A obesidade infantil é considerada como um dos problemas de saúde mais graves deste século, segundo a própria Organização Mundial da Saúde (OMS). Com um aumento de casos registrados durante a pandemia, a melhor forma de tratamento para a obesidade é a prevenção, que já deve ser iniciada no momento em que o bebê está em formação na barriga da mãe, uma vez que as chances de ser revertida ao longo do crescimento da criança são reduzidas significativamente a cada ano que a criança se mantém obesa.
Ao contrário do que muitos imaginam, a obesidade
infantil raramente é vista em decorrência de algum problema de saúde ou
histórico familiar. Em sua grande maioria, a doença é fruto de maus hábitos,
principalmente alimentares – não apenas da criança, mas em muitos casos, de
toda a família. Aliado à essa causa, está a baixa frequência de atividade
física, hábito que também piorou durante a pandemia.
Muitos estudos mostram inúmeros fatores de risco
para a doença estão presentes antes mesmo da gestação. Mães tabagistas ou com
hábitos alimentares que incluem alimentos gordurosos, ultra processados e
calóricos, tendem a ter filhos com mais chances de desenvolver a doença. Como
resultado desta combinação de fatores, cerca de 6,4 milhões de crianças têm
excesso de peso no Brasil atualmente, junto com 3,1 milhões que já evoluíram
para obesidade, segundo dados divulgados pelo Ministério da Saúde.
Estudos mostram que quando a obesidade é
diagnosticada antes dos cinco anos de idade, as chances de tratamento eficaz
são de apenas 10%. Para piorar, a cada ano, essa porcentagem é ainda mais
reduzida, aumentando o risco de se tornarem adultos com hipertensão, alterações
no colesterol, predomínio de gordura abdominal e, principalmente, resistência à
insulina, que pode ocasionar infertilidade já na adolescência - essas
alterações irão constituir a Síndrome Metabólica, aumentando o risco de doenças
cardiovasculares e cerebrovasculares.
Muitas crianças e, principalmente adolescentes
desenvolvem, até mesmo, distúrbios psicológicos, como depressão, ansiedade, de
imagem e alimentares, como bulimia e compulsão alimentares, o que costuma
impactar em absenteísmo, mau desempenho escolar e, até mesmo, no seu futuro
profissional.
Os maus hábitos alimentares podem ser agravados por
refeições em frente às telas, nas quais os pequenos perdem a capacidade de
autorregulação dos alimentos ingeridos – além de diminuir o tempo de atividade
física. A intervenção medicamentosa é a última opção nos casos registrados
dessa doença, porém bem indicada quando necessário. Prevenir é sempre o melhor
caminho.
A medicina de prevenção é a melhor estratégia para
garantir um crescimento saudável e evitar uma nova geração de adultos doentes.
Afinal, se os casos continuarem a crescer, nem mesmo o Sistema Único de Saúde
terá capacidade e estrutura adequada para tratar a alta demanda.
A obesidade infantil já é uma epidemia, que
necessita ser combatida imediatamente. O ajuste da curva de crescimento da
criança deve ser feito desde o planejamento da gestação, por meio da
programação metabólica. As futuras mamães devem, desde cedo, criar hábitos
alimentares saudáveis, ingerindo fibras que auxiliem na regulação da insulina,
como frutas e vegetais. O aleitamento materno também é extremamente benéfico na
criação de uma microbiota saudável.
Em conjunto, a prática de exercícios não deve ser
deixada de lado. Para os pequenos, incentive atividades ao ar livre, se
possível em contato com a natureza. Quanto mais tempo esperarmos, menores serão
as chances de tratar esta doença silenciosa que, não distingue entre classes
sociais para impactar severamente a saúde dos nossos pequenos.
Dra. Patrícia Consorte - pediatra e
especialista em nutrição materno-infantil.
https://www.drapatriciaconsorte.com.br/
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