Número de mamografias realizadas na
rede pública em 2020 caiu 42%¨, o que represa diagnósticos; Situação é
preocupante para oncologista, pois segundo ela
quanto mais precoce confirmação da doença, maiores serão chances de
cura, com índices acima dos 90%
Neste mês dedicado
à prevenção contra o câncer de mama, um dado assustador: a mamografia para
mulheres com idade entre 50 e 69 anos, considerada uma das medidas mais
importantes para a detecção precoce da doença, foi diretamente afetada pela
pandemia, conforme mostra um levantamento publicado na Revista de
Saúde Pública. O número de exames realizados na rede pública nesta faixa etária
diminuiu 42% em 2020 na comparação com o ano anterior, caindo de 1.948.471 em
2019 para 1.126.688 no ano em que a Covid-19 chegou ao país. A diferença de
821.783 mamografias não realizadas em 2020 deve significar algo em torno de
4.108 casos de câncer de mama não descobertos no ano passado, considerando
estimativas da taxa de detecção da doença (em média são 5 casos confirmados
para 1000 exames).
Para a oncologista
Nara Andrade, que faz parte do corpo clínico da Cetus Oncologia, clínica
especializada em tratamentos oncológicos com sede em Betim e unidades em Belo
Horizonte e Contagem, a situação preocupa, pois quanto mais precoce o diagnóstico do câncer
de mama, maiores serão as chances de cura, com índices acima dos 90%. “O mais alarmante desses números é que
estamos falando de quatro mil vidas que podem não ter mais oportunidades de se
livrarem da neoplasia. Quando descobrirem a doença, essas mulheres, certamente,
terão que se submeter a um tratamento mais invasivo, com o tumor já avançado”,
ressalta.
Ainda segundo a oncologista, quando a
mulher teve a sua mamografia adiada em 2020 ou escolheu não fazer por temor à
Covid-19 e retornou ao médico somente em 2021, um nódulo, que poderia ser
descoberto no ano passado com 1 cm, de repente está agora com 5 [cm], com
lesões à distância.
E engana-se quem acha que o autoexame
pode substituir a mamografia em tempos de pandemia. Apesar de ele ser uma forma
sempre bem-vinda de autocuidado, Nara explica que muitas mulheres não têm a
mesma prática e sensibilidade nos dedos que um mastologista para palpar ou
identificar um nódulo ainda minúsculo. “Mesmo que se toquem várias vezes, elas
podem não conseguir encontrar uma lesão suspeita. Já o profissional é
especializado na prática.”
A médica também destaca que para ser
palpado, o nódulo da mama deve ter um tamanho superior ao observado na
mamografia, ou seja, quando a mulher consegue tocá-lo no autoexame, significa
que ele já está consideravelmente grande, o que pode indicar doença avançada.
“Por isso, para o rastreamento precoce, o melhor, sempre, é fazer o exame de
imagem em dia”, completa. O Ministério da
Saúde recomenda que mulheres com idade entre 50 e 69 anos façam a chamada
mamografia de rastreamento, mesmo sem sintomas, a cada dois anos. Já a Sociedade
Brasileira de Mastologia, a Federação Brasileira das Associações de Ginecologia
e Obstetrícia e o Colégio Brasileiro de Radiologia orientam que o método
preventivo seja feito anualmente a partir dos 40 anos.
Câncer de mama aumenta entre mais jovens
Apesar de o câncer de mama ser comum
após os 40-50 anos, Nara Andrade aponta que a incidência entre mulheres mais
jovens vem crescendo. No Brasil, historicamente, antes dos 35 anos, os
registros da enfermidade ficavam em torno de apenas 2% dos casos e, hoje, o
Instituto Nacional do Câncer (INCA) estima em 5%.
Segundo a médica, um dos fatores
que contribuem para a alta incidência da doença na população, inclusive em
mulheres jovens, está associado ao aumento de fatores de risco que fazem parte
do estilo de vida moderno, especialmente nas grandes cidades. “Hoje as mulheres
têm poucos filhos ou nenhum, amamentam menos em relação às gerações anteriores,
menstruam mais cedo, entram na menopausa mais tarde. Estão submetidas a
sobrecarga e estresse”, enumera.
O sedentarismo e a adoção de uma dieta,
com excesso de alimentos industrializados como refrigerantes, carboidratos,
doces e excesso de carne vermelha também acabam favorecendo o ambiente para o
possível desenvolvimento do tumor, que ao ser diagnosticado antes dos 35 anos
de idade, costuma ser mais agressivo, o que torna a detecção precoce ainda mais
importante.
A boa notícia é que, de acordo com a
oncologista clínica da Cetus, os tratamentos estão mais individualizados e são
determinados conforme cada caso. “Hoje na medicina sabemos que existem vários
subtipos de câncer de mama. Com a evolução da oncologia nos últimos anos é
possível identificar e separar esses subtipos bem como as terapias mais
assertivas, que variam desde quimioterapia, hormonioterapia, terapia alvo,
passando pela imunoterapia. Com isso aumentaram as chances delas serem mais
promissoras”.
Outro ponto que, para a médica,
merece destaque é que conforme o sistema público de saúde brasileiro
implementou campanhas, como o ‘Outubro Rosa’, que estimulam o rastreamento
mamário na população por meio da mamografia, aumentaram os índices de
diagnóstico precoce e a consequente redução da mortalidade por câncer de mama.
“Ela [a mamografia] reduz a mortalidade em 30%. Por isso, deixar de fazê-la na
pandemia é um equívoco. Quem age assim pode estar reduzindo suas chances de
cura.”
A única recomendação de Nara quanto ao exame
nestes tempos de Covid-19 é esperar, no mínimo, 15 dias para fazê-lo após a
aplicação da primeira ou segunda dose das vacinas atualmente aplicadas contra o
vírus. “Um dos possíveis efeitos colaterais dos imunizantes é a aparição de
linfonodos, também chamados gânglios ou ínguas, nas axilas das pacientes. Se
ela faz a mamografia imediatamente após se imunizar, o laudo pode identificar
esses carocinhos, sugerindo doenças que deveriam ser investigadas, quando na
verdade não são. Depois desse período, de duas semanas, os linfonodos regridem,
isto é, voltam ao normal.”
Reconheça os sinais
Pensando em promover a conscientização de maneira
mais dinâmica e inclusiva, a campanha institucional da Cetus Oncologia para o
‘Outubro Rosa’ deste ano é focada na linguagem dos sinais. “O nosso objetivo
principal é estimular o autocuidado como sinal de amor próprio”, afirma a
gerente de relacionamento institucional da clínica, Lilian Mariano.
Os pilares norteadores da campanha serão voltadas
para cinco áreas que se relacionam com a saúde: nutrição, atividade física,
emocional, mental e espiritual.
No ambiente digital, a Cetus irá desenvolver
ações como podcasts sobre o ‘Outubro Rosa’ no Spotify com o objetivo de
conscientizar o público sobre os dados relacionados ao câncer de mama, além de
incentivar a mamografia. Haverá ainda conteúdos específicos para as redes
sociais, além de lives no Instagram e YouTube da clínica com profissionais especializados,
challenges no Tik Tok, entre outras estratégias.
Também fazem parte do rol de atividades da
campanha, parcerias com academias, clínicas de estética, pilates, ioga e salão
de beleza, que irão divulgar spots englobando os cinco pilares norteadores da
campanha institucional. “Temos que disseminar a mensagem de prevenção,
conscientização e autocuidado em todos os espaços, estejam eles no ambiente on
ou off-line. Só assim menos vidas serão perdidas para essa doença que mais mata
mulheres no Brasil e no mundo”, destaca Lilian.
Toda a programação da campanha institucional do Outubro Rosa da Cetus Oncologia pode ser acompanhada no perfil do Instagram @cetusoncologia ou no https://youtube.com/channel/UCYiMEEh3GxD1S0hMSCE9G7w.
Dados importantes
- O Instituto Nacional do Câncer (Inca) estima que em 2021 o Brasil terá pelo menos 66 mil novos casos de câncer de mama diagnosticados, o que representa uma taxa de incidência de 43,74 casos por 100 mil mulheres.
- Morrem no Brasil, vítimas da doença, segundo o último dado oficial do Inca, 17 mil mulheres pos ano; 42 por dia, número subestimado porque há lugares nos país que não têm registro de casos pelo SUS.
- 62% das mulheres brasileiras a partir dos 20
anos estão esperando a pandemia acabar para retomar consultas médicas e
exames de rotina para detecção de câncer de mama. Já em mulheres acima de
60 anos, o índice sobe para 73%.
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