segunda-feira, 1 de agosto de 2022

Cistos intracranianos: o que fazer quando meu filho apresentar esse problema?

Dor de cabeça persistente pode indicar pressão no cérebro e presença de cisto

 

Sintomas como dor de cabeça e até mesmo atraso no rendimento escolar estão entre os principais motivos que levam os pais a buscarem ajuda médica para os filhos e, normalmente, o especialista solicitar exames de imagem para identificar a origem do problema.


“Hoje em dia é comum a realização de exames radiológicos como a tomografia e a ressonância do encéfalo e, muitas vezes, cistos cerebrais podem ser identificados nestes exames. Entretanto, nem sempre a presença do cisto está associado a sintomatologia apresentada. Em muitos casos, são “achados” de exames.”, explica Dr. Ricardo Santos de Oliveira, neurocirurgião pediátrico.


Nestas situações, é importante a opinião de um profissional habilitado para avaliar se o cisto cerebral pode ter alguma relação com os sintomas apresentados e tranquilizar os pais.


Mas, o que é um cisto intracraniano?

O cérebro é revestido de membranas e entre a primeira estrutura e a parte mais rígida - a membrana dura-máter - existe um espaço chamado subaracnóidea, onde ocorre a formação de um tipo de represamento do líquor produzido 24 horas por dia, que circula dentro das cavidades ventriculares e que precisa ser reabsorvido. Essa reabsorção ocorre em estruturas conhecidas como vilosidades aracnoides. Neste espaço, podem surgir compartimentos e desencadear o aparecimento do cisto aracnoide. 


Quando o cisto aracnoide pode gerar preocupação para os pais?

A preocupação maior é quando é identificado em crianças menores de 2 anos e que apresentam um crescimento progressivo da cabeça - que foge da curva normal do perímetro craniano. Este caso pode indicar o crescimento do cisto devido falha no escoamento do líquor nas cavidades ventriculares. Geralmente, o aumento do cisto causa compressão na região e compromete o desenvolvimento natural do cérebro da criança.


 Por outro lado, o cisto intracraniano pode ser identificado em todas as idades. A avaliação especializada poderá determinar se existe ou não indicação de cirurgia.


A dor de cabeça persistente também é um indicador de aumento da pressão craniana e isso está relacionado com a expansão do cisto.

Como é realizado o tratamento dos cistos intracranianos?

Normalmente, quando o cisto é pequeno e não apresenta crescimento progressivo, a ressonância deve ser repetida após 6 meses da realização do primeiro exame para acompanhar o caso, no entanto, em situações em que o cisto apresenta crescimento, muitas vezes, há necessidade de intervenção cirúrgica.


Cistos grandes devem ser operados? O cisto pode romper?

É possível encontrar cistos grandes mas estáveis, ou seja, que não apresentam crescimento e podem ser acompanhados com exames de imagem. Outros cistos podem progredir e necessitarem de tratamento cirúrgico. 


Há também casos em que o paciente – portador de um cisto intracraniano -  pode descompensar esse cisto depois de um traumatismo craniano. “Então, as duas situações podem ocorrer, o trauma pode levar a uma descompensação do cisto e o trauma pode levar ao diagnóstico de um cisto”, explica Dr. Ricardo.


Pode ocorrer uma ruptura espontânea do cisto e, também, associada a traumatismo craniano. Entretanto, são situações raras.


Quais são as cirurgias indicadas para os cistos aracnoides?

O objetivo da cirurgia é comunicar o cisto com as estruturas normais do crânio.

Pacientes que tem cistos pequenos, que não estão em progressão ou que a clínica nada tem a ver com o cisto, devem ser observados.


Já para os pacientes que apresentam progressão do cisto ou sintomas relacionados ao cisto aracnoide, a exemplo dos que estão localizados na região temporal – próximo a região da orelha – o procedimento cirúrgico deve ser indicado.


Há três tipos de cirurgias para os cistos aracnoides:


A microcirurgia, que corresponde a realização de uma pequena incisão, abordagem direta do cisto. A parede do cisto é rompida com auxílio de um microscópico, permitindo que o líquor possa ter a circulação reestabelecida no cérebro.


O neuroendoscópico que é uma ferramenta utilizada pelo neurocirurgião que permite uma pequena perfuração no crânio e introdução do endoscópico que atinge o núcleo do cisto (parte interna). Dependendo da localização do cisto, pode ser indicada a cirurgia aberta ou a endoscópica. Essas duas cirurgias conseguem tratar a grande maioria dos cistos.


A outra possibilidade de tratamento é a instalação de uma derivação cisto-peritoneal, entretanto, não deve ser realizada como primeira escolha de tratamento.

 

Quais são os riscos do tratamento cirúrgico para a criança?

Dentro do cisto a pressão é muito alta, isso porque existe um crescimento e aumento da pressão dentro na região. Quando é realizado um tratamento com abertura de uma janela, para acessar o cisto e realizar a comunicação, toda a pressão é modificada. Um dos principais problemas que podem ocorrer é o escape de líquido pela cicatriz cirúrgica, chamada de fístula liquórica, por isso é importante a realização ampla da comunicação do cisto com as estruturas intracranianas e, ao final, o fechamento deve ser bem executado para minimizar a possibilidade de escape de líquido.

 



Dr. Ricardo de Oliveira - Graduado em Medicina pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto da Universidade de São Paulo (FMRPUSP). Doutor em Clínica Cirúrgica pela Universidade de São Paulo, com pós-doutorados pela Universidade René Descartes, em Paris, na França e pela FMRPUSP. É orientador pleno do Programa de Pós-graduação do Departamento de Cirurgia e Anatomia da FMRPUSP e médico assistente da Divisão de Neurocirurgia do Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
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