Uma pesquisa divulgada em março pela Equileap, organização que defende a igualdade de gênero no mercado de trabalho, mostrou o que as mulheres já sabem: grande parte das empresas falha em coibir o assédio sexual no ambiente de trabalho. O estudo, que analisou dados de 3.702 empresas de 23 países, revelou que menos da metade das companhias lida com o assédio sexual. A saída, segundo a entidade, passa pela criação de legislação que obrigue as empresas a agirem contra o assédio.
O entrevistador
forense e advogado especializado em assédio moral e sexual André Costa
diz que parte do problema está na subnotificação dos casos e afirma que alguns
caminhos que os empresários têm para descobrir e coibir o crime é por meio de
programas de compliance e da ação dos chamados entrevistadores forenses. “Esses são
os profissionais responsáveis por analisar suspeitas de irregularidades e
detectar casos de assédio sexual e moral, entre outras condutas, dentro das
companhias. Muitas vezes somos requisitados para investigar fraudes ou outras
condutas e acabamos descobrindo casos de assédio”, diz.
Costa
conta que, por meio de técnicas variadas, o entrevistador forense consegue
descobrir a verdade que muita gente não sabe como revelar. “Muitas
mulheres sentem vergonha por terem sido vítimas de assédio e tendem a, de
alguma forma, pensar que algo no seu comportamento contribuiu para aquele
evento. Também temem serem desacreditadas se apresentarem uma reclamação e, por
isso, acabam não denunciando”, afirma.
Estudo mostrou que menos da metade das
companhias lidam com o assédio sexual Freepik |
A
lei define como assédio sexual os atos de “constranger alguém com o intuito de
obter vantagem ou favorecimento sexual”. O crime é punido com pena de detenção
de um a dois anos. O especialista conta que, em muitos casos, é difícil
comprovar o assédio sexual e a entrevista forense é uma ferramenta
indispensável para a detecção do problema.
Pela natureza do crime, diz o especialista, o trabalho dos entrevistadores forenses é essencial para combater a prática nas empresas. “Abordagem nas suspeitas de assédio sexual tem que ser feita de forma empática, respeitosa, compreensiva e com sólidos conhecimento jurídicos para entender de que forma o caso aconteceu e como solucionar. É preciso ter certa sensibilidade porque envolve um conjunto emocional muito forte, é preciso ter muito cuidado com a vítima”, afirma.
Como identificar
O especialista diz que é possível perceber quando uma mulher está sendo
vítima de assédio sexual. Ele conta que a vítima dá indícios, mesmo discretos,
de que algo está errado. “Se a gente estiver atento e olhar para as pessoas,
consegue ver esses sinais. Sempre que uma mulher é vítima de assédio, ela luta
com todas as forças para não ficar sozinha com o assediador em ambientes da
empresa, happy hour e outras confraternizações. E quando ele passa por ela, ela
faz uma expressão de nojo, mesmo que discreta. Já descobri casos de assédio
sexual em empresas que me contrataram para investigar fraudes por uma simples
expressão de nojo, apresentada por uma mulher ao ser perguntada sobre um
colega, por exemplo”, diz.
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