segunda-feira, 29 de novembro de 2021

Células-tronco na ortopedia e na medicina do esporte

Além da longevidade, as terapias trazem perspectivas de mais qualidade de vida e bem-estar nas práticas de atividades físicas


As células-tronco mesenquimais se tornam cada vez mais promissoras e os estudos e ensaios clínicos realizados avançam em diversas frentes. Essa também é uma verdade para a ortopedia e para a medicina do esporte. A terapia celular tem aberto possibilidades de pesquisa e procedimentos futuros para doenças que ainda não possuem um tratamento adequado nessa área, como é o caso das lesões da cartilagem e da osteoartrite ou artrose do joelho, entre outras.   

“A vantagem terapêutica dessas células vem da capacidade que têm de se diferenciar em outros tecidos (adiposo, ósseo e cartilaginoso) e de regular o sistema imune ao seu redor, tornando o ambiente mais propício para o reparo da lesão. As técnicas estão sendo amplamente estudadas por respeitados centros no exterior e no Brasil. A pesquisa desde os laboratórios até os modelos tradicionais para uso em humanos e em ensaios clínicos, com o aval da ANVISA e o financiamento para o desenvolvimento de produtos, torna essa tecnologia promissora e com previsão de chegada breve ao mercado”, explica o cirurgião ortopédico Tiago Lazzaretti Fernandes, que atua no grupo de medicina do esporte no Hospital das Clínicas da Faculdade de Medicina de São Paulo (HC-FM-USP).

Segundo o traumatologista, médico do esporte e membro do Conselho do Comitê Olímpico Brasileiro (COB), Bernardino Santi, ainda há a perspectiva para uso das células-tronco mesenquimais em doenças como a osteomielite (infecção do osso), em perdas ósseas importantes, em fratura cominutiva (quando o osso se quebra em mais de dois fragmentos) e na reconstrução de músculos, ligamentos e tendões. “Em algum momento teremos que tomar esse caminho como forma de tratar. É impressionante que nós, como brasileiros, não sabemos das instituições e profissionais que possuímos no país. Nosso conhecimento em terapias com células-tronco tem décadas e, obviamente, ainda há muito para avançar. No entanto, nossos pesquisadores já dominam essa técnica de ponta. Com isso, há condições de ampliar o arsenal terapêutico para várias situações”, explica.

Para tratamento de uma lesão grave no joelho, pelo Sistema Único de Saúde (SUS) no país, ainda é utilizado o procedimento cirúrgico, que é invasivo, de recuperação lenta e delicada. Os avanços com células-tronco mesenquimais, nesse sentido, segundo Santi, permitem que atletas de alto rendimento ou pessoas que se lesionaram nas suas práticas tenham a possibilidade de voltar ao esporte com mais rapidez e menos sofrimento. “Há casos em que esses praticantes, que se machucam, desistem da sua atividade, já que os tratamentos disponíveis não trazem uma perspectiva boa. Isso faz com que a pessoa não trate corretamente, o que acaba interferindo na sua vida pessoal e até profissional. As terapias com células-tronco também são promissoras para trazer essas pessoas de volta para as suas práticas. O importante, quando se fala em tratamento na medicina do esporte para quem faz esporte por lazer e diversão, que não são atletas de alto rendimento, é pensar na qualidade de vida. Obviamente que os treinos sem dor e sem lesões são mais prazerosos. O objetivo, que é ter mais qualidade de vida, será atingido. Muito além da longevidade, é viver bem e estar feliz. Essa é a minha perspectiva para os próximos anos”, diz o médico.

Em Campinas, interior de São Paulo, está situado o centro pioneiro na técnica de isolamento, expansão e armazenamento de células-tronco do dente, tecido adiposo e do céu da boca (periósteo do palato) do país, a O laboratório tem à frente o cientista e membro do International Society for Cellular Therapy, José Ricardo Muniz Ferreira, que estudou a fundo e aprimorou a técnica de extração, armazenamento e cultivo das células. Segundo ele, as células-tronco mesenquimais possuem grande potencial de multiplicação. “Um único dente, por exemplo, pode conter milhares de células e, quando multiplicadas no laboratório, tornam-se milhões. Elas também podem se especializar, com qualidade, em qualquer outra célula de tecidos sólidos do corpo humano, trazendo mais qualidade de vida às pessoas”, garante.


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