90% dos casos de câncer de pulmão possuem como origem o tabagismo. Por isso, no mês de conscientização da doença, é fundamental alertar sobre o diagnóstico precoce e os prejuízos
Durante todo o mês,
Novembro Branco é dedicado à conscientização do câncer de pulmão, doença que
tem como origem em 90% dos casos o tabagismo. Os fumantes possuem um risco 20
vezes maior de desenvolverem tumores pulmonares, fazendo com que o alerta seja
visto com ainda mais sensibilidade para este grupo em especial.
Segundo a Organização
Mundial da Saúde (OMS), apesar dos dados não serem novidades, os tumores
pulmonares ainda lideram o ranking de doenças oncológicas com maior número de
óbitos todos os anos. Além disso, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer
(INCA), mais de 30 mil pessoas irão ter o diagnóstico da doença em 2021.
Um dado alarmante,
também apresentado pelo INCA, indica que aproximadamente 10% dos brasileiros
acima de 18 anos fumam - ou seja, 20 milhões de pessoas são fumantes no país.
Mesmo o Brasil sendo reconhecido mundialmente por suas campanhas de combate ao
fumo, esse desafio ainda é grande. Segundo a Dra. Mariana Laloni, oncologista
do Grupo Oncoclínicas em São Paulo, é necessário alertar quanto ao uso de
vaporizadores de fumo, que tem sido usado principalmente por jovens.
"Apesar da redução do
consumo de cigarros no país, em decorrência das campanhas de conscientização e proibições
do fumo, que vêm sendo aplicadas em locais públicos desde a década de 1990, o
número absoluto de tabagistas ainda é alarmante. E os novos dispositivos
tecnológicos de vape, que conquistam especialmente as chamadas gerações
Millennial e Z sob a falsa justificativa de serem menos nocivos à saúde e por
seu design moderno - que serve como atrativo adicional para essa parcela da
população - representam uma ameaça ainda maior de retrocesso na luta contra o
tabagismo", comenta a especialista.
No mundo, a OMS aponta
que atualmente 8 milhões de pessoas vão à óbito por causa de doenças
relacionadas ao tabaco. No Brasil, esse número pode chegar a 156 mil mortes
anualmente - uma média de 428 óbitos por dia. Vale lembrar ainda que o
tabagismo vai muito além do câncer de pulmão, incluindo problemas de saúde
como: doenças cardiovasculares, diabetes, infarto e Acidente vascular cerebral
(AVC), entre outros.
Iluminando o caminho
Com o avanço da
ciência, as diferentes maneiras de tratar o câncer foram se transformando ao
longo dos anos. No caso das neoplasias de pulmão, as alternativas terapêuticas
têm sido indicadas para o enfrentamento da doença, como é o caso da
radioterapia isolada. "A indicação depende principalmente do estadiamento,
tipo, tamanho e localização do tumor, além do estado geral do paciente",
diz Mariana Laloni.
A imunoterapia exerce
um papel importante para o enfrentamento do câncer de pulmão. A partir do
reconhecimento do tumor pelo organismo, e que com o passar do tempo ele irá se
"disfarçar" para não ser reconhecido e crescer, a técnica consiste em
fazer com que o corpo ative uma espécie de chave, religando a resposta imunológica
para agir contra o problema.
"Embora o sistema
imune esteja apto a prevenir ou desacelerar o crescimento do câncer, as células
cancerígenas sempre dão um jeitinho de driblá-lo e, assim, evitar que sejam
destruídas. O papel da imunoterapia é justamente ajudar os ‘soldados’ de defesa
do organismo a agir com mais recursos contra o câncer, produzindo uma espécie
de super estímulo para que o corpo produza mais células imunes e assim a
identificação das células cancerígenas seja facilitada - devolvendo ao corpo a
capacidade de combater a doença de maneira efetiva", explica a
especialista. Entretanto, é fundamental alertar que antes de remediar, o câncer
de pulmão deve ser prevenido. Para Mariana Laloni a melhor alternativa é sempre
parar de fumar.
A seguir, a oncologista
Mariana Laloni esclarece dez perguntas e respostas comuns sobre a relação entre
o fumo e o câncer.
O fumo pode aumentar o
risco de câncer de pulmão?
Sim. O tabagismo pode
aumentar em aproximadamente 20 vezes o risco de desenvolver câncer de pulmão.
Cerca de 90% dos casos estão relacionados ao fumo.
Quais são os
principais sintomas do câncer de pulmão?
Nas fases iniciais da
doença, onde a chance de cura é maior, o problema é, infelizmente, silencioso,
não apresentando sintomas. Já nas fases em que o câncer está mais avançado, o
paciente pode apresentar sinais no aparelho respiratório, como tosse, dor no
peito e falta de ar.
Quais são os
principais tipos de câncer de pulmão?
Existem dois tipos de
câncer de pulmão, sendo eles o carcinoma de pequenas células e o de não
pequenas células. Geralmente, o segundo caso corresponde a 80 a 85% dos casos,
podendo ser subdividido em carcinoma epidermóide, adenocarcinoma e carcinoma de grandes
células. No mundo, o tipo mais comum é o adenocarcinoma, atingindo 40% dos
pacientes.
Como é o tratamento
para câncer de pulmão?
Para o tratamento
adequado, é importante analisar o estadiamento, subtipo, tamanho e localização
do tumor, além se o paciente possui algum tipo de comorbidade. Caso a doença
esteja em seu estágio inicial e localizado apenas no pulmão, a indicação é de
cirurgia ou radiocirurgia, uma radioterapia direcionada
Já nos casos mais
avançados, porém sem lesões à distância, o tratamento escolhido pode ser a
combinação da quimioterapia e radioterapia, podendo consolidar a imunoterapia.
Quando existem metástases, o caminho para os recursos irá depender do tipo de
tumor.
Além do câncer de
pulmão, o tabagismo aumenta o risco de outros tipos de câncer?
Sim. Além do câncer de
pulmão, o fumo pode aumentar os riscos para o câncer de de cabeça e pescoço,
boca, laringe, faringe e bexiga.
Quais são os
principais elementos cancerígenos dos cigarros convencionais?
Ao todo, existem quase
cem tipos diferentes de substâncias cancerígenas nos cigarros tradicionais. As
principais são: monóxido de carbono, amônia, cetonas, formaldeído, acetaldeído,
acroleína, nicotina e alcatrão. Dentre elas, é importante ressaltar aida a mais
perigosa em termos cancerígenos: a nicotina.
Qual dessas
substâncias causa dependência em cigarros?
É justamente a
nicotina, uma vez que provoca a sensação de prazer e pode levar ao vício. Essa
substância psicoativa faz parte da Classificação Internacional de Doenças (CID)
da OMS.
O cigarro eletrônico
também aumenta o risco de câncer de pulmão?
Sim. Como ele vaporiza
um líquido com grande quantidade de nicotina, a substância também pode elevar
os riscos da doença. Mas, vale lembrar que ainda não se sabe qual a extensão de
impacto no desenvolvimento de cânceres, devido ao desenvolvimento recente e uso
variado do produto: há pessoas que fumam apenas ele, outras que consomem
cigarros eletrônico e convencional, aquelas que nunca fumaram cigarro
convencional e foram direto para o eletrônico, as que substituíram o
convencional pelo eletrônico, etc.
Depois de quanto tempo
sem fumar há a diminuição do risco de desenvolvimento de cânceres ligados à
nicotina?
Com o passar das horas
e dias, os benefícios à saúde são bastante perceptíveis e as chances de desenvolvimento
de cânceres também diminui com o passar dos anos - com 10 anos sem fumar, os
riscos são considerados baixos. Mas, dependendo da carga tabágica - número de
maços por dia vezes o número de anos que a pessoa fumou - é importante
continuar de olho.
Que impacto haveria
nos diagnósticos de câncer se todos os fumantes do mundo conseguissem se livrar
do vício agora?
O principal impacto
seria a diminuição de aproximadamente 33% do número de casos de câncer
diagnosticados e, ao longo do tempo, uma redução ainda mais expressiva.
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