Primeiro vem a escolha. É quando cada jovem
encara seu próprio futuro e se pergunta onde quer estar quando olhar para trás
em cinco ou dez anos. Depois, vem o caminho, que não é o mesmo para todos e
pode ser muito mais sinuoso para alguns. Cursar uma faculdade ou um curso
técnico, participar de eventos, especializações ou workshops, preparar-se para
o que se encontra quando as possibilidades acadêmicas se esgotam e é preciso
entrar no mercado de trabalho.
Começar uma carreira nunca foi tarefa
simples. Mesmo em tempos de pleno emprego, há o desafio de obter uma formação
que esteja alinhada com as expectativas das empresas, além de conseguir a
experiência necessária na área desejada. Há um universo de opções à disposição,
mas nem todas levam ao sucesso profissional. Além disso, a forma de exercer o
trabalho está mudando radicalmente - e não apenas devido à pandemia. As
empresas estão se modificando em uma velocidade que a formação dos jovens não
consegue acompanhar. Tradicionalmente, sair da academia para o mercado de
trabalho é um choque.
Com a crise econômica causada pela pandemia
de Covid-19, esse cenário só piorou. De acordo com a Pnad Contínua, do
Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), mais de 25% dos jovens
entre 15 e 25 anos não estavam estudando nem trabalhando ao fim de 2020. A taxa
é a maior dos oito anos da pesquisa. Os números são um retrato geral das
dificuldades encontradas por esses jovens para se inserir no mercado. Devido à
pandemia, houve um enxugamento significativo no mercado de trabalho e a oferta
de oportunidades ficou muito mais restrita.
Mas esse não é o único obstáculo. Há muita
desigualdade no processo de formação e capacitação do jovem que vai para o
mercado de trabalho, um fosso que se abre violentamente entre uma parte da
geração que está digitalizada e outra, que, mesmo que esteja no ensino
superior, não tem acesso a toda a riqueza do mundo digital. Essas diferenças de
oportunidade se aprofundaram de forma exponencial no último ano, quando a tecnologia
deixou de ser parte essencial do trabalho para tornar-se, em muitos casos, o
trabalho em si.
E outras alterações irreversíveis no desenho
do mundo do trabalho estão tão presentes quanto a tecnológica. Ao longo do
último ano houve avanços extraordinários na cultura organizacional das
empresas, no uso de tecnologia e relacionamento das companhias com
fornecedores, colaboradores e concorrentes. Esse movimento é muito difícil de
acompanhar, do ponto de vista da formação. A velocidade é tão grande que a
maior parte dos profissionais só vai aprender na prática a dominar as muitas
linguagens que se apresentam.
Como garantir, então, que nossos jovens
possam, no futuro, orgulhar-se, e não lamentar, as escolhas que estão fazendo
neste momento de crise? É preciso ampliar o acesso a programas de estágio e
aprendizagem e aproximá-los cada vez mais das instituições educacionais em que
esses jovens estão inseridos. Para que alcancem objetivos concretos é
fundamental oferecer oportunidades concretas, de modo que eles possam sentir
como seu próprio perfil se encaixa nas opções locais. Para que aprendam a
moldar seu próprio talento é imprescindível que eles estejam em empresas que
permitem essa adaptabilidade à nova realidade de funcionamento. Para que
compreendam o que pode ser melhorado em seu desempenho, é indispensável que
eles tenham contato com o mundo do trabalho antes que essa seja sua única
opção.
Embora a crise seja também econômica, aqueles
que escolhem sua profissão por dinheiro tendem a se decepcionar. E é aí que a
importância do estágio torna-se ainda maior. O estágio continua sendo o mais
importante mecanismo de acesso do jovem ao mercado de trabalho. Ele é um
mecanismo de interação entre o processo de formação que esse jovem está
recebendo e seu futuro profissional. É por meio dele que será possível
identificar habilidades e experimentar alternativas dentro das empresas,
reinventar-se, redescobrir-se e construir uma jornada única.
Essa transformação é parte do mundo do
trabalho. Por paradoxal que possa parecer, neste exato momento, estamos vendo
empresas tradicionais com muitas dificuldades, enquanto outras se constituem ou
se redesenham de forma muito competente, rumo ao sucesso. O mundo hoje tem um
vastíssimo leque de possibilidades e alternativas. Aqueles que tiverem
capacidade de se adaptar a essa nova realidade serão os líderes dos tempos que
estamos vislumbrando em tantos setores, basta que lhes ofereçamos as
oportunidades.
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