Todos os anos, aos 25 de outubro, o planeta se mobiliza para destacar o Dia mundial de conscientização sobre a Mielomeningocele. Uma ação cidadã da relevância, tendo em vista que a doença é uma ameaça real à saúde, à capacidade mental e produtiva e à vida de parte de nossas crianças, de nossas próximas gerações.
A
Mielomeningocele atinge bebês ainda durante a gestação. Também chamada de
Espinha Bífida Aberta, apresenta incidência aproximada de 1/1000 nascidos vivos
no Brasil. É causa de paralisia dos membros inferiores, atraso no
desenvolvimento intelectual, alterações intestinais, urinárias e ortopédicas.
Consiste em um
defeito da coluna vertebral e da medula espinhal, que acontece nas primeiras
semanas de gestação, durante a formação do feto, podendo ser em qualquer região
da coluna.
Até então, não
se sabe ao certo a causa exata da mielomeningocele, mas supõe-se que pode estar
relacionada à soma de fatores genéticos e ambientais como etnia, histórico
familiar, deficiência de ácido fólico.
Tratamento
e cirurgia
Até há alguns
anos, a correção da espinha bífida só era feita com um procedimento cirúrgico
após o nascimento. Cerca de 80% dos bebês operados necessitavam da colocação de
drenos no cérebro e grande parte deles precisava de cirurgias repetidas, o que
resultava em progressiva redução da capacidade intelectual e altas taxas de
óbito: 15% até o quinto ano de vida.
Em 2011,
estudos americanos demonstraram que os bebês com espinha bífida poderiam ser
tratados ainda no útero por cirurgia aberta. Isso com significativo aumento na
chance de andar, melhora no desenvolvimento intelectual e menor necessidade de
colocação de drenos cerebrais após o nascimento.
“Quanto mais
cedo corrigimos a mielomeningocele, menores são as chances de essa criança ter
que realizar tratamento para a hidrocefalia, ou seja, colocar o dreno no
cérebro. Pois, ao se colocar o dreno, atrapalha-se muito o desenvolvimento
cognitivo dessa criança”, explica Fábio Peralta, médico responsável responsável
pela Medicina Fetal da Maternidade São Luiz Star/Rede D'Or, do CETRUS e da
Cirurgia Fetal do Centro Gestar de Medicina e Cirurgia Fetal, além de
coordenador do programa de cirurgia fetal do Hospital do Coração.
Atualmente, o
tratamento intrauterino por cirurgia aberta no útero tem sido o ideal para
fetos com mielomeningocele. Porém, nem todos os bebês podem ser operados
durante a gestação. Existem indicações específicas. Por exemplo, a idade
gestacional entre 19 e 26 semanas. Após esse período, o procedimento só poderá
ser realizado fora do útero.
No Brasil, o
grupo de cirurgia fetal do Centro de Medicina Fetal Gestar e da Rede Gestar de
Medicina Materno-Fetal, coordenado pelo dr. Fábio Peralta, é referência mundial
na utilização de técnica semelhante, mas aprimorada, de forma a diminuir os
riscos maternos e o parto prematuro. Estudos publicados1 pelo
professor Fábio Peralta e considerado uma nova luz por médicos de todos os
continentes.
Prevenção
A prevenção da
mielomeningocele pode ser feita por meio de acompanhamento obstétrico desde o
planejamento da gravidez. Mulheres que estão programando uma gestação devem
entrar em contato com seus obstetras para orientações de medidas preventivas,
como a suplementação de ácido fólico.
“Prevenir a
espinha bífida é uma medida relativamente simples e muito importante. O uso do
ácido fólico, pelo menos um mês antes da paciente engravidar e dois ou três
meses durante a gestação, reduz em 95% a incidência dos defeitos de fechamento
do tubo neural do bebê. A prevenção é, com certeza, o melhor caminho”, finaliza
Fábio.
1 Estudos
publicados
Fetal Myelomeningocele Repair through a Mini-Hysteroctom, Rafael Davi Botelho, Vanessa Imada, Karina Jorge Rodrigues da
Costa, Luiz Carlos Watanabe, Ronaldo Rossi Júnior, Antônio Afonso Ferreira De
Salles, Edson Romano, Cleisson Fábio Andrioli Peralta - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/27656888/
Fetal open spinal dysraphism repair through a
mini-hysterotomy: Influence of gestational age at surgery on the perinatal
outcomes and postnatal shunt rates, Cleisson F A Peralta, Rafael D Botelho, Edson R Romano, Vanessa
Imada, Fabrício Lamis, Ronaldo R Júnior, Fernando Nani, Gerd H Stoeber, Antônio
A F de Salles - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32112579/
Fetal open spinal dysraphism repair through a mini-hysterotomy:
Influence of gestational age at surgery on infants’ ability to walk, Cleisson Fábio Andrioli Peralta, Rafael Davi Botelho, Vanessa
Imada, Fabricio Lamis, Danielle Ribeiro Vieira Antunes, Fernando Nani, Andreza
Gonzaga Bartilotti Balsalobre - https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/34583428/
Nenhum comentário:
Postar um comentário