Acabamos de ter a notícia que o IPCA-15
do mês de setembro foi de 1,14% e acumula alta de 10,01% nos últimos doze
meses, registrando o maior índice para Setembro desde o plano real implantado
em 1994, principal conquista do país nos últimos 30 anos e que debelou a então
galopante inflação brasileira. Quem já acompanhava o setor de crédito, em
especial as empresas de factoring, securitizadoras e os FIDCs, lembra como era
quase impossível precificar o fator de compra, afinal o ganho real é sempre
estimado sobre a expectativa inflacionária. Um dos mecanismos da política
monetária do Banco Central para conter a inflação tem sido aumentar a Selic,
taxa básica de juros da economia.
Se, por um lado o aumento do IPC-A tem efeitos fulminantes entre as classes
menos favorecidas e, por isso, o Governo não pode perder essa guerra contra a
inflação, por outro, aumentar a Selic tem efeito adverso na política fiscal e
impacto imediato no custo do crédito, principalmente nos financiamentos de
longo prazo, mas também entre as micro e pequenas empresas, principais
tomadores de recursos junto do fomento comercial. Ao mesmo tempo, o reajuste da
taxa, que já está em 6,25% e deve chegar aos 9% até o fim do ano, aumenta os
rendimentos dos investidores que têm capital próprio para aplicar sem,
necessariamente, alocar verbas diretamente no setor produtivo.
Todo o mercado financeiro, inclusive o fomento comercial, utiliza o chamado
custo de oportunidade financeira, combinando a taxa Selic e um percentual de
spread para precificar o fator de compra de recebíveis
Essa precificação tem que considerar, ainda, os custos operacionais, as
estimativas de inadimplência, o lucro das empresas e os impostos que incidem
sobre a atividade. Nota-se, então, que, com o aumento da Selic o fator de
compra deverá subir. Mas será que isso é bom para o setor?
O que é bom para a economia é bom para as empresas que fornecem crédito para o
setor produtivo, pois elas dependem do desempenho de seus clientes para gerar
recebíveis e negociá-los com outras empresas em um ciclo virtuoso que gera
ampliação dos negócios, emprego, renda e impostos. Mas, o aumento da Selic pode
resultar em redução da atividade econômica, pois os investidores tendem a
aplicar mais no mercado financeiro que no setor produtivo. Pelo mesmo motivo,
no mercado de fomento comercial, podemos observar um aumento do número de
players atraídos por retornos aparentemente mais altos.
Como vemos, essa arriscada combinação tem potencial de frear a retomada da
atividade econômica que está a todo vapor (no setor de fomento comercial os
índices já estão até superiores ao período pré-pandemia) podendo levar o país a
uma recessão e, até mesmo, a um estagflação – quando os preços não param de
subir, mesmo que a economia esteja parada.
Ainda dentro desse contexto, desde o dia 20/9 está em vigor o aumento de 36% na
taxa do IOF, majoração que será mantida até dezembro para custear o Auxílio
Brasil e que também terá impacto no custo do crédito, prejudicando ainda mais a
retomada econômica. Neste caso, pelo menos o Governo teve a sensibilidade de
não aumentar o IOF para as pequenas e médias empresas enquadradas no Simples
Nacional.
Toda esta conjuntura e a história nos levam a temer pelas conquistas do Plano
Real, não podemos voltar à inflação estratosférica de antes de 1994, ainda mais
se associada a baixa atividade econômica. Portanto, respondendo objetivamente:
esse cenário não seria bom para o fomento comercial, ainda que aumente a taxa
de remuneração das empresas do setor, ele pode ter impacto negativo entre
nossos clientes, afugentando novos negócios ou aumentando a inadimplência. Mas
acreditamos na força das instituições para a tomada de medidas que evitem esse
quadro e na competência das empresas do nosso setor para manter seus negócios
no que parece ser mais uma fase turbulenta de nossa
economia.
Hamilton de Brito Jr. - presidente do SINFAC-SP (Sindicato das Sociedades de Fomento Mercantil Factoring) e da ABRAFESC (Associação Brasileira de Factoring, Securitização e Empresas Simples de Crédito).
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