Médico
especialista fala sobre as inovações no tratamento e importância do diagnóstico
precoce
Embora tenha em seu nome a palavra “Esclerose”,
costumo dizer que a Esclerose Múltipla (EM) está além deste significado,
principalmente porque não se trata de uma demência e nem uma doença de idosos.
Ela é, na realidade, muito comum entre pacientes jovens, entre 20 e 40 anos,
principalmente mulheres, e já podemos considerar uma das grandes causas de
incapacidade neurológica entre este público.
A causa ainda é desconhecida, no entanto, sabemos que há uma interação entre
fatores genéticos e ambientais, como, por exemplo, valores baixos de vitamina
D, infecção pelo vírus Epstein-Barr, tabagismo e obesidade.
A manifestação mais comum da doença costuma ocorrer em forma de surtos, ou
seja, sintomas neurológicos que podem durar dias ou semanas. Estes sintomas
surgem de repente e, depois, diminuem ou desaparecem, retornando depois de um
tempo.
Estes surtos podem comprometer algumas funcionalidades do organismo, como a
visão, a sensibilidade, a força muscular, a coordenação e outras funções do
sistema nervoso central. Em um dos surtos mais típicos, o paciente fica com
visão embaçada e dificuldade para enxergar, além de sentir dor quando movimenta
os olhos, o que chamamos de neurite óptica.
Além disso, também recebo pacientes que sofrem surtos como dormência e
formigamento dos membros, desequilíbrio, fraqueza muscular, incontinência
urinária e diversos outros.
Já entre um surto e outro, o paciente começa a identificar outros sintomas. É
comum o paciente ter fadiga, problemas de atenção e concentração, disfunção
sexual e dificuldade de controlar a bexiga ou o intestino. Isso provoca a queda
na qualidade de vida, afetando a vida pessoal, social e profissional.
Mas vale ficar atento, pois, em alguns casos, a doença não aparece dessa forma
e, sim, de maneira progressiva. Esse é aquele paciente que começa a perceber
que tem cada vez mais dificuldade para andar, aumento progressivo da fraqueza
muscular, do equilíbrio, da cognição e dos sentidos.
Por conta disso, o maior desafio que enfrentamos é conseguir diagnosticar
precocemente este paciente. É comum que ele procure diversos especialistas por
conta dos sintomas específicos, sem considerar que todos podem estar
relacionados a uma mesma doença. Caso o diagnóstico e início do tratamento seja
tardio, pode ocorrer um acúmulo de sequelas, deteriorando ainda mais a vida
deste paciente.
Antes de 1993 não havia nenhum tratamento eficaz aprovado. Hoje, felizmente,
existem mais de 10 opções de tratamento para frear doença. Cada opção possui um
grau de eficácia e um perfil de efeitos adversos e a escolha é sempre
individualizada. O objetivo deste tratamento é prevenir novos surtos, novas
lesões e o acúmulo de incapacidade.
Ainda não temos uma cura, mas, hoje, após 29 anos da primeira terapia aprovada,
a história e o prognóstico de pacientes com esclerose múltipla melhorou
significativamente. Felizmente, um grande percentual destes pacientes pode não
evoluir mais para incapacidade neurológica importante e ter uma boa qualidade
de vida, caso recebam diagnóstico e tratamento precoces.
Portanto, com todas as informações que temos hoje, reforço que é muito
importante ficar atento a sintomas neurológicos novos em pessoas jovens e que
persistam por mais de 24 horas. O ideal é, além de procurar por médicos
generalistas, visitar o neurologista para relatar todos os sintomas. Afinal, o
diagnóstico e tratamento precoces serão decisivos na evolução da doença.
Dr. Mateus Boaventura de Oliveira - neurologista da
Rede de Hospitais São Camilo de São Paulo, com especialização em Esclerose
Múltipla pelo Cemcat- Hospital Vall d’Hebron, de Barcelona, e título de
especialista pela Academia Brasileira de Neurologia. Atualmente, realiza
pesquisas científicas e acompanha diversos pacientes com EM.
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