domingo, 4 de julho de 2021

Estudo aponta que 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia

O acúmulo de funções e a falta de uma rede de apoio são alguns dos fatores que contribuem para a exaustão materna


O papel de cuidar e gerenciar as tarefas da casa e a vida da família tem sido cada vez mais intenso para as mulheres durante a pandemia da Covid-19. E, quando falamos das mulheres que são mães, estudos mostram alguns fatores que aumentam significativamente os impactos na saúde mental.

De acordo com uma pesquisa realizada pela startup Famivita, 39% das brasileiras com filhos pequenos perderam o emprego durante a pandemia. O desemprego afeta negativamente o bem-estar não só físico, mas também emocional dessas mães neste momento já muito crítico, sobretudo porque muitas delas constituem, inclusive, a única renda da família.

Não ter onde deixar os filhos para ir trabalhar, por escolas e creches terem fechado e até mesmo o medo de deixar com os pais idosos, também é uma preocupação constante para as mães que precisam sair de casa. Em contrapartida, temos também aquelas que sofrem com a rotina tripla do home office, em que é preciso cuidar dos filhos, da casa, dar atenção ao trabalho, tudo ao mesmo tempo e no mesmo ambiente, o que cria uma grande sobrecarga.

Somando as questões financeiras, emocionais, os relacionamentos dentro de casa, vida pessoal e profissional, isolamento social, a falta de contato com familiares e amigos, além da administração de toda a situação da pandemia, da doença, do luto, do cuidado com a higiene e limpeza, vivemos em um contexto em que mães estão exaustas e mais propensas a desenvolver transtornos psicológicos.

Podemos observar esta situação por meio do estudo realizado pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, com apoio da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, que mostra que 63% das mães tiveram sintomas depressivos durante a pandemia.

Segundo Katherine de Paula Machado, neuropsicóloga da Clínica Maia, este cenário atual pode levar as mães a apresentarem diferentes condições mentais. "A tristeza intensa por períodos prolongados pode se tornar debilitante, implicando no que conhecemos por depressão. O medo e a ansiedade em excesso podem ser paralisantes e até mesmo incapacitantes, como as fobias e transtornos de ansiedade. Assim como o acúmulo de atividades, sem períodos de descanso ou lazer, contribui para o desgaste emocional e pode desencadear a síndrome de burnout", aponta a especialista.

Com muitas obrigações no dia a dia, a casa deixa de ser um lugar de conforto e acolhimento para se tornar um espaço de conflitos. O uso abusivo de substâncias psicoativas ou até mesmo a dependência química, para quem tem predisposição, pode ser outro fator agravante.

Além disso, também é possível ocorrer estresse pós-traumático devido à repetição de vivências negativas (embora esse transtorno seja esperado após a pandemia, também pode ocorrer durante, devido à sua longa duração).

Para amenizar os impactos de todo esse contexto pandêmico, Katherine recomenda que é muito importante a construção de uma nova rotina, de acordo com a nova realidade, estipulando horários para o início e fim das tarefas, seja trabalho, cuidado com os filhos, refeições, pausas, lazer.

"Para ajudar na organização do tempo, fazer uma planilha é uma alternativa válida, pois desta maneira fica possível uma avaliação mais coerente da rotina estabelecida. Se possível, essa organização deve incluir outros membros da casa, isso ajuda não só a mãe, mas também os filhos que, muitas vezes, também têm seu comportamento alterado", aconselha a neuropsicóloga.

Reconhecer e acolher as emoções; ter um tempo para si, ter seu espaço pessoal e respeitar o das outras pessoas; estabelecer momentos de descanso para fazer o que gosta, como escutar música, assistir filmes ou séries, ler algum livro, meditar ou não fazer absolutamente nada; e inserir a prática de exercícios físicos, que liberam endorfina - um dos hormônios associados à sensação de prazer e ao combate à depressão - são algumas medidas que podem ajudar.

Manter uma rede de apoio social também é muito importante para dividir as angústias e experiências; ter apoio emocional e aprender novas técnicas para lidar com a tensão, a ansiedade e também problemas econômicos é essencial.

"É importante ter clareza que estamos vivendo num momento atípico, onde ter tanta demanda torna impossível realizar tudo com a eficiência desejada. Entenda que não é possível dar conta de tudo, diminua o sentimento de culpa e tente viver um dia por vez. Registre tudo que foi feito durante seu dia e verifique suas realizações e suas conquistas, e não apenas o que não foi possível ser feito", recomenda Katherine às mães.

Ao identificar que as estratégias utilizadas não estão sendo eficientes, pode ser necessário buscar ajuda especializada de um psicólogo e/ou psiquiatra. Lidar com sentimentos e emoções em momentos de crise não é uma tarefa fácil, ainda mais quando existem dependentes, como os filhos. Se for preciso, busque ajuda!


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