terça-feira, 30 de agosto de 2022

Pesquisa sugere novo alvo de tratamento para glioblastoma, um dos tumores de cérebro mais comuns e fatais

Estudo publicado preliminarmente na revista Neuro-Oncology foi conduzida por grupo internacional de pesquisadores contou com a participação do Hospital Sírio-Libanês


 

Um dos tipos mais comuns de câncer do sistema nervoso central é o glioblastoma, que representa quase metade de todos os casos. Estima-se que 11 mil novos casos serão diagnosticados este ano, segundo o Instituto Nacional do Câncer. Esse tipo de tumor acomete células do sistema nervoso central localizadas no cérebro, chamadas de células gliais, daí o nome glioblastoma. O tumor é bastante agressivo, tende a se espalhar rapidamente pelo cérebro, e tem uma média de sobrevida de apenas 15 meses, figurando entre os tumores humanos mais mortais. Apesar de ser o tipo mais frequente de tumores cerebrais, o tratamento para essa doença avançou pouco nas últimas décadas.

 

Conhecer o funcionamento da doença é a melhor forma de encontrar novas avenidas de tratamento. E um passo muito importante nesse sentido foi dado recentemente, com a publicação na revista Neuro-Oncology de um estudo conduzido por um grupo internacional que contou com a participação do time de pesquisadores do Hospital Sírio-Libanês. Pela sua importância e potencial implicação na prática médica, o artigo com o estudo foi disponibilizado em pré-print, online, com previsão de publicação nos próximos meses.

 

O trabalho descobriu que o gene ELF4 é crítico para o processo do glioblastoma. Esse foi o primeiro estudo a fazer a associação desse gene a esse tumor. Ele já havia sido relacionado a câncer de fígado, mama, próstata e colorretal. Esse gene tem, entre suas várias funções, mediação de duas vias celulares – como se fossem duas ruas controladas por um mesmo farol. “Como esse gene atua em diversos processos, é muito difícil controlar o ELF4 diretamente, pois essa ação não terá um efeito específico apenas no glioblastoma”, explica o Dr. Pedro Galante, pesquisador do Sírio-Libanês que fez parte da pesquisa. “Com o conhecimento científico, podemos focar diretamente nas vias celulares, aumentando a especificidade e eficácia de novos possíveis tratamentos”, diz.

 

São duas as vias celulares que foram associadas ao glioblastoma. A primeira, atua como parte da sinalização que regula a progressão do tumor. Ao interromper o ciclo celular, portanto, é possível evitar que uma célula cancerosa se multiplique de forma descontrolada, impedindo o avanço do câncer. A segunda via é de lipídios, que forma a parte externa (membrana) da célula. O gene atua na mudança da composição dos lipídios da membrana celular. Essas alterações acabam ajudando a promover a multiplicação das células tumorais.

 

Conhecer a ciência básica por trás dos processos de carcinogénese tem gerado resultados extraordinários no avanço do tratamento de diversos tipos de cânceres, com a criação de terapias-alvo que permitem atingir em cheio os mecanismos que levam à origem e progressão da doença. A boa notícia do estudo é que já existem medicamentos que atuam justamente nessas vias celulares associadas ao gene ELF4, são drogas inibidores das vias celulares de tirosina-kinase e também drogas relacionadas ao metabolismo de lipídeos. “Nosso trabalho sugere que um reposicionamento de medicamentos que já existem, aliado a combinação de medicamentos para atuar nessas duas vias moleculares, podem se mostrar muito benéficos para os pacientes em estudos clínicos.”, informa Pedro Galante. “Do ponto de vista molecular, nossa pesquisa indica que esse pode ser um novo e promissor caminho para se tratar esse tumor ainda tão mortal que é o glioblastoma.”

 


Sociedade Beneficente de Senhoras Hospital Sírio-Libanês

Portal IEP (hospitalsiriolibanes.org.br)


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