Dia desses, mexendo em
arquivos dos meus 47 anos de atuação na medicina, encontrei uma carta recebida
de um paciente muitos anos atrás, quando eu ainda cursava o sexto ano de
faculdade. Humilde, mal sabia escrever, mas, basicamente, me agradecia por ter
salvado a vida dele. Uma mensagem que me recorda, dentre outras coisas, o
grande valor de ser médico. Um momento importante em minha vida, pois aquela
empatia entre paciente e médico me fez perceber que tinha acertado em cheio na
escolha da profissão.
Lembro-me, na
juventude, de minha família perguntar o que eu queria ser quando crescesse. Eu
costumava responder "fazendeiro". Naquela época, os médicos
costumavam ser abastados e, na minha cabeça de pré-adolescente, fazer medicina
me daria a oportunidade de comprar uma fazenda.
Mal sabia eu o vício
que minha ocupação se tornaria. Uma dependência que só me tirará dessa
atividade quando a morte nos separar. Nós, médicos, temos obsessão em cuidar,
tratar, ser útil e conseguir salvar vidas.
Mas as coisas, claro,
não vêm de graça. Engana-se quem pensa que o final da faculdade, das
especializações e das pós-graduações significa parar de estudar. Ser médico é
estudar a vida inteira, é acompanhar o ritmo das especialidades e o dinamismo
da tecnologia. É estar apto e em consonância com a contemporaneidade para
buscar sempre a melhoria da qualidade de vida das pessoas. É ser abnegado,
renunciar a noites bem dormidas, à família, a finais de semana de folga para
estar nos hospitais.
Em 2020, o estudo
"Demografia Médica do Brasil", publicado pelo Conselho Federal de
Medicina em parceria com a Universidade de São Paulo (USP), apontou que o
Brasil atingiu o marco de mais de 547 mil médicos registrados junto aos
Conselhos Regionais de Medicina. Até 2030, este número deve ultrapassar a marca
de 820 mil, segundo o levantamento.
Para quem está
chegando à profissão, é importante lembrar de que um vestibular dificílimo já
foi vencido. Que, nas universidades públicas, é concorridíssimo, e nas
particulares, além da concorrência, paga-se uma mensalidade alta. Minha dica:
até o terceiro ano você tem que saber se esse é o caminho. É a melhor época
para realmente ter certeza. Às vezes é melhor abdicar do diploma de medicina
para ir fazer algo que você realmente goste. Para quem já percebeu o acerto,
procure ver tudo sobre medicina enquanto está na faculdade. Não escolha a
especialização cedo. Veja o que te dá satisfação. Depois, é possível selecionar
com mais segurança. Na medicina, você já acertou. Na especialidade, a chance de
ser bem-sucedido é diretamente proporcional ao amor pelo que escolheu.
O Dia do Médico,
celebrado no dia 18 de outubro, me lembra de que eu, de fato, não sou um
fazendeiro frustrado, mas um profissional de medicina de êxito. E me lembra,
também, que todo e qualquer conhecimento deve ser partilhado e usado em
benefício das pessoas. Do contrário, é ingratidão e egoísmo. E um médico
egoísta não é um bom médico.
Dr. Aloísio
Carvalhaes - se formou em medicina em 1973, é especialista em gastroenterologia e
endoscopia da parte digestiva e tem quase 44 anos de atuação no Vera Cruz
Hospital, do qual hoje é Coordenador-chefe da Gastroenterologia, presidente da
Fundação Roberto Rocha Brito (entidade ligada ao ensino do Grupo Vera Cruz) e
Mestre da Medicina pela instituição.
Vera Cruz Hospital
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