Entenda como deve funcionar vacina por spray nasal em desenvolvimento por pesquisadores da Unifesp, USP e Incor
Imunizante que também tem sido
desenvolvido totalmente dentro do país será associado à indução de células T a
partir do uso de outros pedaços do vírus
Pouco mais de um ano após o início da
pandemia que tirou milhões de vidas pelo mundo, o esforço da ciência
possibilitou que ao menos oito vacinas desenvolvidas para combater a Covid-19
recebessem autorização para serem aplicadas na população mundial. Há, pelos
menos, outras 250 em desenvolvimento para poder unir-se às demais nessa missão
global de imunização, algumas inclusive sendo desenvolvidas integralmente
dentro do país. Uma dessas está sendo estudada numa parceria entre
pesquisadores da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), da Universidade
de São Paulo (USP), e do Instituto do Coração (InCor). O projeto contempla a
produção de uma vacina de aplicação diferenciada, em spray nasal, de baixo
custo, que estimule uma resposta imunológica mais potente ativando as células B
e T.
"Nossa meta é entregar uma vacina
100% brasileira, que induza a resposta imune à covid-19 por duas vias: com
anticorpos e com células T. De um modo geral, os anticorpos induzidos pelas
vacinas convencionais, como a da febre amarela ou sarampo, são neutralizantes,
ou seja, têm o papel de "encobrir" a superfície do vírus que ameaça o
organismo, impedindo sua entrada na célula hospedeira. Mas se algum vírus escapar
dessa "frente de defesa", consegue adentrar essa célula,
infectando-a. A partir desse momento, o anticorpo não consegue fazer mais nada.
Quando o vírus entra na célula, quem defende o organismo é a célula
"T", que pode tanto estimular a produção de anticorpos quanto, mais
importante após a invasão, "assassinar" as células invadidas",
explica Daniela Santoro, imunologista e docente da Escola Paulista de Medicina
da Universidade Federal de São Paulo (EPM/Unifesp), uma das pesquisadores
envolvidas no desenvolvimento da vacina.
Atuante no Laboratório de Vacinas
Experimentais (LaVEx) da Unifesp, onde desenvolve estudos sobre vacinas contra
vírus como o HIV, zika e chikungunya, Daniela destaca a importância desse
projeto, que está sendo custeado pelo Ministério da Ciência, Tecnologia e
Inovações (MCTIC) e pela Financiadora de Estudos e Projetos (Finep), num
momento em que os números de casos e óbitos não param de crescer no Brasil.
"A pesquisa abre um importante precedente para o desenvolvimento de tecnologia
em saúde no país, hoje dependente dos insumos importados para prosseguir com a
imunização da população. Trata-se de uma oportunidade de gerar conhecimento
para que, no futuro, o Brasil possa ter domínio ainda maior sobre cada etapa da
produção de uma vacina."
Composição com outros pedaços do vírus
Para o desenvolvimento da vacina, os
pesquisadores estão estudando a resposta imune dos pacientes que já contraíram
a Covid-19 a partir de suas amostras de sangue. "Uma parte do grupo
acompanhou a resposta imune dos anticorpos, e a outra parte estudou a resposta
imune celular", descreve Daniela.
Para desenvolver vacinas que estimulam
a produção de anticorpos, normalmente são mapeadas as regiões do
micro-organismo determinantes para o início da infecção. No coronavírus, o
componente mais crítico do vírus é seu invólucro, composto pela proteína Spike,
que se liga à Enzima Conversora da Angiotensina II (ACE II) das células alvo.
"Há um pedaço dessa proteína, específico, que se encaixa nos receptores
das células pulmonares, por exemplo. Esse pedacinho é alvo de anticorpos
neutralizantes das vacinas que foram aprovadas e estão em uso (Pfizer,
Astrazeneca etc). A vacina que estamos desenvolvendo terá esse mecanismo
(anticorpos) associado à indução de células T, a partir do uso de outros
pedaços do vírus, chamados epítopos", explica a pesquisadora.
O projeto está na fase de conclusão dos
ensaios pré-clínicos, com o imunizante já prevendo proteção contra as novas
variantes do vírus em circulação: a de Manaus,assim como a variante africana e
a inglesa. Caso seja aprovado, o projeto entra para a etapa de ensaios clínicos
de fase 1 e 2, o que precisa ser avaliado e autorizado pela Agência Nacional de
Vigilância Sanitária (Anvisa).
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