Há alguns anos, a comunidade escolar tem sustentado o discurso da equidade de acesso à informação a todos os seus entes formadores, de maneira que os desafios individuais possam ser levados em conta mediante às vicissitudes tão próprias da dinâmica de ensino-aprendizagem. Hoje, mais do que nunca, tais dinâmicas ultrapassam os limites da sala de aula e são pungentemente exigidas para ações mínimas da vida cotidiana. Entre tantas áreas que fazem esse discurso verdadeiro, destaque é dado à tecnologia: amada por uns, evitada por outros, porém presente na vida moderna de maneira muito essencial e nada, nada efêmera.
Abordando apenas
uma amostra desse vasto universo de conhecimento, as tecnologias educacionais
tomaram corpo de forma exponencial nos últimos meses. As imposições trazidas
pelo distanciamento social expuseram fraquezas e adaptabilidades nesse campo,
permeadas por prazos imediatos para execução. Lembro-me, durante a minha primeira
formação acadêmica, de um querido professor de Física II enfatizando, aula a
aula, a respeito do quanto as TIC’s (Tecnologias da Informação e Comunicação)
seriam essenciais para o andamento da sociedade nos anos futuros. Naquele
momento, somente utilizando as parcas experiências computacionais que tínhamos
enquanto estudantes, éramos levados a acreditar que aquelas palavras do sábio
mestre não passavam de um exercício de futurologia; contudo, hoje vivemos o
futuro e eu atesto a sabedoria daquele nobre professor.
A UNESCO tem se
posicionado assertivamente a respeito das várias adaptações que a educação
brasileira precisa vivenciar para que a alfabetização tecnológica da população
se efetive. Ao citar a necessidade de um Marco Político de Padrões de Competência
em TIC para Professores, é proposto que as instituições responsáveis pela
oferta de formação docente levem em consideração três aspectos básicos:
alfabetização em tecnologia; aprofundamento do conhecimento; e criação do
conhecimento. Explorando a temática de alfabetização em tecnologia, é proposto
de que alguns tópicos sejam tomados como norteadores no planejamento
educacional: conhecimento básico; tecnologia integrada; ferramentas básicas;
salas de aula padrão; e alfabetização digital.
Enquanto conhecimento
básico, professores, coordenadores e responsáveis pelos alunos precisam se
apropriar do conhecimento a respeito de pacotes de programas que sejam ligados
ao cotidiano do mundo do trabalho atual, de maneira em que consigam auxiliar o
corpo discente na aquisição de habilidades em TICs no contexto de sua idade e
série cursada. Logo, a sociedade precisa avaliar em que ponto a sua própria
alfabetização em tecnologia se encontra, pois necessitam servir como modelos
para os mais jovens no processo de aprendizagem.
No entanto, vale
ressaltar que existem desafios iminentes a serem considerados nessa avaliação:
segundo o IBGE, 86,7% dos domicílios brasileiros têm acesso à internet, contudo
a situação em certas regiões do país ainda se encontra bastante distante desses
números. Somente 55,6% dos domicílios rurais brasileiros têm acesso à internet,
taxa que cai para 51,9% nos estados do nordeste e para preocupantes 38,4% nos
estados do norte do país. A maior parte dos pesquisados pelo instituto utiliza o
celular para acessar a internet, 98,6%; contudo, a porcentagem cai para 46,2%
se considerarmos as pessoas que utilizam computador para essa finalidade. Uma
vez que a educação móvel ainda está em pleno desenvolvimento (com avanços
consideráveis, é claro), facilmente concluímos que a alfabetização digital
voltada às TICs na educação ainda enfrenta massivas barreiras para que se
estabeleça de fato.
Ainda que estando
em pleno desenvolvimento, destaco a força e os desafios que a chamada
aprendizagem móvel apresenta. Por uns, é vista como uma solução para melhorar a
eficiência educacional; por outros, como um distrator, semeador de conflitos
éticos, de direitos de imagem e de propriedade intelectual. Enquanto comunidade
escolar, necessitamos buscar equilíbrio quanto aos benefícios e desafios
trazidos por essa modalidade de educação. Professores, alunos e famílias bem
instruídos reconhecerão as finalidades de dispositivos móveis no processo de
ensino-aprendizagem, fazendo uso consciente dessas ferramentas. Durante esse
processo de instrução, a comunidade escolar precisa discutir, envolvendo todos
os seus entes, questões éticas e de direito no tocante à utilização das
produções individuais e coletivas. Todos necessitam compreender que não são
proprietários da imagem e da produção alheia e, consequentemente, não têm o
direito de compartilhá-las indefinidamente, sem qualquer permissão de todas as
partes envolvidas. Em uma época de grande destaque dado à imagem midiática
produzida de cada um, é necessária a discussão na sociedade sobre o direito do
próximo de manter sua privacidade, em conformidade com o quinto artigo, inciso
X da constituição federal brasileira e no marco civil da internet, terceiro
artigo, inciso II.
Fato é que
necessitamos mobilizar a comunidade escolar na discussão a respeito de quais
serão as diretrizes tomadas para que as TICs na educação se tornem parte de
nosso cotidiano. Rodas de conversa sobre o tema, envolvendo alunos e
responsáveis, precisam se tornar rotina para nós, quer sejam de maneira tradicional
ou virtual. Gestores e professores devem se engajar para conhecer as várias
propostas de implementação das TICs, delineando aquelas que melhor se aplicam à
sua realidade e estabelecendo metas, prazos, acompanhados de avaliações
periódicas que produzam um diagnóstico claro a respeito de nossas evoluções e
pontos a melhorar. Sendo de apreço nosso ou não, ignorar ou passivamente
discordar de todas essas mudanças já deixou de ser uma opção. É hora de nos
envolvermos e, com responsabilidade, decidirmos quais caminhos tomaremos em um
mundo o qual ser alfabetizado também significa “ler” as nuances digitais
disponíveis.
Maurício
Nascimento - Professor do Colégio Santa Amália Maple Bear - Ensino Bilíngue
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