No atual cenário de acelerada transformação digital e atualização das regulamentações, é possível afirmar que, desde a última grande mudança realizada no Sistema de Pagamento Brasileiro (SPB), em 2002, não se observava uma movimentação tão expressiva no setor financeiro do Brasil. Naquele período, entre as diversas novidades, houve a implantação do Sistema de Transferência de Reservas (STR), que colocou o país entre as nações que liquidam as transações interbancárias em tempo real. Agora, quase 20 anos depois, o segmento experimenta inovações que prometem, de fato, revolucionar a relação entre os bancos e seus clientes e a forma de acesso ao mercado, com ganhos, principalmente, para a competividade e a inclusão.
Quatro fatores são
responsáveis diretamente por esse processo: PIX, open
banking, cadastro positivo e LGPD. O PIX (Pagamento Instantâneo do
Banco Central) entrou em operação no final do ano passado e, em pouco tempo, se
tornou a principal ferramenta de transferência de recursos. Mais que isso, hoje
existe uma agenda do Bacen que agrega, quase que semanalmente, novas
funcionalidades ao mecanismo, fomentando, assim, a inovação e ampliando sua
usabilidade e sua segurança. Nos próximos meses, muitas novidades ainda estão
por vir, como o PIX Saque, PIX Troco, PIX Offline, entre outras.
Já a implantação – em curso –
do open banking abre inúmeras possibilidades para o mercado
financeiro. Em especial, diminui assimetrias entre pequenas, médias e grandes
instituições e aumenta a democratização do setor. Trata-se, em síntese, da
implementação de uma rede de conexão, que permite o compartilhamento, pelas
entidades vinculadas ao Banco Central, dos dados bancários e do histórico de relacionamento
dos usuários. Claro, mediante consentimento das pessoas. Isso permite que as
empresas tenham informações suficientes para oferecer produtos, serviços, taxas
e juros mais aderentes ao perfil de cada cliente.
Nessa mesma lógica está o
cadastro positivo. Abastecido automaticamente com informações dos pagamentos
regulares dos consumidores, ele contribui para ampliar o acesso ao crédito e
para reduzir juros, uma vez que é possível avaliar o histórico do cliente, sem
que eventuais atrasos na quitação das contas prejudiquem essa análise. É uma
inversão na lógica adotada pelo sistema financeiro anteriormente, pois os
gestores tinham disponíveis apenas dados de inadimplência, utilizados para a
negativação do cidadão. Agora podem trabalhar com uma lista dos bons
pagadores.
Diante desse contexto, a Lei
Geral de Proteção de Dados (LGPD) aparece como um contraponto às novas ações
regulatórias. Ao mesmo tempo em que se autoriza a abertura de mais dados ao
mercado, a LGPD determina responsabilidades para a tratativa desses cadastros
pelas instituições financeiras. Isso garante o poder de decisão, a privacidade
e a segurança dos clientes. No início de agosto, entrou em vigor a aplicação
das sanções para as empresas que descumprirem as regras de coleta, uso, armazenamento
e compartilhamento de informações dos cidadãos.
Assim, todas essas iniciativas
de disrupção que envolvem o setor financeiro estão relacionadas ao interesse do
Banco Central em ampliar a competitividade, abrir mais o mercado e facilitar a
entrada de novos players, além de aumentar a liberdade
do cliente e a disponibilidade de crédito, com ofertas mais justas. A adaptação
é um desafio para os bancos e exige rápidas transformações, tanto operacionais,
tecnológicas e culturais, quanto comerciais e no relacionamento com o público.
O cliente, cada vez mais, terá autonomia e poder de escolha. Então, é essencial
se mostrar flexível, a fim de oferecer produtos e serviços sob medida, que
agreguem valor e atendam aos seus interesses e às suas necessidades prioritárias.
Enfim, as mudanças estão
apenas começando, e ainda é difícil prever quais serão os novos modelos de
negócio. No entanto, é certo que esse momento exige, também, a aceleração da
educação financeira. Atualmente, cerca de 10% da população do país continua
desbancarizada, de acordo com levantamento do Instituto Locomotiva, referente a
janeiro de 2021. São, aproximadamente, 34 milhões de pessoas que não têm conta
em banco ou a utilizam bem pouco, mesmo após o crescimento registrado após o
início da pandemia. Agora, terão mais possibilidades de acessar o sistema
bancário. Outros milhões não se enquadram nesse indicador, porém engrossam a
lista dos brasileiros que não possuem uma relação saudável com o crédito ou
sequer conhecem os produtos e serviços financeiros, para que possam tomar
decisões conscientes.
Lucas
Thaislo - diretor de Tecnologia e Inovação do Banco SEMEAR, único banco
mineiro especialista no varejo de eletromóveis, presente em todo o
território nacional.
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