Nova rotina imposta pelo coronavírus reforçou valor da profissão e
destacou o papel do atendimento humanizado dentro dos hospitais brasileiros
“O que me faz chegar bem em casa é saber que hoje dei alta para o seu
Aurélio, que estava há quatro meses internado no hospital. O que me faz acordar
de manhã é pensar que tenho que ver como está a dona Etelvina, porque preciso
saber o resultado de um exame importante. E não é apenas uma questão de
obrigação, quero estar lá e ver meus pacientes voltando com saúde para casa”.
Esse é o relato de Fernanda Proença Lepca, residente médica do Hospital
Universitário Cajuru (HUC), instituição com atendimento 100% SUS localizada em
Curitiba (PR).
Ela compõe a parcela feminina de residentes, que no Brasil chega a 55%
do total de acordo com um estudo da Universidade do Estado de São Paulo (USP).
Os números impressionam: existem mais de 4 mil programas, 55 especialidades
médicas e 59 áreas diferentes de atuação. Somente no HUC, são ofertadas mais de
50 novas vagas por ano em 20 especialidades, com destaque para Clínica Médica,
Neurologia e Medicina de Família.
“Como hospital-escola, temos o papel de unir educação, atendimento de
qualidade à população e pesquisa, por isso somos terreno fértil para o
desenvolvimento prático de profissionais recém-formados”, avalia a coordenadora
da residência de Clínica Médica do hospital, Larissa Hermann Nunes. “Nesses
poucos meses, vivi o período de maior aprendizado da minha vida. Já sou uma
médica muito melhor do que quando entrei”, confirma a residente Fernanda.
“Mais do que uma profissão, uma doação diária. Com a formação de futuros
médicos em meio à covid-19, não é diferente. Não somente no Brasil, mas nos
quatro cantos do mundo, a medicina e os hospitais tiveram que se desdobrar e se
adaptar de inúmeras formas. Por mais que tenhamos oportunidades de
reconhecermos lições a serem tiradas do momento em que estamos vivendo, a
verdade é que os ‘filhos’ da pandemia se tornarão médicos diferenciados”,
indica o médico intensivista, professor e diretor-geral do HUC, Juliano
Gasparetto.
Tecnologia e humanização andam juntas
Dois mil e quinhentos anos. Esse é o tempo que precisaríamos voltar se
quiséssemos assistir ao início da medicina embasada na ciência. Os experimentos
de Hipócrates davam luz à constatação de que os males do corpo eram
consequência de um desequilíbrio do organismo. De lá para cá, muita coisa
mudou. Até metade do século 20, os médicos passavam seus dias com maleta em
mãos, de casa em casa. Então as cidades cresceram, o conhecimento aumentou e a
tecnologia avançou. A maleta ficou pequena para tantos instrumentos e
possibilidades da profissão.
Em 2020, mais uma vez, a necessidade de reinvenção bateu à porta com a
covid-19. “A inovação é o caminho para a cura e para a qualidade de vida de
nossos pacientes. Investimos em robôs para cirurgias, aplicativos para agilizar
consultas e em telemedicina para eliminar fronteiras, tudo isso, sem deixar de
levar treinamento e capacitação de ponta aos nossos médicos”, explica o gerente
médico do Hospital Marcelino Champagnat, Rogério de Fraga.
Apesar da importância da tecnologia para o sucesso do cuidado, é preciso
valorizar sempre o fator humano. “A ciência tem as respostas técnicas, mas
somos nós que temos as respostas humanizadas. Esse acolhimento veio para ficar
e, certamente, as instituições mais responsáveis estão atentas a essas
condutas, incorporando-as às suas diretrizes assistenciais”, destaca o
diretor-geral do Hospital Universitário Cajuru, Juliano Gasparetto.
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