Sociedade de Pediatria do RS alerta para crescimento do número de casos nos últimos anos
A
Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que 700 mil mortes aconteçam
anualmente por suicídio. Alcançando todas as faixas etárias, esta é a 4ª causa
de morte entre jovens de 15 a 19 anos, configurando um significativo desafio
para profissionais de saúde como os pediatras, fundamentais para que crianças e
jovens cheguem com segurança à idade adulta.
No
último mês, a Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) promoveu debate sobre o
tema em transmissão virtual que contou com participação da Sociedade de
Pediatria do Rio Grande do Sul (SPRS), representada pela dra. Maria de Fátima
Fernandes Gea, membro da Diretoria Executiva da entidade. O encontro reforçou
como a atualização constante dos pediatras e a medicina preventiva podem ser
essenciais na prevenção dos suicídios a autoagressões infantis, que aumentaram
nos últimos anos. Segundo a dra. Maria de Fátima, na última década quase
duplicou o número de casos de suicídio em crianças e jovens até 19 anos.
“De 606
óbitos em 2010, passamos a 1.022 em 2019, aumentando a taxa de 3,5 para 6,4
casos a cada 100 mil habitantes. É um grave problema que não podemos ignorar”,
disse ela, salientando que Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Piauí são os
estados com o maior número de vítimas.
Ilustrando
os casos notificados no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SINAN)
em Porto Alegre, de 2019 a agosto de 2022, a médica relatou que entre crianças
e jovens de 5 a 19 anos foram registrados 278 casos de autoagressão e 1.133
tentativas de suicídio. Os números, entretanto, devem ser maiores, pois existe
uma subnotificação de casos, conforme ela.
Para a
dra. Maria de Fátima Gea, as Portarias MS/GM nº 104/11 e nº 1.271/14 foram
avanços importantes, já que tornam compulsórias aos profissionais de saúde as
notificações envolvendo violências e tentativas de suicídio.
“As
notificações, porém, não são exclusivas aos profissionais de saúde, mas outros
setores como educação, assistência social e Conselho Tutelar também podem
relatar esses casos. Nós, enquanto profissionais de saúde, devemos entender o
nosso papel na rede de proteção e estar atentos aos sinais. A notificação não é
uma denúncia, é com ela que podemos qualificar e criar novas políticas públicas
para enfrentar essa situação”, explica.
Causas e sinais de alerta
No
entendimento do membro do Departamento Científico de Segurança da SBP dr. Marco
Antônio Chaves Gama, o suicídio é multifatorial, podendo estar ligado a
transtornos mentais como depressão, bipolaridade, dependência de álcool e
outras drogas psicoativas, grandes perdas por morte, abandono parental,
conflitos e violência intrafamiliar.
"Injustiças,
indução de distorção da realidade e dignidade são possíveis fatores, assim como
fracassos e frustrações ou por não conseguir as suas expectativas ou dos pais,
objetos cortantes e medicamentos não guardados adequadamente, demora na procura
de ajuda, falta de afeto, exclusão das tribos e cyberbullying”, diz o médico,
apontando a relevância dos pais desenvolverem o pensar, o afeto e a autoestima
das crianças.
De
acordo com ele, são sinais de alerta nesses casos: autoagressão, ideação,
desaparecimento de planos e metas, tristeza intensa, alteração de apetite,
queda de rendimento escolar, isolamento social, falta de cuidados de higiene,
manifestações negativas nas redes, irritabilidade, agressividade e pedidos por
ajuda médica.
Julian Schumacher
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