A queda nas cirurgias pelo SUS foi de 77 % se comparado o ano de 2019 com o ano de 2021. Já pelos planos de saúde, os procedimentos caíram em 11,9%
A diretoria da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica e Metabólica (SBCBM) solicitou, nesta quarta-feira (26), em audiência com o Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, a revisão das portarias número 424 e 425 de 19 de março de 2013 e que estabelecem as diretrizes do tratamento da obesidade no Sistema Único de Saúde (SUS), bem como o regulamento de normas e critérios para a Assistência de Alta Complexidade ao Indivíduo com Obesidade.
“Desde 2013 o cenário da obesidade no Brasil mudou muito, especialmente depois da pandemia, quando tivemos a paralização dos procedimentos e, em contrapartida, o aumento da obesidade e das doenças associadas a ela no país”, afirmou o presidente da SBCBM, Fábio Viegas.
Segundo ele, por sugestão do próprio Ministro da Saúde, será montado um grupo de trabalho para a revisão de portarias que já estão complementando uma década e, que poderão trazer benefícios aos pacientes, incluindo a viabilização da cirurgia laparoscópica, por meio de programas de qualificação e incentivo para os hospitais.
Em 2021, 52% dos brasileiros entrevistados pelo estudo Diet & Health Under Covid-19, declararam ter engordado. Segundo a pesquisa, que entrevistou 22 mil pessoas de 30 países, os brasileiros ganharam, em média, cerca de 6,5 quilos neste período.
O Ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, reiterou a importância da revisão das portarias, uma vez que após nove anos as diretrizes para prevenção e tratamento da doença vêm sendo atualizadas.
“Teremos um grupo de trabalho para formalizar esta revisão, juntamente com representantes da Sociedade Brasileira de Cirurgia Bariátrica”, declarou o Ministro.
Fila de acesso à bariátrica
“Em contrapartida as filas para o acesso a cirurgia bariátrica pelo Sistema Único de Saúde (SUS) aumentaram e, em muitos estados do Brasil, o número de pessoas que aguardam pelo procedimento é desconhecido pelo sistema público”, afirmou Fábio Viegas.
A diretoria da SBCBM sugeriu a organização de filas estaduais para que seja possível promover o acesso, priorizando principalmente os pacientes mais graves. “A obesidade e doenças associadas a ela aumentaram e, aliado a isso, houve uma redução no número de cirurgias bariátricas em 2020. Este cenário ocasionou em um tempo de espera ainda maior para os pacientes que buscam o SUS para o tratamento cirúrgico da obesidade”, afirma Viegas.
O Brasil conta atualmente com 7.700 hospitais, em 5.568 municípios brasileiros. Destes, apenas 98 serviços realizam a cirurgia bariátrica e metabólica, sendo que quatro estados brasileiros não oferecem o procedimento. Atualmente Amazonas, Rondônia, Roraima e Amapá não possuem serviços habilitados no SUS para bariátrica.
A Sociedade ofereceu suporte no que se refere a certificação e acreditação de cirurgiões e hospitais no Brasil, para avaliação dos serviços de cirurgia existentes e para ampliar a oferta de atendimento e capacitar serviços que ainda não estão habilitados em cirurgia bariátrica pelo SUS.
“Estamos dispostos a contribuir com este processo, já que existe desinformação quanto a habilitação e credenciamento dos estabelecimentos no SUS. A ideia é desenvolver um plano estratégico para a demanda de procedimentos eletivos postergados durante a pandemia, diminuindo o tempo de espera para realização do procedimento cirúrgico”, destacou Viegas.
Dados de Bariátrica no Brasil
Entre os anos de 2019 e 2021 foram realizadas 19.203 cirurgias bariátricas pelo SUS no país, sendo 12.568 procedimentos em 2019; 3.129 procedimentos em 2020 e 1935 procedimentos em 2021. A queda foi de 77 % se comparado o ano de 2019 com o ano de 2021 e de 23% se comparado o ano de 2020 com o ano de 2021.
Já as cirurgias por planos de saúde, segundo os últimos dados da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS), saíram de 52.699, em 2019 para 46.419 em 2020. Já em 2021 foram realizados 56.991 procedimentos pela ANS. A queda de 2019 para 2020 foi de 11,9%.
Indicação
Entre os critérios previstos nas portarias 424 e 425 do Ministério da Saúde para realização da cirurgia bariátrica pelo SUS estão o encaminhamento de pacientes com Índice de Massa Corporal (IMC) de 50 Kg/m2 e pacientes com IMC ³40 Kg/m², com ou sem comorbidades, sem sucesso no tratamento clínico por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos. Além disso, as portarias também permitem a indicação para cirurgia bariátrica de pacientes com IMC > 35 kg/m2 e comorbidades com alto risco cardiovascular, diabetes e/ou hipertensão arterial de difícil controle, apneia do sono, doenças articulares degenerativas ou outras que não tenham tido sucesso no tratamento clínico longitudinal realizado por no mínimo dois anos e que tenham seguido protocolos clínicos.
Obesidade e Diabetes no Brasil
No Brasil, a obesidade aumentou 72% entre 2006 e 2019, saindo de 11,8% para 20,3%, segundo a Pesquisa de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel). O excesso de peso (IMC igual ou maior que 25) está presente em 55,4% dos brasileiros.
Com relação à diabetes, o Brasil é o sexto país em incidência da doença no mundo e o primeiro na América Latina. São 15,7 milhões de pessoas adultas com esta condição, e a estimativa é que, até 2045, a doença alcance 23,2 milhões de adultos brasileiros. Cerca de 90% dos casos de diabetes no mundo são do Tipo 2, que está relacionado com o excesso de peso e resistência à insulina, segundo a Federação Internacional de Diabetes.
Cirurgia metabólica
Como acontece com qualquer tratamento médico, alguns pacientes podem não responder como esperado. Nesses casos, a cirurgia metabólica pode ser necessária para prevenir a progressão da doença e as consequências do diabetes. No Brasil, o Conselho Federal de Medicina (CFM) aprovou o tratamento cirúrgico do diabetes tipo 2 em 2017, com critérios de indicação para falha de tratamento e obesidade leve com índice de massa corporal (IMC) entre 30 kg/m 2 e 34,9 kg/m².
Audiência Participaram da audiência o vice-presidente da SBCBM, Antônio Carlos Valezi; o vice-presidente-executivo da SBCBM, Luiz Vicente Berti, o diretor médico da SBCBM, Luiz Fernando Córdova; o ex-presidente do Capítulo da Paraíba e conselheiro dos Capítulos da SBCBM, Augusto Almeida Júnior; o cirurgião e ex-presidente do Capítulo de Pernambuco da SBCBM, Flávio Kreimer e a diretora de relações institucionais da SBCBM, Galzuinda Maria Figueiredo Reis.
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