A doença, que é
mais comum em homens acima de 50 anos, pode passar despercebida e ser
confundida com problemas de saúde bucal. Oncologista comenta sinais para ficar
de olho e importância do diagnóstico precoce
Podendo surgir de maneira silenciosa, o câncer
bucal merece atenção - principalmente porque boa parte dos óbitos são
decorrentes da demora no diagnóstico. Segundo a Organização Mundial da Saúde
(OMS), 90% dos casos da neoplasia estão ligados ao álcool e ao tabagismo e, de
acordo com o Instituto Nacional do Câncer (Inca), é estimado que a cada ano do
triênio 2020/2022 sejam detectados 15.190 novos casos de câncer de boca e
orofaringe, sendo 11.180 em homens e 4.010 em mulheres.
O Dr. Andrey Soares, oncologista do Grupo
Oncoclínicas, alerta que os sintomas costumam ser discretos, podendo passar despercebidos.
"Aftas insistentes, feridas na boca que não cicatrizam, manchas brancas e
sangramento repentino precisam ser avaliados para o diagnóstico correto",
explica.
Muitas vezes, o câncer de boca pode até mesmo ser
confundido com problemas de saúde bucal. "Por isso, é muito importante
falar sobre o assunto e levar a informação adiante. Dessa maneira, a partir do
surgimento da doença, é possível identificar a condição para que o tratamento
seja realizado o quanto antes”, comenta o oncologista.
Prevenção e diagnóstico
Como forma de prevenção, é muito importante manter
visitas regulares ao dentista, além dos cuidados com a higiene da boca de
maneira geral. "Isso pode evitar que o câncer seja descoberto em estágios
mais avançados, salvando vidas", reforça. Além disso, é fundamental evitar
o consumo excessivo de bebidas alcoólicas e também o tabagismo.
O diagnóstico pode ser realizado através do exame
clínico, mas para que o câncer seja de fato confirmado, é necessário biópsia.
Após a descoberta, o médico irá solicitar exames para verificar o estágio e
definir o melhor tratamento. São eles:
- Tomografia
computadorizada ou ressonância nuclear magnética: traz informações
importantes quanto à extensão das estruturas comprometidas, bem como
auxilia no diagnóstico diferencial com lesões benignas;
- PET/CT: realizado em alguns casos
para avaliar se há lesões relacionadas à doença em outros órgãos
(metástases);
- Exames
de sangue: os
exames de sangue não podem diagnosticar tumores da boca. No entanto, são
solicitados para avaliar o estado de saúde geral do paciente,
especialmente antes do tratamento;
- Exame
odontológico: antes do tratamento radioterápico, o médico pode solicitar ao
paciente um exame dentário preventivo e, caso necessário, realizar a
remoção dos dentes antes do início do tratamento. No caso de haver a
remoção de uma parte da mandíbula ou do palato, o ortodontista irá
trabalhar para garantir que os dentes artificiais e os dentes naturais
remanescentes se encaixem corretamente.
"Vale lembrar, ainda, que o diagnóstico do
câncer de boca ocorre na maioria das vezes em homens acima de 50 anos",
comenta Andrey. Contudo, a doença pode acontecer em diversas partes da região,
como lábios, bochechas, assoalho bucal, gengiva, amígdalas, céu da boca, entre
outras.
Tratamento
Geralmente, o tratamento da neoplasia é, na maioria
das vezes, realizado de maneira cirúrgica - seja para lesões menores ou
maiores. Dentre os procedimentos, a quimioterapia também é uma alternativa para
complementar a cirurgia ou ainda quando ela não pode ser realizada.
"O procedimento consiste na retirada do tumor
da região e também de linfonodos do pescoço. Além disso, pode ser realizado
outros procedimentos caso necessário, como a ressecção de segmentos
ósseos", explica Andrey Soares.
Contudo, o tratamento pode incluir:
- Radioterapia
IMRT: é
um tipo de radioterapia que tem maior precisão na hora de tratar o tumor.
Com isso, o paciente apresenta menos efeitos colaterais e os resultados
são mais expressivos;
- Terapia-alvo: são drogas que funcionam de
forma diferente da quimioterapia padrão. Elas tendem a ter efeitos
colaterais diferentes (e menos graves) e atuam impedindo que a célula
tumoral se multiplique, retardando ou mesmo interrompendo o crescimento
das células cancerosas. Esta terapia pode ser combinada com a radioterapia
para alguns tipos de câncer em estágio inicial ou com a quimioterapia em
casos avançados;
- Imunoterapia: esse tipo de tratamento
aumenta a atividade das células de defesa do paciente para combater a
doença. Pode ser utilizado combinado ou não com quimioterapia, a depender
de características clínicas do paciente e da expressão do PDL1, que é uma
proteína presente na superfície do tumor.
Fatores de risco
Diversos especialistas acreditam que o
desenvolvimento do câncer de boca está relacionado ao estilo de vida. Durante a
pandemia, de acordo com um estudo realizado pela Fiocruz, 33% dos fumantes
brasileiros aumentaram o uso de cigarros no período. Segundo Andrey Soares, foi
possível notar ainda uma maior ingestão de bebidas alcoólicas. Um estudo
realizado pelo Instituto Brasileiro do Fígado (Ibrafig) apontou que 17,2% dos
entrevistados declararam um aumento do consumo de álcool. "A médio e longo
prazo isso pode impactar nos diagnósticos de câncer, como o de boca, fígado,
intestino, entre outros. Por isso, é muito importante que o uso excessivo,
tanto do álcool como do tabagismo seja freado pela população para evitar danos
maiores", explica.
Uma dieta pobre em vitaminas e minerais, além da
exposição excessiva aos raios UVA e UVB nos lábios, sem proteger a região,
podem também contribuir para o surgimento do câncer de boca. "É importante
reforçar que nos últimos anos o HPV também tem sido um fator de risco entre os
mais jovens, principalmente pelo sexo oral sem proteção. Como alternativa, as
medidas preventivas, como o uso de preservativos e a vacinação, devem ser
sempre colocadas em prática para contornar o desfecho da condição",
finaliza o oncologista do Grupo Oncoclínicas.
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