Estudo da OMS também
aponta para descoberta de tumores em estágio avançado como "herança"
da COVID-19; Consultas de rotina e exames periódicos são essenciais para a
descoberta precoce de tumores malignos, chave para a cura em mais de 90% dos
casos
Enquanto os olhos do mundo ainda seguem voltados para o combate ao Coronavírus,
em 2021, o Dia Internacional de Luta pela Saúde da Mulher, celebrado neste 28
de maio, serve também para reforçar a importância do diagnóstico precoce do
câncer, assim como a sua prevenção, que mesmo em tempos de Covid-19 devem ser
lembrados como as melhores ‘armas’ de combate à doença.
Um alerta especial se refere à incidência do câncer de mama, cuja ocorrência em
mulheres corresponde a 99% de todos os casos registrados mundialmente. A
preocupação é ainda justificada por dados do GLOBOCAN 2020, que alertam para a
necessidade de um olhar de lupa para o assunto. O estudo, divulgado em
fevereiro de 2021 pela Agência Internacional de Pesquisas sobre o Câncer (IARC,
da sigla em inglês) - entidade intergovernamental que faz parte da Organização
Mundial da Saúde (OMS) - e pela Sociedade Norte-Americana de Câncer (ACS),
mostra que cenário da oncologia está mudando, com aceleração em todo planeta
nos índices de incidência de neoplasias malignas e trazendo o câncer de mama
para o topo da lista entre os mais diagnosticados em todo o mundo, superando
pela primeira vez neste ranking os tumores de pulmão.
Para o oncologista Max Mano, líder de tumores de mama do Grupo Oncoclínicas,
este cenário é reflexo, em grande parte, de aspectos inerentes ao
desenvolvimento sócio-econômico e cultural dos diferentes países. "O
contínuo aumento global na incidência do câncer de mama se deve a um conjunto
de fatores que incluem mudanças no estilo de vida - tais como a epidemia de
obesidade, uso de hormônios, menarca precoce/menopausa tardia, menor (e mais
tardia) paridade/amamentação, maior consumo de álcool, sedentarismo -,
demográficas, relativas ao envelhecimento da população, e, possivelmente, uma
maior capacidade dos países ricos de fazerem diagnósticos", destaca.
Ele frisa que, apesar do câncer de mama ainda apresentar taxas menores de
letalidade em comparação aos tumores de pulmão, os dados apresentados pela OMS
acendem um sinal vermelho sobre a atenção às políticas públicas de incentivo à
detecção precoce da doença em países emergentes, caso do Brasil. Por aqui, o
câncer de mama é responsável por cerca de 30% de todos os casos da doença entre
o gênero feminino.
"Apesar da incidência crescente, em geral, a mortalidade por muitos tipos
de câncer, especialmente o de mama, vem diminuindo nos últimos anos. A má
notícia é que isso só tem ocorrido, ao menos de maneira consistente, nos
chamados países desenvolvidos. Por causa da ocorrência de diagnósticos em
estágio mais avançado e do menor acesso a tratamentos, a letalidade por câncer
é maior em países em desenvolvimento do que nos desenvolvidos, um fato cruel
que foi acertadamente captado pelo estudo GLOBOCAN 2020", aponta Max Mano.
Isso exigirá esforços contínuos no sentido de aumentar a taxa de cobertura da
mamografia de rastreamento populacional, assim como o nível de alerta das
mulheres para alterações na mama, requerendo atenção dos especialistas para que
o câncer de mama seja diagnosticado da forma mais precoce possível.
"O baixo investimento em medidas de prevenção e diagnóstico precoce e da
menor oferta de tratamentos oportunos e eficazes pode condenar os países
subdesenvolvidos e em desenvolvimento a anos de atraso nas políticas de combate
ao câncer em relação aos seus pares mais afortunados", diz o oncologista
da Oncoclínicas.
No Brasil, o câncer de mama responde por cerca de 67 mil novos diagnósticos de
câncer todos os anos, de acordo com o Instituto Nacional do Câncer (INCA). De
forma geral, a mamografia é o principal exame preventivo para identificação de
tumores de mama. Ela deve ser realizada anualmente por todas as mulheres acima
dos 40 anos e a decisão por adiar ou não esse exame só deve ser tomada mediante
o aconselhamento médico.
As chances de cura chegam a 95% ou mais quando o tumor é descoberto no início,
sendo o tratamento menos invasivo, o que melhora, em muito, a qualidade de vida
durante e após o tratamento da doença.
Covid-19 trará consequências na luta contra o Câncer
A descoberta tardia pelo atraso na realização de exames de rastreamento e a
falta de acesso a tratamentos, especialmente em países em desenvolvimento,
estão entre os aspectos ressaltados pela OMS como efeitos que afetam
diretamente os cuidados oncológicos. A organização informou que nas duas
últimas décadas o número total de pessoas com câncer quase dobrou, saltando de
10 milhões estimados em 2000 para 19.3 milhões em 2020.
As projeções indicam ainda que nos próximos anos há uma tendência de elevação
dos índices de detecção do câncer, chegando ao patamar de quase 50% a mais em
2040 em comparação ao panorama atual, quando o mundo deve então registrar algo
em torno de 28.4 milhões de casos de câncer. Isso significa que a cada 5
pessoas, uma terá câncer em alguma fase da vida. Nos países mais pobres, a
incidência da doença deve ter um crescimento superior a 80%.
O número de mortes por câncer, por sua vez, subiu de 6,2 milhões em 2000 para
10 milhões em 2020 - uma equação que aponta que a cada seis mortes no mundo uma
acontece em decorrência do câncer. E a tendência é que haja aumento nesse triste
ranking, já que a OMS também indica que a pandemia trará como consequência mais
casos de pacientes com câncer em estágio avançado por conta dos atrasos na
descoberta e tratamentos de tumores malignos.
Em 2020, primeiro ano dos protocolos contra o Novo Coronavírus, o Brasil, por
dia vez, teve uma grande queda na busca pelo diagnóstico. A mamografia de
rastreamento, exame indicado como parte da rotina de cuidados para mulheres a
partir de 40 anos, apresentou queda de 49,81%. Outros exames fundamentais para
a saúde da mulher, como o citopatológico cérvico vaginal (papanicolau), tanto
para diagnóstico, como para rastreamento de câncer do colo do útero, também
apresentaram queda: a redução foi de mais de 50%.
"Os reflexos do adiamento nos acompanhamentos médicos de rotina por medo
de exposição ao novo coronavírus podem a curto e médio prazos, de fato,
desencadear um aumento global nos índices de tumores descobertos em fase mais
avançada. Isso vai impactar na sobrevida dos pacientes oncológicos, como uma das
heranças perversas da pandemia para a saúde como um todo", afirma Max
Mano.
As biópsias também tiveram uma redução de 39,11% no Brasil, segundo o INCA,
quando comparados os meses de março a dezembro de 2019 e 2020. Em 2019 foram
realizados 737.804 desses procedimentos e, em 2020, um total de 449.275. As
maiores quedas ocorreram nos meses de abril (-63,3%) e maio (-62,6%), período
de pico da primeira onda de Covid no País e, de acordo com especialistas, a
diminuição das biópsias para diagnóstico de câncer repercutem de maneira grave
na mortalidade dos pacientes com câncer, já que muitas pessoas não estão sendo
diagnosticadas, nem tratadas durante a pandemia, o que permite que o tumor se
desenvolva.
O oncologista do Grupo Oncoclínicas, Max Mano, reforça que "o câncer não
espera". A condição faz parte do rol de doenças estabelecido pelo
Ministério da Saúde, cujo tratamento não pode ser considerado eletivo.
Atualmente, ainda de acordo com os dados do GLOBOCAN, mais de 1,5 milhão de
brasileiros têm tumores malignos, sendo que em 2020 foram diagnosticados
592.212 novos casos e registrados 259.949 óbitos em decorrência de neoplasias
malignas. Estimativas do Instituto Nacional do Câncer (INCA) indicam que são
esperados ao menos outros 625 mil diagnósticos de câncer até o final de 2021.
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