A ONU Meio Ambiente elegeu a Restauração de Ecossistemas como tema do Dia Mundial do Meio Ambiente de 2021 - o primeiro a acontecer na Década da Restauração, estabelecida pelas Nações Unidas para o decênio entre 2021 e 2030. Em um ano-chave para negociações climáticas (COP26 em novembro) e sobre biodiversidade (COP15, em outubro), a iniciativa da ONU visa chamar a atenção para a importância da restauração como ferramenta para combater a crise climática global e melhorar a segurança alimentar, o fornecimento de água e a biodiversidade. Trata-se de um desafio gigantesco: estudo do WRI estima que 2 bilhões de hectares no mundo todo têm algum grau de degradação. No Brasil, estudo do LAPIG identificou 69 milhões de pastagens com degradação moderada ou severa.
Entre os vários biomas passíveis de restauração, as florestas merecem destaque.
Elas têm papel crucial no combate à crise climática e na proteção da
biodiversidade. Estima-se que 1,2 bilhão de pessoas no
mundo dependem das florestas como meio de vida e em áreas degradadas a
restauração é uma boa notícia, pois constitui uma estratégia crucial para gerar
empregos no campo. No caso do Brasil, segundo estimativa do Planaveg, restauração e
reflorestamento têm potencial de criar 191 mil empregos diretos por ano no meio
rural. Não por acaso, projetos de restauração são bem aceitos pelas comunidades
locais. Por meio da metodologia ROAM, o WRI Brasil avaliou as motivações,
oportunidades e prioridades da restauração em algumas localidades e comunidades
do país. No Vale do Paraíba Paulista,
por exemplo, a ROAM identificou oportunidade de melhorar o solo, a água, e
gerar um aumento do PIB agropecuário da região de 32% com iniciativas de
restauração. No norte do Espírito Santo,
a restauração desempenha um papel crucial na água, evitando a desertificação. E
em Minas Gerais, na região atingida pelo rompimento da barragem de Mariana, restaurar fortalece laços sociais e
aumenta PIB local em R$ 23 milhões.
A restauração de florestas também tem papel importante na economia. Um exemplo
é na qualidade do solo e da água. As florestas reduzem a erosão e aumentam a
fertilidade do solo. Ao controlar a erosão, elas diminuem a quantidade de
sedimentos - terra, sujeira, solo - que entram nos rios, melhorando a qualidade
da água como um todo. Um estudo do WRI Brasil mostrou que a restauração em
áreas prioritárias dos reservatórios de abastecimento de água, por exemplo,
reduz custos com produtos químicos no tratamento. Isso poderia resultar em
economias de R$ 156 milhões em São Paulo e
R$ 69 milhões no Rio de Janeiro.
E já tem muita gente com a mão na massa: o Observatório da Restauração e
Reflorestamento, uma iniciativa da Coalizão Brasil, Clima, Florestas
e Agricultura com apoio do WRI Brasil, está mapeando a restauração a partir de dados
de satélite e em projetos no chão. Ele identificou que já há 74 mil hectares em
restauração na Mata Atlântica, bioma mais desmatado do país. O Pacto para a
Restauração da Mata Atlântica é um importante coletivo atuando nessa região. Na
Amazônia, por exemplo, a Aliança pela Restauração da Amazônia já identificou 113 mil
hectares em restauração.
Muitos países já se comprometeram com metas, propostas e planos para recuperar
florestas e paisagens. O Brasil, por exemplo, por meio do Planaveg, tem o
compromisso de restaurar 12 milhões de hectares de florestas até 2030, além do objetivo
de implantar a agricultura de baixo carbono em outros 10 milhões de hectares,
metade em integração Lavoura, Pecuária e Floresta e metade em recuperação de
pastagens. São iniciativas que contribuem com nossa meta climática: estudos do IIS na Amazônia e Mata
Atlântica mostram que a restauração pode retirar da atmosfera mais
de 18 milhões de toneladas de carbono, além de reduzir o risco de extinção para
369 espécies na Amazônia e 647 espécies na Mata Atlântica.
Na América Latina, 17 países, além de governos subnacionais, se comprometeram
com a restauração de 50 milhões de hectares até 2030 por meio da Iniciativa 20x20.
Recentemente, a Iniciativa 20x20 reportou que parceiros da iniciativa privada,
de governos nacionais e governos subnacionais da América Latina conservaram e
restauraram cerca de 22,6 milhões de hectares de florestas e paisagens no
continente, por meio de 135 projetos. No continente africano, há o compromisso
de se restaurar 100 milhões de hectares pela iniciativa AFR100. Ao considerar as
metas para todo o mundo, temos um total de 350 milhões de hectares em
compromissos feitos na Desafio de Bonn e na Declaração de Florestas de Nova
York.
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