Com os mitos e verdades, saiba mais sobre fatores de risco, detecção e tratamento do tumor, que contou com cerca de 185 mil casos no Brasil em 2020
Com a chegada do inverno, é comum que
as pessoas relaxem no uso do protetor solar. Mas a temporada de frio não
significa que os raios solares nocivos à pele entraram de férias. Pelo
contrário, mesmo em dias de céu nublado eles seguem presentes e podem
representar riscos à saúde, entre eles impactos importantes na incidência de
câncer.
Os últimos dados divulgados pelo Instituto Nacional do Câncer (INCA) apontaram
que dos 625 mil novos casos de tumores malignos diagnosticados em 2020 na
população, mais de 185 mil foram de pele. O número diz respeito a dois tipos: o
de pele não melanoma e o de pele melanoma, somados. O mais comum deles, o não
melanoma, possui altos índices de cura quando é detectado e tratado
precocemente e sua prevenção está diretamente ligada aos cuidados com a
exposição excessiva aos raios solares sem a devida proteção.
Para Sheila Ferreira, oncologista do CPO Oncoclínicas, neste momento de
pandemia, o alerta sobre a condição se torna ainda mais essencial. "A
população não deve descuidar da atenção global à saúde. A pandemia pelo
Coronavírus e o fato de as pessoas permanecerem por mais tempo dentro de casa,
fez com que o hábito de passar protetor solar fosse deixado um pouco de lado,
mas os cuidados devem permanecer, principalmente quando se está em ambiente
interno próximo de janelas que permitem a entrada da luz solar, não sendo capaz
de filtrar os raios ultravioletas. Por isso, a recomendação vale para dentro e
fora de casa. Além disso, é imprescindível que, caso identificada qualquer
alteração na pele, como feridas que não cicatrizam ou manchas suspeitas, a
pessoa busque atendimento médico especializado", diz.
Segundo a especialista, independentemente da classificação do câncer de pele,
os fatores que aumentam o risco são os mesmos: a exposição prolongada e
repetida ao Sol, sem uso de proteção adequada. Ter a pele e olhos claros,
cabelos ruivos ou loiros, ser albino (ou possuir histórico familiar) também
contribuem para o aumento de risco de desenvolver a doença. "A irradiação
ultravioleta do sol - conhecida como raio UV - é a principal vilã no câncer de
pele e é motivo de preocupação mesmo em tempos frios. A exposição continuada
aos raios UV, ou mesmo intermitente, tem efeito cumulativo e, quando ocorre sem
proteção, pode ser considerada um fator de risco relevante", explica
Sheila.
Ela ressalta ainda que, apesar de histórico familiar (fatores hereditários) ou
fatores externos (pessoas em profissões que exigem exposição solar diária)
representarem maior risco à doença, a atenção e o cuidado devem ser realizados
por todas as pessoas. "Além desses fatores, portadores de alguma
imunossupressão também podem ter seu risco aumentado. Porém, tais grupos de
risco não invalidam a necessidade de cuidado em todo o tipo de pele. Inclusive,
pessoas com a pele negra têm a tendência de desenvolver um tipo de melanoma
particular, que se manifesta nas palmas das mãos e planta dos pés, com
corportamento mais agressivo", completa a médica.
Sheila ainda reforça que o protetor solar é um aliado importantíssimo para a prevenção
do câncer. "Ele deve ser aplicado diariamente, repassado a cada duas horas
e após o contato da pele com a água. Proteger bebês e crianças é especialmente
importante. Antes dos 6 meses de idade, eles devem ser mantidos fora do sol
usando roupas, chapéus, cobertores e persianas. Após os 6 meses a criança já
pode utilizar o filtro solar", alerta.
O filtro solar deve ser utilizado também durante o inverno e em dias nublados.
"Os raios UV são capazes de atravessar as nuvens, penetrar em janelas e,
ainda, são refletidos pela água, areia e concreto. Ou seja: nem a sombra é
completamente protetora", enfatiza.
Como detectar e tratar o câncer de pele
Os principais sinais e sintomas de câncer não-melanoma são a presença de lesões
cutâneas com crescimento rápido, ulcerações que não cicatrizam e que podem
estar associadas a sangramento, coceira e algumas vezes dor e geralmente surgem
em áreas muito expostas ao Sol como rosto, pescoço e braços.
É importante a avaliação frequente de um especialista para acompanhamento
dessas lesões. A análise da mudança nas características destas lesões é de
extrema importância para um diagnóstico precoce, pois quando identificado em
fase inicial, o câncer de pele tem excelentes respostas aos tratamentos e
elevado potencial de cura. Além disso, o dermatologista tem o papel de orientar
sobre a proteção adequada para evitar os possíveis riscos que os raios solares
podem causar na pele.
"O câncer de pele do tipo não-melanoma é o mais comum, com destaque para o
carcinoma basocelular e carcinoma espinocelular. O primeiro, é o tipo mais
frequente, com crescimento mais lento. A suspeita se dá, usualmente, pelo
aparecimento de uma lesão nodular rósea, com aspecto peroláceo em regiões
expostas ao Sol, como rosto, pescoço, couro cabeludo, ombros e costas. Já no
caso do carcinoma espinocelular, mais comum em homens, ocorre a formação de um
nódulo que cresce rapidamente, com ulceração (ferida) de difícil
cicatrização", explica Dra. Sheila.
Os casos de câncer de pele do tipo melanoma são, por sua vez, geralmente os que
se iniciam com o aparecimento de pintas escuras na pele, que apresentam
modificações ao longo do tempo. As alterações a serem avaliadas como suspeitas
são o "ABCDE"- Assimetria, Bordas irregulares, Cor, Diâmetro,
Evolução. Através de uma avaliação prévia das pintas, a doença é diagnosticada
facilmente.
Apesar de corresponder somente a 3% dos tumores malignos de pele registrados no
país, o melanoma é considerado o tipo mais grave devido à alta possibilidade de
provocar metástase. No Brasil, são esperados para 2021 8.450 casos e em torno
de 1.800 mortes pela doença. "Esse tipo de tumor pode aparecer na pele ou
mucosas, na forma de manchas, pintas ou sinais. É necessário ficar alerta
quanto às possíveis mudanças nas pintas, como aumento de tamanho, variação de
cor, perda da definição ou irregularidades das bordas e sangramento. Ao
primeiro sinal de mudança, é recomendável buscar o aconselhamento médico",
frisa a oncologista clínica do CPO Oncoclínicas.
Quando diagnosticado o melanoma, é indicada a ressecção cirúrgica destas lesões
por especialista habilitado para adequada abordagem das margens ao redor do
tumor. Posteriormente, dependendo do estágio da doença, pode ser necessária a
realização de tratamento complementar. Todavia, vale lembrar, em situações de
detecção precoce, quimioterapia, imunoterapia ou radioterapia são raramente
necessárias e a cirurgia é capaz de resolver a maioria dos casos. "O
tratamento para o câncer de pele pode ser feito apenas através de cirurgia quando
detectado no início. Já em casos mais avançados da doença pode ser preciso a
realização de terapias complementares", completa Sheila.
Novas alternativas terapêuticas
A oncologista destaca ainda que diversos avanços têm melhorado a qualidade de
vida e sobrevida dos pacientes, com principal atenção às boas respostas às
medicações imunoterápicas, que estimulam o próprio sistema imunológico do
paciente a identificar e combater as células malignas.
"Há algum tempo atrás, os melanomas avançados não tinham uma resposta boa
aos tratamentos mais tradicionais, infelizmente. A chegada da Imunoterapia não
só no câncer de pele, mas também para o tratamento de outros tumores, trouxe
resultados promissores. Hoje em dia, mesmo em casos de melanoma metastático, as
pessoas têm vivido anos. Além disso, temos a opção de terapia alvo em casos
selecionados, também com ótimos resultados. Foi uma revolução para o tratamento
do melanoma", afirma.
No entanto, a melhor abordagem continua sendo a prevenção e o acompanhamento
contínuo de possíveis alterações que possam indicar o surgimento da doença,
promovendo assim o seu diagnóstico em fase inicial. Os cuidados devem ser
intensificados no verão: evitar exposição ao Sol das 10h às 16h, usar protetor
solar, viseiras, chapéus e/ou bonés, bem como roupas e óculos de sol com
proteção UV, mas que devem seguir o ano inteiro - inclusive no inverno e em
dias de tempo nublado. E não deixar de se consultar com dermatologistas
regularmente.
Para saber ainda mais sobre o câncer de pele, confira cinco mitos e verdades
esclarecidos pela Dra. Sheila Ferreira:
1 - É preciso usar protetor em dias nublados.
Verdade. As nuvens não são capazes de bloquear os raios ultravioleta, os quais
estão presentes também em dias nublados, portanto, o uso de protetor solar é
imprescindível sempre.
2 - O risco é maior no verão.
Verdade. O que determina maior risco de incidência de câncer de pele é o índice
ultravioleta (UV), que mede o nível de radiação solar na superfície da Terra.
Quanto mais alto, maior o risco de danos à pele. Esse índice é mais alto no
verão, porém pode ser alto em outras épocas do ano.
3 - Existe exposição ao sol 100% segura.
Mito. É preciso evitar excessos e sempre tomar sol com moderação. E os cuidados
devem ser seguidos o ano inteiro e vale intensificá-los no verão. Isso inclui
evitar ao máximo se expor diretamente ao sol, em especial das 10 às 16 horas,
sempre usar protetor solar e não abrir mão de viseiras, chapéus e/ou bonés, bem
como roupas e óculos de sol com proteção UV, em momentos de exposição mais
intensa aos raios, como durante a prática de esportes ao ar livre ou descanso
em locais como parques, clubes e praias, além de muito protetor solar com
diversas aplicações ao longo do dia.
4 - Somente regiões expostas diretamente ao sol podem ser afetadas.
Mito. A maioria dos tipos de câncer de pele (não- melanoma e melanoma) de fato
tem uma relação de risco de surgimento aumentada devido aos impactos do sol.
Vale lembrar que os raios ultravioleta que causam danos à pele são capazes de
atravessar janelas. Um alerta: alguns subtipos de melanoma podem surgir em
áreas do corpo que muitas vezes não observamos com a devida cautela, como
genitais, glúteos, couro cabeludo, palmas das mãos, solas do pé, debaixo das
unhas e entre os dedos.
5 - Na sombra não é preciso usar filtro solar.
Mito. Mesmo na sombra é preciso passar o protetor solar, pois não estamos
livres dos raios ultravioleta.
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