sexta-feira, 14 de janeiro de 2022

Nós não somos reféns da nossa genética. Você sabe o porquê?


O manual de instrução do corpo é um conjunto de genes que formam o nosso genoma. São esses genes que determinam como o organismo funcionará, qual a cor e textura do nosso cabelo, qual a cor da pele e até quais doenças poderemos desenvolver ao longo da nossa vida. 

Dentre os genes que determinam doenças, existem pequenas variações que são chamadas de polimorfismos, que podem aumentar ou reduzir a chance do desenvolvimento de um câncer, por exemplo, ou de outra doença. Por isso, muitos testes genéticos foram e são desenvolvidos na tentativa de predizer o aparecimento de diferentes doenças. 

Os resultados desses testes já deixaram muitas pessoas preocupadas. Não são raras as vezes em que fazemos o exame e descobrimos que temos uma alta chance de ter uma determinada doença. Na sequência, os familiares acabam se submetendo ao mesmo teste e você pode perceber que toda a família tem predisposição. Mas aí você se pergunta: por que ninguém próximo a mim desenvolveu essa doença, se toda a família tem uma alta predisposição? 

A resposta para essa pergunta pode estar na epigenética. Mas, o que seria isso? A epigenética é um conjunto de alterações químicas que acontecem no nosso genoma. O que está escrito, lá por meio dos genes, não muda. Mas é como se epigenética fosse lá e escolhesse o que pode ou não pode ser lido no nosso manual de instrução. Está tudo escrito nos genes. Se essa escrita vai ler lida e compreendida é uma definição dada pela epigenética. 

A epigenética é algo que depende muito das nossas escolhas de vida. Vou dar um exemplo. O nosso estilo de vida define muitos dos eventos epigenéticos que inferem no nosso DNA, falando para que ele se expresse ou se silencie. 

Para pensar nisso, vamos falar sobre envelhecimento. Hoje nós sabemos que temos duas idades, certo? A idade cronológica e a idade biológica. Você não sabe a diferença entre a idade cronológica e a idade biológica? Vou explicar. 

A idade cronológica é contada a partir da sua data de nascimento, ou seja, quantas velinhas você soprou em todos os seus aniversários. Já a idade biológica é a idade que as suas células possuem. As suas células podem ter a mesma idade que você ou elas podem envelhecer mais rapidamente do que você. Sabe por quê? Porque a suas escolhas epigenéticas não foram adequadas. 

Nós temos um gene que produz uma enzima chamada de telomerase. Essa enzima produz os telômeros que protegem as pontas dos nossos cromossomos. Vamos por analogia para facilitar. Pense que o seu cromossomo é um cadarço. Os telômeros são aquelas pontinhas plásticas que impedem o cadarço de se desfiar e ainda facilitam para que o passemos por dentro dos furos do tênis. Então veja, se perdermos essas pontinhas plásticas o cadarço perde parte da sua função e também vai se desmanchar. Nas nossas células também é assim. Se os telômeros são perdidos, as nossas células perdem função e se tornam senescentes, ficam velhas, param de fazer suas funções e, por fim, elas morrem (se desmancham). 

Células com telômeros curtos, que estão se desmanchando, são células envelhecidas. Células envelhecidas significam que o seu corpo não está funcionando tão bem quanto ele deveria e aí as doenças, que são próprias do envelhecimento, começam a aparecer. 

Nós queremos ter vida longa e saudável, certo? Para isso, nós precisamos fazer escolhas epigenéticas que favoreçam a expressão de genes bons, como é o caso do gene que produz a telomerase. 

Quando nós ainda estamos dentro do útero das nossas mães, os genes da telomerase estão trabalhando muito bem, e é por isso que nós temos, ao nascimento, cerca de 15 a 12 mil pares de bases formando os nossos telômeros. Ao nascimento, nós temos entre 12 e 10 mil pares de bases. Essas bases vão sendo gastas ao longo da nossa vida e, quando atingimos cerca de 65 anos, o esperado é que tenhamos por volta de 4.500 pares de bases formando os nossos telômeros. Acreditava-se que o gene da telomerase era desligado após o nascimento e que essas bases não poderiam mais ser repostas. Mas hoje sabemos que não é bem assim. 

Independentemente da nossa idade, o gene que produz a telomerase está no nosso organismo. Mas ele está desligado e é por isso que essa enzima não é produzida ou é produzida numa quantidade tão pequena, que não é o suficiente para repor os nossos telômeros. Porém, hoje sabemos que podemos, por meio da epigenética, fazer escolhas que modificam a expressão desse gene, e assim podemos voltar a produzir telomerase, causando o realongamento dos telômeros. Sabe o que isso significa? 

Significa que podemos rejuvenescer as nossas células. Se rejuvenescermos as nossas células, indiretamente, estaremos rejuvenescendo o nosso corpo e assim podemos ser mais longevos. Para sermos mais longevos e para afastar o aparecimento de doenças, o ideal é que tenhamos 10 anos de idade biológica a menos do que a nossa idade cronológica. É simples. Se eu já soprei 50 velinhas nos meus aniversários, o desejado é que as minhas células tenham apenas 40 anos. Dessa forma, eu posso ter um envelhecimento saudável, ativo e livre de doenças. Mas como conseguir essa façanha? 

Aí voltamos às nossas escolhas. Para ter sucesso, temos que fazer escolhas corretas, que favoreçam a epigenética. Dentre elas estão a prática de exercício físico, a alimentação adequada e o modelo mental positivo. Assim, 70% do sucesso está em nossas mãos e podemos fazer essas escolhas já! 

A atividade física regular não é qualquer atividade. Os exercícios precisam ser de moderada a alta intensidade. Mas não estamos falando de atletas de alta performance. Estamos falando de atividade aeróbica e musculação, por exemplo. É preciso realmente suar a camisa. Para começar podemos ir aos poucos. Mas é muito importante que você tenha o acompanhamento de um profissional de Educação Física para aumentar a intensidade dos seus treinos, à medida em que você assume que essa escolha é para sempre na sua vida. 

A alimentação adequada trata-se de uma alimentação saudável, rica em verduras, frutas e proteínas (carnes). Nós precisamos evitar ao máximo os industrializados e processados. Devemos dar preferência para os carboidratos complexos/bons, como é o caso da batata doce e mandioca. Devemos evitar os açúcares e as farinhas brancas. 

A saúde mental é uma questão muito importante para alongar os nossos telômeros. Ter um modelo mental positivo é essencial. Assim, estarmos de bem com a vida, termos tempo para descansar, termos tempo para o lazer, são condições muito importantes para termos sucesso nas nossas escolhas e suas manutenções. Uma pessoa cansada, estressada, preocupada, terá dificuldades para manter as suas rotinas de prática de atividade física e alimentação adequada. 

Agora vem o X da questão. Como saber se todo o nosso empenho está dando certo? Para isso, nós temos os exames genéticos; não aqueles que simplesmente medem qual a porcentagem de chance que você tem de ter ou não uma doença. Estamos falando agora de um exame genético que não se preocupa somente com o nosso genoma, criado por pesquisadores de Mato Grosso do Sul. Ele determina a idade biológica por meio da aferição do comprimento dos telômeros, ou seja, ele faz uma medida indireta da atividade da sua telomerase. 

Se a telomerase está funcionando bem, os seus telômeros não vão se encurtar e podem até realongar. Esse teste é muito simples. Ele pode ser coletado por você mesmo em sua casa. Com uma lanceta, você coleta 10 gotinhas de sangue para extrair o DNA e já pode enviar para ser analisado. Em até 15 dias a pessoa receberá o laudo e poderá saber sobre a sua idade biológica. Se a sua idade biológica for muito maior que a sua idade cronológica, você precisa de auxílio também de um médico. Mas o bom é que nunca é tarde para começar e para rejuvenescer. Não é verdade? Aceita o convite?

 

Rodrigo Juliano Oliveira

 

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