado num lugar ainda marginalizado. Hugo explica que, “numa tentativa de ignorar a realidade, evita-se fazer o diagnóstico, numa ideia de que só tem a doença quem faz o teste, o que custa caro para a própria pessoa, seus parceiros e para a toda a sociedade, porque sem saber, ela pode estar sendo um agente disseminador do vírus”.  

A tecnologia para a detecção da presença do vírus no organismo fez grandes avanços e os testes de 4ª geração já conseguem apontar a presença de antígenos com cerca de 15 a 20 dias após a exposição, o que permite um diagnóstico mais rápido e o início precoce do tratamento.   

Grazielle Rodrigues Castilho, coordenadora do setor de imunologia do Grupo Sabin ressalta que “muitos ainda temem falsos positivos e falhas no diagnóstico mas não é preciso ter medo, os fluxos para o diagnóstico de HIV são padronizados e seguros, contando sempre com testes confirmatórios, conforme regulamentação do Ministério da Saúde. Após um imuno-ensaio de 4ª geração com resultado positivo, um teste molecular é realizado para complementar o diagnóstico, garantindo mais assertividade e segurança”. 

Em outubro, um estudo apresentado na IDWeek Conference in Washington, nos Estados Unidos, que acompanhou 4.446 pessoas portadoras do vírus evidenciou que na comparação entre os grupos da pesquisa, os resultados apontaram que o tratamento precoce melhora de forma significativa a saúde, além de diminuir a possibilidade do desenvolvimento da Aids e de outros problemas graves.   

Dr. Alexandre conclui, “Hoje, a detecção precoce do HIV em pacientes assintomáticas pode garantir que esse paciente nunca vai desenvolver a doença”. 

 

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