sexta-feira, 29 de abril de 2022

Como promover o bem-estar mental e emocional dos seus colaboradores?

 Em um RH com papel cada vez mais estratégico, é preciso promover um ambiente de empatia, entendimento e atenção aos funcionários 

 

O profissional de RH tem alcançado um papel cada vez mais estratégico. Ele não é mais um gestor de processos e rotinas, e sim um facilitador da experiência que cada colaborador tem com a empresa. E essa mudança de posicionamento tem transformado a gestão de pessoas positivamente. 

Quanto mais o RH foca em definir e atender processos e rotinas, mais ele “mecaniza” o relacionamento com os colaboradores. Essa é uma visão típica da Era Industrial, em que as pessoas eram engrenagens em um grande mecanismo que desenvolvia produtos -- lembra de Charlie Chaplin no clássico “Tempos Modernos”? Para lidar com pessoas no século 21 é preciso promover um ambiente de empatia, entendimento e solidariedade. 

As melhores empresas para trabalhar são organizações que funcionam como times -- e aqui vale usar exemplos dos esportes. Nem sempre a equipe com as pessoas mais talentosas vencerá -- é preciso ter objetivos em comum, metas claras e a disposição de lutar uns pelos outros. Em um time, todo mundo alcança o resultado junto. 

Para que isso aconteça, a organização precisa estar atenta ao bem-estar de seus colaboradores, tanto do ponto de vista emocional quanto mental. Antes de seguir, vamos diferenciar dois termos:

Saúde emocional: está relacionada à relação com as pessoas e à autoestima. O bem-estar emocional tem a ver com a capacidade de lidar com pensamentos e emoções;

Saúde mental: está relacionada a uma série de reações químicas, fisiológicas e neurológicas que vão muito além do “sentir-se bem”. Felizmente, a saúde mental vem tendo sua importância reconhecida -- a ponto do burnout ser considerado uma doença ocupacional a partir deste ano. 

O fato é que a saúde e o bem-estar emocional e mental são vistos, cada vez mais, como aspectos tão importantes para o desempenho dos profissionais quanto o conhecimento técnico, a construção de um bom ambiente de trabalho ou um programa de benefícios. 

Para as empresas que entendem a seriedade desses fatores, fica claro que estamos indo muito além de gerar motivação ou de criar fortes marcas empregadoras. O relacionamento entre empresa e colaborador é uma parceria, em que é preciso cuidar de tudo o que possa gerar benefícios e diferenciais competitivos.

 

Saúde mental e emocional: cada vez mais importante

Segundo um estudo publicado pela Harvard Business Review, 200 milhões de dias de trabalho são perdidos todos os anos, gerando um prejuízo de US16,8 bilhões para as empresas, simplesmente porque 60% dos funcionários nunca falaram sobre seu estado de saúde mental com ninguém no trabalho. 

Essa falta de comunicação acontece pois os problemas ligados à saúde mental e emocional ainda são tratados como tabu dentro das organizações. Assuntos delicados como saúde mental e emocional devem ser vistos no RH com cuidado e de maneira ativa, já que os colaboradores se fecham nesses momentos. 

Isso se tornou ainda mais importante durante a pandemia, uma vez que o isolamento social fez com que o índice de problemas emocionais aumentasse de forma significativa. Segundo o estudo “Depression and Anxiety among essential workers from Brazil and Spain during the Covid-19 Pandemic: a websurvey”, publicado pela Fundação Oswaldo Cruz (FIOCRUZ), os sintomas de ansiedade e depressão afetam 47,3% dos profissionais e 30,9% foram diagnosticados com doenças mentais. 

Grande parte dos profissionais não conseguiu se adaptar ao trabalho em home office -- passar todo o dia em um mesmo lugar ou precisar conviver com as atividades domésticas, o cuidado com as crianças e a insegurança de não saber como seria o desenvolvimento da pandemia gerou ansiedade e preocupação.


E no pós-pandemia?
 

Com a flexibilização do trabalho e a oportunidade de desenvolver modelos híbridos, passa a ser possível estruturar mais ações de promoção do bem-estar e saúde dos profissionais. E, por paradoxal que possa parecer, o uso de dados pode se tornar uma ferramenta muito importante para promover mais empatia. 

O natural é pensarmos na empatia e no relacionamento como algo que depende 100% do contato pessoal, do “olho no olho”. Mas é justamente por pensar assim que as empresas têm dificuldade em construir ambientes favoráveis. 

Na realidade, todo contato -- de um formulário de pesquisa a um evento presencial, passando por e-mails, videoconferências e o famoso cafezinho na cozinha -- é uma oportunidade de construir a cultura e acolher os profissionais. 

Toda empresa precisa estar preparada para desenvolver um ambiente interno que inspire confiança e promova benefícios para os colaboradores. Com base nisto, há 4 caminhos importantes para gerar um ciclo positivo que traga mais empatia e reconheça as necessidades das equipes, ao mesmo tempo em que criam um senso de comunidade e um espírito de time:

 

Analise os fatores internos

A coleta e análise de informações sobre os colaboradores costuma ser um meio relevante para conhecer as equipes e observar sinais de que a saúde mental e emocional não esteja em ordem. Pesquisas de satisfação, canais de interação, feedbacks estruturados e campos personalizados no software de gestão de RH da empresa são recursos importantes para obter mais informações sobre os colaboradores e identificar se é preciso fazer alguma ação específica.

 

Realize eventos corporativos -- online e presenciais

Eventos corporativos sempre foram excelentes ferramentas para estimular a interação entre os colaboradores, o que melhora o bem-estar mental e emocional das pessoas. 

O período de isolamento social nos privou dessa socialização, e os padrões de trabalho do pós-pandemia farão com que seja preciso rever os modelos de eventos. Mas uma coisa é certa: é preciso criar vários momentos de interação das equipes -- ainda mais porque, em tempos de trabalho híbrido, haverá menos momentos para envolver todo o time e estimular o senso de coletividade.

 

Gerencie a saúde dos colaboradores

Toda empresa precisa criar políticas e desenvolver práticas que aumentem a qualidade de vida dos profissionais, tanto no ambiente presencial quanto remotamente. Benefícios como descontos em academias, sessões com psicólogos e técnicas de relaxamento devem andar lado a lado com o cuidado com a ergonomia no trabalho, com as pausas para “recarregar as baterias” e outras ações que melhorem a saúde dos times.

 

Em equipes remotas, é mais difícil padronizar os benefícios -- uma vez que cada colaborador está em um lugar diferente do planeta. Por isso, é importante ajudar as equipes a construir ambientes de trabalho adequados e confortáveis em home office. Ao mesmo tempo, é importante conscientizar líderes e liderados sobre os riscos da “overdose informacional” trazida pelo uso constante de equipamentos eletrônicos.

 

Flexibilize a jornada

Algumas pessoas são mais produtivas de manhã, outras à tarde, e há quem funcione bem no período noturno. Trabalhar em um horário em que nos sentimos improdutivos leva não somente a um baixo desempenho, mas também à ansiedade e, em casos graves, à depressão. 

Por isso, flexibilizar a jornada de trabalho é uma forma de respeitar o colaborador e de mostrar que ele tem voz ativa na qualidade do que faz. Quando o colaborador é empoderado e tem liberdade para definir o melhor modelo de trabalho para ele, a produtividade aumenta e a saúde do colaborador é preservada. Todo mundo sai ganhando.



 
Marcelo Furtado - administrador de empresas com pós-graduação em engenharia financeira pela Poli-USP. Iniciou sua carreira na Pepsico e posteriormente trabalhou 8 anos com gestão de ativos em hedge funds. É cofundador e CEO da Convenia, primeiro software na nuvem de gestão de departamento pessoal voltado para pequenas e médias empresas no Brasil. Marcelo também atua como professor de Inbound Marketing na ESPM-SP.

 

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