Estudo indica que a proporção de cobertura florestal em áreas do Corredor Ecológico Cantareira-Mantiqueira influencia as concentrações de metais tóxicos acumulados em abelhas jataí encontradas na área de proteção ambiental (foto: Cristiano Menezes/Fototeca da Associação Brasileira de Estudos das Abelhas)
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A cobertura de vegetação nativa exerce efeito
protetor contra poluentes tóxicos que chegam aos remanescentes florestais
urbanos, gerados pelo tráfego de veículos ou atividades industriais próximas a
essas áreas ameaçadas.
A constatação foi feita por pesquisadores
da Universidade de São Paulo (USP), campus de Ribeirão Preto, em parceria com
colegas da Universidade Estadual Paulista (Unesp), campus de Rio Claro, e de
outras instituições, por meio de um estudo com abelhas jataí (Tetragonisca angustula) coletadas no Corredor Ecológico
Cantareira-Mantiqueira.
Os
pesquisadores mediram as concentrações de 21 elementos químicos acumulados em
espécimes da abelha sem ferrão encontradas em oito diferentes paisagens da área
de proteção ambiental composta por remanescentes florestais de Mata Atlântica,
situada ao norte-nordeste da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP).
As
análises indicaram que, quanto maior a cobertura de floresta nas paisagens
estudadas, menores foram as concentrações de metais tóxicos, como mercúrio,
cádmio e cromo, depositados nos corpos das abelhas.
Os resultados do estudo, apoiado pela
FAPESP por meio de quatro projetos (16/14737-3, 16/07661-0, 13/50421-2, 20/01779-5),
foram publicados em artigo na
revista Ecotoxicology and Environmental Safety.
“Vimos que a cobertura vegetal nativa
influencia as concentrações desses elementos poluentes acumulados nas abelhas,
que são reconhecidamente tóxicos e podem colocar em risco a biodiversidade”, diz
à Agência FAPESP Maria Fernanda Hornos Carneiro,
professora da Pontifícia Universidade Católica do Chile e coordenadora do
estudo. O trabalho foi iniciado quando a pesquisadora realizava um
pós-doutorado na USP de Ribeirão Preto.
De acordo
com Hornos Carneiro, devido ao comportamento forrageador e aos pelos existentes
nos corpos das abelhas, os insetos podem fornecer informações úteis sobre a
qualidade dos ambientes onde vivem. Isso porque, ao sobrevoar diferentes
espaços em um ambiente para realizar a polinização de diversas plantas
frutíferas, podem carregar partículas ultrafinas de aerossóis atmosféricos
gerados pela poluição urbana. Entre eles, metais tóxicos, adsorvidos no
material particulado.
Por essa
razão, as abelhas e os produtos derivados delas, como mel, pólen, própolis e
cera, têm sido usados em estudos de análise de riscos ambientais por meio da
avaliação da bioacumulação de metais e metaloides – elementos químicos com
propriedades intermediárias entre os metais e os não metais.
No Brasil, por exemplo, já foram
feitos estudos usando a abelha exótica Apis mellifera como
bioindicadora da qualidade ambiental em diferentes paisagens. No entanto, ainda
era escasso o biomonitoramento feito por meio de abelhas sociais nativas.
Com base
nessa constatação, os pesquisadores tiveram a ideia de verificar se a jataí
poderia ser bioindicadora da qualidade ambiental no Corredor Ecológico
Cantareira-Mantiqueira, uma vez que desempenha um papel fundamental naquele
ecossistema, polinizando diversas plantas frutíferas.
“A jataí é
uma das dezenas de espécies de abelhas sem ferrão existentes na Mata Atlântica.
Todas elas estão ameaçadas pelas atividades humanas que ocorrem ao redor desse
corredor ecológico situado muito próximo de São Paulo e, portanto,
potencialmente exposto também à emissão de poluentes gerados na cidade”, afirma
Hornos Carneiro.
Efeito benéfico
A fim de
avaliar os efeitos da cobertura vegetal nativa e modificada no acúmulo de
metais tóxicos e metaloides em abelhas jataí habitantes do corredor ecológico,
os pesquisadores coletaram por meio de armadilhas ou buscas diretas exemplares
do animal oriundos de oito paisagens do corredor ecológico, com gradientes de
cobertura vegetal e heterogeneidade espacial variados.
A
concentração de 21 elementos químicos presentes nas abelhas foi determinada por
meio de espectrometria de massas com plasma acoplado indutivamente (ICP-MS) –
técnica que permite detectar metais e diversos não metais em concentrações
muito baixas.
Os
resultados das análises indicaram um efeito benéfico das áreas florestadas nas
concentrações de mercúrio, cádmio e cromo nos insetos.
Por outro
lado, as análises revelaram que a concentração média de alguns elementos
tóxicos identificados nos insetos, como chumbo, alumínio e arsênio, foram
maiores do que as detectadas em outras espécies de abelhas coletadas em áreas
urbanas ou próximas de regiões industriais situadas em países como a Sérvia,
Holanda e Itália.
“Nos
chamou a atenção que a média de concentração desses elementos tóxicos nas
abelhas coletadas no corredor ecológico foi maior do que as detectadas em
regiões nitidamente mais impactadas ambientalmente pela poluição atmosférica”,
diz Hornos Carneiro.
A estrada
e o solo descoberto que margeiam o corredor ecológico foram identificados como
fatores que contribuem para o acúmulo dos poluentes inorgânicos encontrados nas
abelhas.
O artigo Effects of native forest and human-modified land covers on the
accumulation of toxic metals and mettaloids in the tropical bee Tetragonisca
angustula (DOI:10.1016/j.ecoenv.2021.112147), de Marcela de Matos Barbosa, Ana
Carolina Coelho Fernandes, Rafael Souza Cruz Alves, Denise Araujo Alves,
Fernando Barbosa Junior, Bruno Lemos Batista, Milton Cezar Ribeiro e Maria
Fernanda Hornos Carneiro, pode ser lido em: www.sciencedirect.com/science/article/pii/S014765132100258X#gs2.
Elton Alisson
Agência FAPESP
https://agencia.fapesp.br/vegetacao-nativa-exerce-efeito-protetor-contra-poluentes-em-remanescentes-florestais/36815/
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