Dinheiro é proveniente do Fust, fundo público para
a democratização e acesso de estudantes aos meios de telecomunicações no país,
que foi regulamentado este ano, 22 anos após sua criação
Apesar de ter sido criado em 2000, somente no
último dia 22 de março foi publicado no Diário Oficial da União o
Decreto 11.004, que efetivamente permitirá o uso dos recursos do Fundo de
Universalização dos Serviços de Telecomunicações, o Fust. Como o próprio nome
sugere, este fundo, estabelecido pela Lei 9.998 de 17 de agosto de 2000, tem
como principal objetivo “a expansão, o uso e a melhoria da qualidade das redes
e dos serviços de telecomunicações, reduzir as desigualdades regionais e
estimular o uso e o desenvolvimento de novas tecnologias de conectividade para
promoção do desenvolvimento econômico e social”. Isso inclui a destinação, por
exemplo, de recursos para que estudantes de todo o país possam ter acesso aos
serviços de telecomunicações como, por exemplo, aparelhos com acesso à
internet, que foi tão necessário durante a pandemia, em que estudantes
precisaram assistir às aulas de suas casas.
Após mais de 20 anos de sua criação, o Fust já
acumulou quase R$ 25 bilhões
que, até o presente momento, nunca foram utilizados. Estudo realizado pela Alliance
for Affordable Internet (A4AI) em parceria com a Internet Society (Isoc)
mostrou que o Brasil é um dos países do mundo com maiores dificuldades em
aplicar os recursos destinados à universalização das telecomunicações.
De acordo com Mateus Piva Adami e Caio Pereira
Neto, especialistas no tema, professores da Escola de Direito de São Paulo da
Fundação Getulio Vargas (FGV Direito SP) e sócios do Pereira Neto -- Macedo
Advogados, “a competência ímpar para arrecadar,
aliada à incompetência para gastar, dentro de um cenário de contínua restrição
orçamentária, promoveu distorções significativas na política pública de
universalização”.
Para os advogados, outras ferramentas assumiram parte do papel que o Fust deveria ter, ainda que com enormes lacunas, notadamente por estarem sempre focadas na ampliação da cobertura das telecomunicações. “Essa transferência de competência do Fust para outras autarquias não é necessariamente ilegal, mas foi uma manobra negativa para o Estado: o Fust precisa cumprir com o seu papel social", explica.
Recursos fizeram
falta na pandemia
Piva recupera dados que demonstram as consequências
da ausência de aplicação de recursos do Fust na Educação. “De acordo com dados publicados pelo ‘Todos pela Educação´,
em dezembro de 2021, o índice de evasão escolar no Brasil bateu recordes
durante a pandemia”, afirma o especialista.
A pesquisa aponta que o
índice de alunos matriculados no ensino fundamental chegou a 96,2%,
menor nível desde 2012, o que mostra o recuo da universalização do ensino no
país. A mesma pesquisa mostrou também que
houve aumento no número de crianças (6 a 14 anos) que, mesmo com idade para
estar no ensino fundamental, ainda frequentavam a pré-escola: eram 396,8 mil em
2019, contra 702,7 mil em 2021.
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